Um vinho com história se conta através da história deste vinho. Parece um pouco óbvio, e é até fácil de demonstrar na teoria. Mas é mais difícil de provar na prática. A gigante chilena Concha y Toro, craque no marketing de seus rótulos, resolveu fazer a prova dos noves com o seu vinho ícone: o Don Melchor, e montou uma edição limitada com uma caixa com a seleção de seis safras representativas do seu tinto top de gama: 1988, 1993 (sob responsabilidade do enólogo Goetz von Gersdorff), 1999, 2001, 2005 e 2007 (sob a batuta de Enrique Tirado). São apenas 50 caixas distribuídas em cinco mercados: França, Estados Unidos, China, Chile e Brasil. Ao Brasil, um dos três principais mercados do Don Melchor, foram reservadas 12 caixas. Degustar história, no entanto, tem seu preço: R$ 5.000,00 cada caixa.
O enólogo Enrique Tirado, responsável desde 1997 por este monstro sagrado do vinho chileno, é o atual embaixador do Don Melchor e veio apresentar e comentar pessoalmente estas safras no Brasil. Mesmo que você nunca tenha provado este rótulo, certamente já ouviu falar. Por aqui o supercabernet andino tem uma legião de admiradores conquistados ao longo dos anos. São consumidores com algum conhecimento de vinho e com uma certa grana para gastar. O preço médio de uma garrafa de um Don Melchor da última safra, a 2009, sai por volta do 410 reais.
Enrique Tirado, além de manter a qualidade dos caldos que elabora, tem outra qualidade rara na fogueira das vaidades dos enólogos que se apresentam por aqui: ele jamais assume sozinho a autoria do vinho. Num mundo do “eu decidi isso, eu fiz aquilo”, Tirado conjuga na terceira pessoa – e produz um vinho de primeira. Segundo o enólogo, o Don Melchor tem uma equipe específica na Concha y Toro para cuidar do vinhedo e da adega. “A cada nova safra é um desafio manter a melhor fruta e manter a qualidade do Don Melchor”, explica Tirado. “O que procuramos sempre é a expressão do terroir, e não alguma técnica nova que possa aportar ao sabor do vinho algo que ele não tenha na sua origem”, completa.
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O Don Melchor é uma mescla de cortes da mesma uva cabernet sauvignon, gerado em diferentes parcelas de um mesmo vinhedo de Puente Alto, no Vale do Maipo, ao sul da capital Santiago, aos pés da Cordilheira dos Andes. Cada uma das sete parcelas contribui com algum elemento para o vinho: mais ou menos fruta vermelha, negra, especiarias, acidez taninos macios, suaves, etc. Os127 hectares de vinhedos têm em média 28 anos de idade e além do predomínio da cabernet sauvignon, a espinha dorsal do Don Melchor, também há espaço para uma pequena parcela da cabernet franc e da merlot, que eventualmente participam da composição do Don Melchor, mas em quantidades reduzidas.
Antes de chegar às prateleiras, o Don Melchor fica estagiando de 12 a 14 meses em barricas francesas de primeiro uso (70%) e segundo uso (30%). Depois ainda fica descansando mais um ano e meio na garrafa.
Uma prova vertical, isto é, o mesmo vinho de safras diferentes, é sempre uma experiência sensorial e didática sublime. Ela mostra a evolução do vinho, traduz os efeitos do clima de cada ano no resultado do caldo e a mão do enólogo na condução do resultado final.
Tive o privilégio de provar as seis safras que definem as três décadas do Don Melchor, que teve no total 23 rótulos lançados no mercado até agora. São elas que compõem esta caixa comemorativa. Três décadas não de vinhos, mas vinhos de três décadas diferentes,é bom explicar. Afinal a primeira safra é de 1987, mas como já disse aqui os caras são bons de marketing; o importante é colocar o passado em evidêndia para ajudar a vender o presente, e perpetuar o futuro.
Aqui vão minhas impressões:
A safra de 1988, a mais velhinha de todas, está inteiraça. Uma boa acidez e taninos ainda presentes asseguram sua sobrevivência por mais algum tempo. É precisa apreciar vinhos mais evoluídos, em que aquela fruta ampla é substituída por elementos mais terrosos, um toque de vermute, outro um pouco trufado, aquelas sensações do vinho do porto, um pouco mais contemplativo. Em 1993 a evolução também está presente, misturando os aromas de evolução a uma fruta madura, confitada, que permance no final longo que o vinho proporciona. É complexo e fino, um toque amentolado. Agrada muito, meu segundo preferido. 1999 para mim é a melhor safra da caixa. Enrique Tirado conta que havia uma certa desconfiança da evolução deste ano (apenas ele apostava que se transformaria em um grande vinho), mas a cada ano que passa o caldo se revela mais importante. Ele tem aquilo que os especialistas chamam de aromas terciários (fruto da evolução na garrafa) bem nítidos: couro, caixa de charuto, terra molhada, uma geleia de frutas sensacional e um final que te acompanha por alguns segundos preciosos. Daquele tipo que permite fungadas no vinho quando dele só restou aquele fundinho na taça. Mistura a satisfação de já ter provado o caldo com a permanência dos aromas na taça e uma vontade de repetir a experiência. Fantástica prova da capacidade de evolução de um vinho chileno, da potencialidade da cabernet sauvignon do Chile. Bravo! O enólogo Enrique Tirado enalteceu a elegância da garrafa de 2001, também sua cria, mas foi a que menos me agradou, me pareceu um tinto mais austero, sem as evoluções dos seus colegas veteranos e nem a fruta soberba dos seus parceiros mais novos. Depois de um tempo notas bem reconhecíveis de chocolate invadiram a taça, o que mereceu um novo gole. 2005 é um grande vinho, tem um ataque mais doce, potência, gordo, as frutas em compota, bons taninos, macio, maduro, um vinho pronto e que merece aguardar também para acompanhar sua evolução. Dos mais novos foi meu preferido. Por fim 2007. Aí é preciso uma observação final: se a degustação horizontal permite uma avaliação cronológica do vinho, acaba por vezes prejudicando as safras mais recentes, que se provadas em separado iriam agradar também, até por sua jovialidade, pela fruta bem expressiva, doce, um vinho macio e menos complicado, mas de muita presença na boca. Quando comparadas às safras anteriores perde um pouco o seu brilho, pois não se encontra ali as benesses (quando tudo vai bem) do tempo. Enfim, 2007 é uma delícia de vinho pronto; parece que tem um potencial de guarda que vai deixá-lo mais bacana ainda.
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Tenho em casa os 2001, o excelente 2005 e 2007. O lançamento desta caixa vertical não justifica o preço. Como bem observou uma garrafa 2007 pode ser adquirida por algo em torno de r$400,00. São bons vinhos, mas prefiro o Clos Apalta ou o Carmin de Peumo.
ótima reportagem
Gostei do blog de vcs, vou compartilhar um artigo sobre ele.. se puderem compartilhar o meu tbm sobre portão automático, agradeço. http://www.motorportao.org
TOMEI CONHECIMENTO DE UMA PEQUENA VINICULA CHILENA CHAMADA “CASA DEL TOQUE”, QUE PRODUZ BONS VINHOS, DENTRE ELES O — CÓDIGO E O GRAN RESERVA., GOSTARIA DE RECEBER NOTICIAS A RESPEITO DESTA CASA.
MUITO OBRIGADO
Tenho em minha adega uma caixa das 06 primeiras safras do don melchor. cx. original
87-88-89-90-91-92 – sera então que estão perfeitas?
Caro Maxwel,
eu já tive oportunidade de provar safras antigas do Don Melchor e estavam perfeitas, cada qual com sua evolução. Se foram bem acondicionadas e não teve nenhum problema vazamento, acredito que estejam boas sim
abs