Então você quer beber um vinho francês e na hora de escolher um rótulo fica dividido entre deixar de pagar a mensalidade escolar do seu filho e gastar a grana comprando um premiado Bordeaux, um elegante Borgonha, um clássico Champagne ou acaba se arriscando num rótulo genérico de supermercado mais barato e fica com aquela impressão que vinho da terra do Asterix é só para poucos mesmo. Decepção.
Assim como a França vitivinícola não se resume a estas três regiões clássicas, os valores não precisam ser tanto ao céu nem tanto à terra. Há vinhos de boa qualidade e preços médio de várias regiões da França que chegam aqui no Brasil também. E são agradáveis, com alguma tipicidade, mais despretensiosos, nem por isso mal cuidados.
O próprio governo francês trabalha neste sentido. O escritório da embaixada francesa, através da agência Business France, montou um estande na última ExpoVinis cuja estratégia era mostrar ao mercado que grande parte da produção do país é feita para um consumo do dia a dia, sem protocolo, mas mantendo qualidade. E apresentou rótulos de diversas regiões. O lema era: “Vinhos franceses: não precisa complicar. Basta amar!”
Foi nesta pegada que segui para uma degustação de tintos e brancos da Domaines Paul Mas, da região do Languedoc, Sul da França, dia desses. Se você nunca ouviu falar do Paul Mas provavelmente um de seus vinhos já deve ter chamado sua atenção: Arrogant Frog. Se não pelo vinho, pelo menos pelas simpáticas figuras aí de baixo.
E foi mirando o sapo gabola que imaginei que iria conduzir este texto. Mas este negócio de pensar o texto antes dos fatos costuma dar errado. Outro vinho, de preço nada arrogante, no entanto, me chamou mais a atenção.
Paul Mas
Mas antes do vinho, um pedágio: a apresentação da vinícola e seu projeto. A Domaine Paul Mas não é um empreendimento qualquer, não: são nove diferentes vinhedos cobrindo toda a extensa região de Languedoc, 478 hectares de vinhedos próprios (92 biodinâmicos), 1285 hectares de vinhedos de parceiros sob contrato, mais de 30 variedades de uvas plantas, 8 enólogos, 130 empregados, mais de 2 milhões de caixas de vinho produzidas e exportadas para 58 países nos 5 continentes. O conceito: produzir vinhos do Velho Mundo com a Filosofia do Novo Mundo, ou como está descrito no site da empresa “ O segredo da qualidade de nossas uvas e nossos vinhos está no fato de que trabalhamos com o espírito de uma pequena vinícola mas com a operação em escala de uma vinícola do Novo Mundo”.
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Ah, uma historinha sobre o rótulo do Arrogant Frog. Como se sabe os franceses não têm a fama de serem as pessoas mais modestas e simpáticas deste planeta. Por conta desta característica que os identifica, seus vizinhos e eternos rivais ingleses costumam tratá-los como batráquios. Juntando o fato de que na época de seu lançamento os Estados Unidos estavam boicotando os produtos franceses já que o país se recusou a aderir à Guerra do Iraque, a ideia de responder com humor a situação revelou-se uma baita ferramenta de marketing. Daí surgiu a linha Arrogant Frog e seu rótulo chamativo, e lá se vão 10 anos.
Paul Mas Carignan Vieilles Vignes 2013.
Então estou eu na tal degustação na esperança de juntar minha ideia de explorar o sapo num texto e recomendá-lo aos leitores. E topei com um vinho muito mais bacana para recomendar: o Paul Mas Carignan Vielles Vignes 2013. É dele que falo abaixo.
Paul Mas, Carignan Vieilles Vignes 2013
Produtor: Chateau Paul Mas
Região: Languedoc – Vale do Hérault
Uva: 100% carignan
Preço: R$ 79,00(no site da importadora Decanter está em promoção por R$ 67,00)
E voilá! Pelo mesmo preço de um Arrogant Frog acho que tem mais vinho nesta garrafa de 100% carignan de vinhas de mais de 50 anos. O bichão tem boa concentração, um corpo médio, taninos suavizados pelos seis meses de barricas americanas (20% novas). Tem um aroma mais doce, com traços da passagem pela barrica, fruta negra madura e um toque terroso delicioso. Foi bem com o confit de pato, retratado abaixo.
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Ficou curioso pelos sapos topetudos, né? Muita gente já conhece, mas vamos a eles: dos dois Arrogant Frog que provei, o Syrah-Viognier 2013 (91% syrah de vinhas de 20 a 30 anos e 9% viognier – R$ 71,50) e Reserve IGP 2013 (um típico GSM: grenache, 30%, syrah, 45%, e mourvèdre, 25% – R$ 79,00), acho o segundo mais típico de uma região mediterrânea, mais gostoso de tomar e gastronômico, com um toque nítido de especiarias e notas defumadas, cai muito bem com uma comida de bistrô, por exemplo. Há uma linha relativamente grande do Arrogant Frog no mercado brasileiro. Entre eles os divertidos tutti-frutti, rouge, rosé e branco destinado ao público mais jovem. Descompromissados, resolvem uma festa, uma refeição sem grandes pretensões, mas pelo mesmo o preço (ou até menor, como a atual oferta), o Paul Mas Carignan Vieilles Vignes dá mais prazer.
Publicado originalmente em abril de 2015