A primeira reação ao anúncio do nome do novo papa Francisco, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, veio acompanhado de um muxoxo coletivo no Brasil. Tudo bem o papa não ser brasileiro, mas precisava ser argentino?
A segunda reação, claro, foi de curiosidade a respeito da história deste arcebispo de Buenos Aires, de 76 anos, o primeiro papa jesuíta e latino-americano. Francisco nasceu numa família simples na capital argentina, filho de um trabalhador ferroviário de origem piemontesa e de uma dona de casa. Muito já se noticiou por aí de seus hábitos modestos, como de andar de transporte publico e cozinhar suas refeições. Leia perfil de Bergoglio publicado pelo iG. A propósito, seu verbete foi rapidamente criado no Wikipedia.
Sob este ponto de vista parece um chefe da Igreja Católica com uma dose de simplicidade e humor, demonstrado já no seu primeiro pronunciamento: “Parece que meus irmãos cardeais foram quase buscar (um novo papa) no fim do mundo.”. Se Bento XVI tinha um certo excesso de acidez, o papa Francisco parece ter um tanino mais macio…
O vinho está ligado, desde a fundação do Cristianismo, aos ritos e à história da Igreja Católica (saiba mais no post Vinho Canônico). Aos jesuítas também cabe uma importante contribuição na história da viticultura da América do Sul, tanto no Brasil como na Argentina. O cruzamento destas informações, de alguma forma, levou a uma associação imediata da uva símbolo da Argentina, a malbec, ao nome de Bergoglio entre os enófilos. Muitos católicos ou simpatizantes postaram em suas contas no twitter, facebook e google+ que brindariam o anúncio de Francisco com uma garrafa desta que é a segunda uva mais plantada no território argentino. Enfim, ficou forte a associação entre o papa argentino Francisco e a malbec.
Este Blog do Vinho, no entanto, se permite a outra associação. Dada a origem italiana do pai do novo papa e sua ordem jesuíta, que introduziu o cultivo das videiras no país, o vinho que melhor representaria Franciso é o da uva bonarda, originalmente conhecida como bonarda piemontese.
A bonarda é a segunda variedade tinta mais cultivada e uma das mais tradicionais do país (ver tabela abaixo). Antes da invasão da malbec, era uma uva abundante e destinada a produzir tintos mais simples, de consumo local. A bonarda tem cor escura, bom corpo e fruta presente e nos exemplares mais simples deve ser consumido jovem. Quando bem tratada desde o cultivo até a vinificação, e envelhecida em barricas de carvalho, mostra potência e maciez. É interessante quando usada em cortes.
Principais uvas tintas produzidas na Argentina
Malbec 34% – 31.047 hectares cultivados
Bonarda 18%– 18.127 hectares cultivados
Cabernet Sauvignon 17% – 16.371 hectares cultivados
(fonte: Wines of Argentina)
Se você nunca provou um vinho da uva bonarda, pode ser esta uma boa desculpa. Não se tratam de vinhos de excelência, repletos de medalhas, com indicações exultantes da crítica especializada, apesar de ter alguns exemplares de alto calibre. Por isso mesmo, representam melhor um papa de origem jesuíta com mais humildade e menos pompa.
O Blog do Vinho traz abaixo uma seleção de alguns rótulos que tratam bem a uva, das garrafas mais simples aos mais elaborados.
Produtor: Alamos (Catena Zapata)
Região: Mendoza
R$ 38,00
Importadora: Mistral
Porta de entrada para conhecer a variedade. Simples mas bem feito. Catena sempre confiável.
La Posta – Armando Bonarda 2010
Produtor: La Posta
Região: Mendoza
R$ 48,00
Importadora: Vinci
Bem cotada entre os críticos, e ainda com um bom preço, traz mais fruta madura
Navarro Correas Coleccion Privada Bonarda
Produtor: Navarro Correas
Região: Mendoza
R$ 51,00
Importadora: Interfood
Boa futa, bons taninos, outro belo exemplar da bonarda.
Produtor: Zuccardi
Região: Mendoza
R$ 58,00
Importador: Ravin
O sempre simpático Zuccardi acertou em cheio neste Bonarda macio e cheio de fruta, valorizado pela barrica.
Crios de Susana Balbo Syrah-Bonarda 2008
Produtor: Doninio del Plata
Região: Luján de Cuyo, Vale de Uco
Uvas: syrah 50% e bonarda 50%
R$ 42,00
Importadora: Cantu
Único exemplar da lista que não é um bonarda 100%. Mas merece uma citação pois a eficiente enóloga Susana Balbo construiu um belo estilo de vinho em que a picante syrah e potente bonarda de mais de 36 anos criam uma boa combinação.
Las Perdices Reserva Bonarda 2009
Produtor: Finca las Perdices
Região: Mendoza
R$ 85,00
Importador: Bodegas
Um pouco mais caro, mas com uma bela evolução no carvalho francês. É saboroso na entrada e desce macio.
Produtor: Nieto Senetiner
Região: Luján de Cuyo, Mendoza
R$ 100,00
Importador: Casa Flora
Se você quer conhecer o potencial da bonarda, este é o vinho. Tem bom corpo, personalidade, intensidade e variedade de aromas. Paga-se um preço por isso, mas na minha opinião é o melhor bonarda que já passou pela minha taça.
muitos bons esse vinho ja tomei várias veses principalmente Alamos excelente vinho …
Isso aí, Fabio. É da série bom e barato.
abraços
Beto Gerosa
Caro Beto, a Bonarda realmente me surpreendeu e eu acredito que é uma excelente opção aos Malbecs, que sobem de preço assustadoramente no Brasil, sem razão aparente.
Tenho provado alguns e da lista acima já provei alguns, todos muito bons.
Comentei algumas outras boas opções em http://bebadovinho.blogspot.com
Parabéns pelo blog!
Um abraço.
Felipe.
Caro Felipe
Bonarda é de fato uma boa alternativa. Visitei seu blog e Los Perdices está em destaque também.
Parabéns também pelo seu espaço.
abraços
Beto Gerosa
Oi, Gerosa
Só para citar mais alguns exemplares, gosto muito do Chakana e do Trapiche Broquel feitos com a bonarda. Acho uma uva deliciosa, com um amargor e algo de defumado que me agradam muito.
Parabéns por mais um ótimo texto.
Obrigado pela contribuição, Paulo
Como comentei outro dia no post “O gosto dos críticos de vinho combina com o seu?”
As notas nas redes sociais, a indicação via aplicativos e banco de dados e a crítica dos usuários bebedores de vinho estão ajudando a construir uma avaliação coletiva, um ranking formado pela opinião compartilhada.
São garrafas que eu conheço, mas como nunca provei, não achei honesto recomendar. Vou seguir sua sugestão.
abraços
ola gerosa nao conhecia esse vinho apesar de morar tao perto da argentina( cascavel PR) vou dia desses e vou comprar pra apreciar.obrigado da dica.
Caro Beto, interessante a abordagem que você fez em relação aos vinhos e o novo Papa. Afinal, apesar da pompa que muitos atribuem ao vinho, nada melhor do que aquela taça diária para encerrar um dia de trabalho estafante. Mas não posso deixar de mencionar que tive o privilégio de tomar o Bonarda Limited Edition 2007 (ganhei de um grande amigo, no meu aniversário), e achei realmente um excelente exemplar: um vinho que foi se abrindo com o tempo, revelando sabores diferentes, um vinho com estrutura e gostoso de se beber , puro prazer!!
Grande abraço, Paulo Milanesio
Se investigares bem verás que não poderá ser um BONARDA argentino, pois esta uva no país vizinho é na verdade a CORBEAU. Algumas empresas, nas fichas técnicas, informam isto, mas no rótulo não. Portanto, só se for um bonarda italiano e atenção, também, deverá ter cuidado, pois há uma DOC que a uva é a CRETINA, ops, CROATINA. O Papa tem que ser verdadeiro, portanto, tais vinhos não podem fazer parte da dieta ou da missa.
é, como disse o Werner, bornarda não pode ser.. pela descrição deveria ser una “Criolla” de algum “vino grueso” hehehe Eu é que to fora de tomar este….
Também, que importância tem que vinho o Papa bebe?
De qualquer forma um abraço!
Caro Beto, obrigado pela dica , vou provar esta uva .
Abraço
Paulo Coelho jr.
Caro Beto,
Recomendo acrescentar a sua lista um outro exemplar da uva Bonarda, Serrera da Vinicula Bodega, tambem com ótima relacao custo x beneficio.