Há enólogos e produtores que são bons no discurso mas ruins de vinho e existem aqueles que são acanhados no papo mas entregam um belíssimo caldo na garrafa. O enólogo e também produtor português Luis Pato é daquele tipo raro que soma duas virtudes: é sedutor na conversa e produz vinhos saborosos e com estilo.
Bairrada
O estilo Luis Pato está marcado pelo manejo de uma variedade de uva da Bairrada chamada baga. Por muito tempo os vinhos desta região portuguesa eram extremamente rústicos, davam aquela travada na língua e desciam rasgando pela goela. Sem abandonar a uva representativa da região Luis Pato amaciou o que a natureza oferecia em estado bruto e fez história. Quem quiser fazer a prova da garrafa pode começar experimentado sua linha mais básica, Luis Pato Baga 2005 (R$ 50,00), subir um degrau e saborear um Vinhas Velhas Tinto 2005 (R$ 107,00), ou meter mais ainda a mão no bolso e saborear um Vinha Pan 2005 (R$ 177,00). As provas vão falar mais sobre o estilo Luis Pato do que uma descrição barroca e pessoal de seu vinho. Mas o registro está sempre lá, um tinto com sabor local, que pede sempre outra taça cheia e que vai aumentando de complexidade e texturas à medida que se sobe na pirâmide de qualidade de seus rótulos.
Aos que forem abduzidos pela baga, e por seu adestrador, há ainda uma experiência mais rica (e cara, como de costume): o Pé Franco 2005 (R$ 703,00!). São pequenas parcelas de vinhedos que, como o nome indica, não usam aqueles enxertos que evitam a praga das parreiras, a filoxera, o que se traduz num tinto de uma pureza rara e instigante, daquele tipo que provoca um “uau” dos conhecedores (além de alguns segundos de nariz enfiado na taça) e inquietação nos neófitos que percebem algo diferente na taça, mas não conseguem identificar. São aquelas camadas de aromas e sabores mais encontradas em vinhos da Borgonha, na França, ou em Barolos italianos. “A baga tem capacidade de envelhecer de um Barolo”, garante o enólogo. O Pé Franco é o testamento em vida de Luis Pato.
Há ainda o capítulo dos espumantes, o rosado elaborado pela uva touriga nacional é um sucesso de fácil assimilação e muito prazer. O Maria Gomes Brut (R$ 70,00), provado recentemente, tem um frescor de boca que é resultado da antecipação da colheita das uvas “o grande problema dos espumantes portugueses é que eles eram pesados”, explica Luis Pato. A baga bate continência em 10% da composição (maria gomes é o nome da uva protagonista), e mostra sua presença com um fim de boca mais prolongado. E se você, como eu, gosta de brancos, o Maria Gomes 2008 (R$ 40,00) é um baita aperitivo ou vinho de entrada.
Douro
O rei da Bairrada, também faz das suas no Douro, mais ao norte de Portugal. “Há aqueles que são flying winemakers, eu sou um drive winemaker, pois vou de carro”, ironiza. Nesta região, famosa pelos vinhos do Porto, ele maneja os vinhedos da Quinta da Pôpa. O resultado é sublime. O Quinta da Pôpa Vinhas Velhas 2007 (R$ 213,00), como o nome indica, é de vinhedos mais antigos, de mais de 60 anos.
Vinhas velhas? Isso é bom? É. Explica-se: quanto mais antigas as parreiras mais profundas são suas raízes e a extração de componentes e minerais que ela traz à uva; menor também o rendimento por cacho, o que concentra ainda mais os componentes, que se traduz em sabores mais ricos e aromas mais complexos, daí a razão de os produtores anunciarem nos rótulos a idade das vinhas.
O grande barato do Douro, porém, é a complexidade que o conjunto das uvas proporciona e entrega ao vinho. “O Douro é carne sem osso”, diz Luis Pato. Elas estão lá misturadas na garrafa da Quinta do Popa – touriga nacional, touriga franca, tinta barroca e tinta roriz –, e sem abusar da madeira, outra característica do estilo do enólogo “vender madeira no lugar do vinho custa no bolso do consumidor”, explica. Perfumado, mas sem exageros, tem final longo, como suas raízes – o vinho fica rodando no paladar e na lembrança. “Muitas vezes tiro um pouco de aroma, pois quero enviar meu vinho para avaliação da Jancis Robinson (crítica inglesa que prefere a fineza ao exagero) e não para o Robert Parker (poderoso crítico americano que dá mais valor à extração dos cheiros e do suco da uva fermentado)”, explica. Confesso que pedi mais um gole na taça deste Douro repleto de sabores. Melhor indicador de aprovação, não há.
“Baidouro”
Aqui o lado inovador de Luis Pato mostra seu serviço. Se há uva boa no Douro e na Bairrada, por que não soldar o melhor de uma região com o excelente da outra? O TRePA 2007 (R$ 213,00) é a resposta. 50% de baga dos mesmos vinhedos da Vinha Pan, 50% de tinta roriz do Douro. Aí é tirar as conclusões. Características de um e de outro saltando aqui e ali e um conjunto pra lá de harmônico, fácil de beber e com capacidade de envelhecer na garrafa. Um sonho antigo de Luis Pato: “Um Douro com um toque de Bairrada”, diz.
Futuro
No trato pessoal o estilo Luis Pato se mostra na capacidade de ser didático sem aborrecer, moderno sem desprezar a tradição e marqueteiro sem perder a classe ou a autenticidade. Afinal um homem que carimba o nome e sobrenome no rótulo tem de garantir qualidade e bater tambor, não é? No campo estratégico, ele pretende difundir a touriga nacional como uva símbolo de Portugal. Portugal tem uvas nativas que o mundo, principalmente o mercado americano, não conhece. “Podemos tirar vantagem de um problema”, diz. Para Luis Pato o ciclo do mercado consumidor de vinho agora retoma uma busca pela originalidade, pela diferenciação, atrás de um tinto e um branco mais gastronômicos, que vai melhor com a comida do que numa prova de degustação. Aí que ele aposta as fichas das castas portuguesas.
O enólogo inova também seguindo o conselho dos mais jovens. “Minha filha (Filipa Pato, também enóloga. Tente conhecer a linha de seus vinhos de belíssimo custo benefício chamada Ensaios) me alertou que eu não estava fazendo vinhos para a geração dela e então eu amaciei um pouco mais os tintos” . Inova também nos vinhedos. “Os acertos muitas vezes são produto do acaso”, confidencia. Por exemplo, ele transformou uma técnica – quando o enólogo decide descartar alguns cachos de uvas para concentrar sabor em outras – em vantagem produtiva. Ao colher algumas uvas em agosto, quando ainda estão verdes, encontrou o ponto certo para seus espumantes (“em Champagne as uvas são verdes”). De quebra, fortalece os cachos remanescentes que são colhidos um mês depois e usados para vinificar outros tipos de vinho. O resultado é que ele extrai de uma mesma parreira, em duas colheitas (agosto e setembro), uvas que serão usadas para elaborar um espumante rosé, um vinho doce rosado, um tinto seco e um tinto doce. É de dar inveja em qualquer consultor especializado em produtividade.
Futuro? Trabalhar vinhos de pequenas tiragens, testar novas técnicas, conquistar os jovens. Ele tenta isso com seus vinhos moleculares, mais docinhos e menos alcoólicos (Abafado Molecular Branco e Tinto R$ 102,00). Sei não, jovem gosta mesmo é de álcool… Aí se revela o marqueteiro: “O sonho é o que manda na vida”.
Importadora: Mistral
Sou um apreciador de vinhos,principalmente os portugueses,já que sou descendente direto.Creio que com a chegada de vinhos desta qualidade o consumidor brasileiro ficará bem servido.Parabéns ao Sr. Luis Pato!
Olá Beto. Sou apreciador de vinhos porém nunca fiz curso e gostei muito do jeito que vc aborda o vinho do Luiz Pato, que por sinal nunca degustei até porque não o conhecia. Agora vou procurar e experimentar. Gostaria que vc me dissesse acerca de vinhos baratos. Temos aqui em Rib Preto, no Wal Mart vinhos a menos de dez reais, daqueles que nem mostram a data ou ano da colheita das uvas. Um deles é o GÓES (seco) e o outro que tomei tb baratão é o CONTRY WINE que tem apresentação em garrafa e rótulo vistoso. Este mais encorpado que o Góes. Tem um outro que e´da mesma lina de marca Mioranza. Aí adquiri um Santa Camila Red Wine, tinto de Mendoza Argentina. Conquanto bem melhor que os outros, apresentava um paladar com gosto tipo ferrugem que eu sinceramente odeio de todo o coração (esse gosto de ferrugem) seria do anidrido sulfuroso? Todos têm anidrido ou enxogre não é?? Uma particularidade: Aqueles baratos que citei, todos tinham grau alcoólico 10 por cento, enquanto que a maioria dos vinhos, inclusive o Periquita têm 13. Será porque, sendo baratos não ficam tanto tempo em fermentação e por isto têm menos álcool (o que para mim é uma ótima porque não gosto muito de vinho que vc degusta e sente aquele puta gosto de álcoo) na verdade gosto mesmo é do vinho tinto que, quando vc cheira, sente desde logo o aroma da uva, coisa que geralmente nunca acontece com vinhos mais festejados. Por que isto acontece? Agora outra pergunta: Tenho um vinho aqui envelhecendo há mais de quatro anos, italiano, de um litro, de m arca SANLEO vc conhece? ele está envelhecendo deste 30 de abril de 2006. vai completar agora quatro anos. Será que compensa? Está escrito no rótulo BORGO SANLEO ROSSO VINO DA TAVOLA VINHO TINTO SECO. VIA BORGOLECCO
GAMBELLARA ITALIA. Desculpe-me se falei demais. Gostaria que vc me indicasse dos vinhos assim, não muito caros, alguns degustáveis, de boa safra, se é que existem. Gde abraço e aguardo resposta no meu e-mail se for possível e aqui tbem.
ANTONIO GIORDANO
[email protected]
Beto, concordo em parte com a escalação dos vinhos, porém aqui no Brasil temos bons vinhos, de vários tipos e mais variadas colheitas de uvas, que são normalmente usadas em recepções, principalmente de estrangeiros – europeus.
Abraços.
Caro João Rajão
Claro que temos tintos, brancos e espumantes interessantes. E a qualidade tem melhorado a cada ano.
Mas o post tinha o objetivo de narrar as experiências dos vinhos deste produtor português importante.
Em breve este blog tratará dos vinhos brasileiros, com a aproximação da Expovinis, a grande feira de vinhos que acontece em São Paulo. Aguarde
abraços e obrigado pela participação
vinhossss são otimos
Gostaria de saber o preço do vinho Dão 2008 comprei ele uma das vezes em Portugal, ele é revestido de uma estopa
Chaves Velhas 1998