Vinhos devem ser feitos para agradar o consumidor? Os puristas dizem que não. A definição clássica sustenta que o vinho é o que é: resultado do lugar onde a uva é plantada, do clima da região e da mão do homem – de preferência com uma intervenção mínima deste último. Assim nascem os estilos, a tipicidade e a beleza desta bebida que tanto se fala como se bebe. Perfeito. Assim são elaborados os grandes vinhos. Mas será sempre assim? Tem de ser assim?
O discurso de alguns enólogos, quando abrem a câmera de suas lives, ou participam de eventos presenciais, muitas vezes beira à fantasia: seus vinhos são o resultado apenas do terroir e de um estilo único que eles criam como um David esculpido em uma uva. Estão mais próximos de uma obra de arte do que de um produto. Ok, os grandes vinhos são capazes mesmo de fazer os paladares mais treinados chegar ao êxtase e à contemplação. Mas a questão aqui não é discutir o que é certo ou errado, mas descer um pouco na terra.
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O mundo real raramente é contemplado. Estes enólogos, e mesmo críticos, jamais falam do gosto do cliente, se ele prefere um vinho mais ou menos frutado, mais ou menos potente, com maior ou menor acidez, com interferência ou não de madeira entre outras características. Como se agradar o paladar dos consumidores não fosse algo que fizesse parte da realidade desses profissionais muitos menos uma preocupação das empresas. A ordem parece sempre inversa: eu faço o vinho que me dá na telha; o consumidor que se adapte a ele. E quando acontece uma intervenção a culpa cai no pessoal de marketing e vendas.
Vinhos tailor made
Roberto Ignácio Echeverria, enólogo-chefe e CEO da chilena Viña Echeverria, navega em outra sintonia. Até pelo fato de misturar atribuições não tem pruridos em declarar que produz vinhos “tailor made. “Somos uma vinícola 100% familiar, criada em 1990. Nossa produção se destina à exportação”, explica, para complementar em seguida, “elaboramos vinhos que atendam os consumidores de cada mercado”. Honesto, não? “A Ásia prefere vinhos com mais madeira, potentes; Canadá, Londres vão para uma linha com menos barrica e maior acidez”, ele emenda. E eles entregam isso. E o Brasil, onde se encaixa neste perfil de vinhos? Faço a pergunta em meio a uma live em que Roberto apresentou dois rótulos de seu portfólio. “No meio termo”, ele responde. Ou seja, os rótulos que chegam aqui da Viña Echeverria são aqueles que representam mais o conceito inicial da vinícola que busca uma referência no velho mundo. O gosto do consumidor tupiniquim bate com o do enólogo.
A Viña Echeverria tem vinhedos próprios na região de Curicó mas também compra uvas de outros produtores em outras partes do Chile, na base de 60% próprios e 40% terceiros. Produz 100.000 caixas por ano de tintos, brancos e espumantes. E exibe selos de sustentabilidade e responsabilidade social desde a fundação, ou seja, trabalham sob o conceito ESG (ambiental, social e governança) antes disso virar moda e moeda de troca nas empresas.
Os vinhos
Echeverria Reserva Unwooded Chardonnay 2020
Uva: Chardonnay
Região: Valle do Curicó, Chile
R$: 90,00
Importador: Evino
O rótulo preferido pelo patriarca da Echeverria, saboreia até quando come uma carne. Eu não recomendo esta harmonização, mas… Este chardonnay não é um pavão aromático, pelo contrário, revela-se mais na boca: sem madeira, como informa o rótulo, e elaborado com uvas usando três diferentes métodos – prensa direta, maceração com contato das cascas e malolática. Sem pretensões, ganha pontos no frescor, mas perde na doçura. Para o meu paladar, sobrou açúcar. A tampa de rosca, uma benção que vários rótulos deviam adotar, facilita o manuseio e jamais é um problema para o sabor e a preservação do vinho. Pelo contrário.
Echeverria Gran Reserva Syrah/Carménère 2018
Uvas: syrah e carmenère
Região: Vale Central, Chile
R$ 130,00
Importador: Evino
O Syrah/Carmenère com uvas de Colchagua traz mais coisas na taça: a barrica francesa busca mais elegância, um chocolate no nariz; na boca a potência da syrah (e suas especiarias e frutas marcantes) é atenuada pela carmenère e o casamento proporciona uma acidez que torna o vinho mais agradável e gostoso de beber. Vem fruta, vem frescor, vem acidez e uma tacinha a mais, por favor.
Roberto também tem seu lado odara também, o que harmoniza bem com seu modelito de cabelos longos e vistosa barba. Trabalha uma linha de vinhos naturais, sem intervenção, com pouco uso do sulfuroso e que tem recebido boas críticas internacionais, como da revista inglesa Decanter e do crítico Tim Aktim. Os rótulos, divertidos e atraentes, design da mulher de Roberto, atendem pelo nome de Es Pituko, No és Pituko, Romi Orange e Pet Nat Miao e vem agradando o público mais jovem, que busca produtos naturais de empresas compromissadas com a sustentabilidade. O que, vamos combinar, também é um vinho “tailor made”, mas para uma parcela mais hispter da clientela. Mas como é natureba e do bem, a discussão não entra nesta raia de vinho fabricado ao gosto do consumidor. “Winemaking não tem fórmula”, conceitua Roberto
Produtores Renomados
Os vinhos Echeverria fazem parte do portfólio Produtores Renomados que a importadora e e-commerce Evino criou para agregar vinícolas mais reconhecidas ao seu portfólio e conquistar um consumidor de paladar mais exigente. Rótulos de produtores como António Maçanita, Mazzei, Alto de La Ballena, De Martino, Jean-Pascal Lacaze e Xavier Vignon estão entre os vinhos selecionados pela Evino. Ari Gorenstein, co-CEO da empresa, conta na entrevista que pode ser acessada no link abaixo como Evino alcançou a marca de mais de 34 milhões de garrafas vendidas desde 2013. Um spolier: é o consumidor, estúpido!
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