Diz-se que o vinho sempre reflete um pouco a personalidade de seu criador. Não sei se o conceito vale para todo mundo, mas certamente se encaixa perfeitamente na cativante figura do italiano Angelo Gaja. Este piemontês de 74 anos, queixo largo e olhos azuis profundos transmite a mesma elegância e eloquência dos vinhos que produz. São eles, pela vinícola Gaja, no Piemonte (Barbaresco, Sorí San Lorenzo, Sorí Tildin, Costa Russi), os Barolos, em Gromis, na região de La Morra (Sperss e Conteisa); na vinícola Pieve Santa Restituta, em Brunello di Montalcino (Sugarille e Rennina) e em Bolgheri (Ca’Marcanda Promis e Magari), ambos na Toscana.
Leia também: Galvão Bueno também torce para a Itália. Pode isso, Arnaldo?
Angelo Gaja é um dos grandes porta-vozes do vinho de alta qualidade da Itália, daquilo que ele chama de vinhos de artesãos, em que o produtor consegue controlar e definir os níveis de excelência de seu caldo. Nos vinhos de Gaja os principais pilares que definem seu estilo são: a origem do lugar e a elegância. Os vinhos de Gaja falam por si, e Gaja fala pelos cotovelos. Mas ele tem o que falar, e os vinhos têm o que mostrar. Ambos são tagarelas. Uma conversa boa de escutar.
E o que fala Angelo Gaja? Ele fala, basicamente, de paixão. Da sua paixão pela viticultura, pela uva nativa nebbiolo, pela história de sua família, por sua própria trajetória, e por fim sua paixão pelo Barbaresco, o rótulo que lhe trouxe fama e reconhecimento de público e crítica.
Sua paixão pela viticultura se exprime no cuidado que um artesão deve ter com o vinhedo, de conhecê-lo, andar por ele, e saber escolher a melhor uva para aquele pedaço de terra e de sempre privilegiar a qualidade em detrimento da quantidade.
Sua paixão pela nebbiolo se traduz na capacidade de esta uva produzir dois clássicos da sofisticação: o Barolo (chamado de rei dos vinhos, com mais estrutura) e o Barbaresco (em oposição, a rainha, com mais elegância).
Sua paixão pela família se volta para o passado e para o futuro. Aos ensinamentos de sua avó, Clotilde Rey, fundamental em sua formação: “Você deve se manter um artesão, como seu pai e seu avô” e de seu pai Giovanni: “Aqueles que sabem beber, sabem viver “ e do exemplos que procura deixar para seus filhos, que são a quinta geração a tomar conta da empresa fundada em 1859.
Sua paixão por sua trajetória é legítima, e ele a relata sempre que surge uma oportunidade, com o mesmo entusiasmo de sempre, em maior ou menor detalhe, dependendo da audiência. Pois seus vinhos têm história e ele viveu grande parte dela, quando revolucionou o vinho de Barbaresco aplicando técnicas que hoje são comuns a outras vinícolas, mas foram transformadoras na década de 1970. São elas: a redução de produção de uvas para obter maior qualidade da fruta e maior teor de açúcar, a higiene na cantina e principalmente o uso de barricas pequenas francesas, junto com as tradicionais barricas grandes da região para amaciar e refinar a uva nebiollo.
Leia também: Sob o sol da Toscana. Uma visitia à nova vinícola Antinori
Sua paixão pelo Barbaresco, é dada pela capacidade que um vinho tem de exprimir toda sua riqueza de sabores, origem, de vencer o tempo e envelhecer com classe. De oferecer um casamento perfeito com a comida, a maior contribuição do vinho italiano à humanidade. O Barbaresco é o vinho ícone de Gaja, sempre presente naquelas listas dos vinhos que você deve provar antes de morrer, ou melhor, dos vinhos que você precisa provar para celebrar a vida! Não é um vinho fácil, muito menos barato. Mas pode proporcionar uma experiência gustativa maravilhosa.
Para Angelo Gaja é simples assim. “Secondo me (secondo me é o fôlego que Gaja toma entre uma ideia e outra), a paixão é fundamental, sem paixão não se faz nada.” Nem tão simples assim, mas verdadeiro.
- SERVIÇO: Os vinhos de Angelo Gaja são importados no Brasil pela Mistral
- Publicado originalmente em março de 2014