E se fosse publicado um Guia de Vinhos para ajudar a escolher os rótulos que combinam mais com o seu gosto e, principalmente, seu bolso? Para as pessoas normais, que curtem abrir um vinho, mas não querem pagar muito? Foi com esta ideia na cabeça e muitas taças na mão que quatro jornalistas avaliaram às cegas mais de 560 rótulos, de 18 países, separados nas seguintes faixas de preço: até R$ 100, de R$ 101 a R$ 200 e de R$ 201 a R$ 300. O resultado é o Guia dos Vinhos 2023/2024.
Tratas-se de um ranking de vinhos organizado em quatro principais categorias: tintos, brancos, espumantes e rosés, filtrados nas três faixas de preço, ordenados pelas pontuações obtidas, das maiores para as menores, e separados por país. Assim fica fácil consultar. Se o leitor procura um tinto até R$100, do Chile, encontrará na seção de “Tintos até R$ 100”, na divisão de país Chile, e poderá escolher aquele que melhor se adapta ao seu gosto, ao seu momento, sua disponibilidade financeira. As garrafas estão ordenadas pelo critério de notas, das que mereceram melhor avaliação do guia até as menores, mas sempre com um padrão de qualidade que fez o rótulo merecer estar presente no Guia.
O Guia também pode ser acessado na integra pelo site www.guiadosvinhos.com, ali o usuário tem a disposição uma infinidade de filtros que, cruzados, facilitam a busca. Por exemplo. Um branco, da uva chardonnay, da Argentina, de R$ 101 a R$ 200; um vinho orgânico; os mais bem pontuados ou ainda todos os vinhos até R$ 100. O campo de busca também permite a consulta pelo nome do rótulo no topo do site. O site ainda é complementado por notícias do mundo do vinho e sua home page atualizada toda semana.
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Os vinhos que alcançaram as maiores pontuações de cada categoria na avaliação do ranking merecem um destaque especial nas páginas de abertura. São os “Dez Mais” (ver imagem ao lado), verdadeiros achados que entregam muita qualidade e surpreendem positivamente dentro de sua faixa de preço.
Nas páginas iniciais do Guia os autores se apresentam: “Nós temos duas paixões em comum: a comunicação e o vinho. Nós acreditamos em um jornalismo de serviços ético. Na informação com independência e isenção”. São eles: Suzana Barelli, Marcel Miwa, Beto Gerosa e Ricardo Cesar, todos com passagens na grande imprensa, em publicações especializadas e agências de comunicação. O leitor um pouco mais atento deste blog deve ter reparado com um desses autores é o mesmo que escreve este texto.
Já que a situação é inusitada, o autor do blog propôs uma pequena entrevista ao autor do Guia de mesmo nome para explicar melhor a publicação. As perguntas foram enviadas por pensamento e respondidas instantaneamente no teclado, como seu fosse uma consulta ao ChatGPT, o que facilitou bastante a operação e quem sabe abre uma tendência para o jornalismo.
A autoentrevista
Blog do Vinho: Por que mais um guia do vinhos?
Beto Gerosa: Porque nós quatro entendemos que faltava um guia que mirasse mais no consumidor comum — aquele que fica perdido com tantos rótulos disponíveis e costuma pedir um conselho para o amigo na hora da compra –, do que naquele que já tem muito conhecimento. Em especial para aquele consumidor que não consulta guias brasileiros para decidir a compra. É um guia para quem não costuma ler guias de vinho.
Blog do Vinho: Os outros guias do mercado já não cumprem esta tarefa?
Beto Gerosa: Olha, sim e não. Apesar de algumas publicações também avaliarem vinhos de faixas de preço menor, o destaque é sempre nos rótulos premium, que sempre merecem maior espaço, maiores notas (às vezes altas demais…) e matérias elogiosas na imprensa especializada. Até neste blog, diga-se de passagem, basta olhar o último post, do ícone Almaviva, que eu adoro, mas não tenho salário para comprar, mas que toda mídia comenta. Nós fugimos da ideia do objeto de desejo para mirar no objeto de consumo.
Blog do Vinho: Qual é então a missão da publicação?
Beto Gerosa: A missão deste Guia dos Vinhos é: prover informação de qualidade, isenta e de fácil compreensão para que o consumidor acerte mais, descubra mais, goste mais e – por fim – se encante mais com o mundo de possibilidades que essa classe de bebidas oferece como nenhuma outra.
Blog do Vinho: Como foi feito o ranking? Vocês de fato desconheciam os vinhos que provavam?
Beto Gerosa: Um ranking destes só faz sentido com a chamada degustação às cegas. Eu costumo dizer que a degustação em que você não sabe o rótulo é a prova dos noves. A avaliação é apenas em cima do líquido que está na taça. Ele é bom, ou tem problemas, por seus méritos e não por seu marketing. O mais curioso dessas degustações às cegas é que os especialistas (nós) muitas vezes somos surpreendidos. De repente um rótulo que você tinha em grande consideração, numa avaliação técnica se dá mal, principalmente quando é comparado com outro na mesma faixa de preço. Ou outro que você torcia o nariz, acabou encontrando no mesmo nariz aromas delicados e uma bebida empolgante. Até na avaliação do vinho cabe a máxima de Guimarães Rosa: “viver é perigoso!”
Blog do Vinho: Os amigos não ficaram com inveja de tantas garrafas provadas?
Beto Gerosa: Só aqueles que nunca se submeteram a uma maratona dessas. Pode parecer o paraíso de Baco, mas uma longa sequência de tintos potentes numa jornada de mais de seis horas não é para qualquer um. Não é novidade que não bebemos o vinho, nós cuspimos. Ou estaríamos todos internados com cirrose hepática. Não é bonito de se ver. Não se esqueçam, crianças, vinho é uma bebida alcoólica. E antes que você pergunte, não prejudica em nada a avaliação. Os aromas, o paladar, o álcool, tanino, acidez, potência, profundidade e todas as características que compõem a avaliação de um vinho se dão na boca e não na garganta.
Blog do Vinho: Vocês são quatro. Não havia divergência na avaliação?
Beto Gerosa: Ainda bem que somos quatro. Decisões monocráticas já bastam as dos juízes do STF, não é? Assim a nota final de cada rótulo é uma média das notas de cada jurado. E quando havia algum disparate entre as notas – o que raramente aconteceu – voltamos a provar e discutir as qualidade e/ou defeitos daquele vinho e chegamos num consenso. Avaliar vinhos com a Suzana, o Marcel e o Ricardo, para mim, foi um privilégio e um aprendizado.
Blog do Vinho: Qual informação vocês tinham do vinho provado?
Beto Gerosa: Além da óbvia, até pelo visual, de que era um tinto, um branco, espumante ou rosé (se bem que tem uns rosés tão claros que você até dúvida da classificação), sabíamos apenas o paîs e a faixa de preço. O que torna a avaliação, além de mais isenta, mais divertida até.
Blog do Vinho: Nesta era digital, por que um Guia impresso?
Beto Gerosa: A pergunta está equivocada. Nós lançamos uma plataforma de conteúdo para o mercado de vinho no Brasil. O Guia dos Vinhos tem um site, que é adaptado ao celular, está presente nas redes sociais, disparamos uma newsletter semanal e ainda atualizamos o conteúdo digital toda semana com novos conteúdos, destacando vinhos do Guia mais propícios para cada ocasião ou que merecem destaque dos editores. Mas o Guia também tem sua versão impressa, sim. Tem muita gente que prefere uma publicação assim. Eu curto as duas formas. E, sem modéstia alguma, ficou linda a versão em papel, fácil de consultar, um design limpo, com uma organização bacana e, alinhada ao nosso tempo, com QRCodes em cada rótulo que leva para mais informações no site do importador ou produtor. No site este QR Code é substituído, claro, por um link. Você não perguntou, mas faço a propaganda. Quem quiser comprar o guia impresso, clica aqui no link da Amazon
Blog do Vinho: E quantos vocês ganham com este QRCode e link?
Beto Gerosa: Nada. Nós não comercializamos vinho. Somos de uma geração de jornalistas especializados onde editorial e comercial não se misturam, sob risco de perder totalmente a credibilidade editorial. O que é publicidade está identificado como publicidade, quando tiver conteúdo patrocinado estará identificado como tal. Não somos influenciadores, não tem “recebíveis” na relação, e tudo bem aqueles que escolhem este caminho. Somos jornalistas. É uma escolha.
Blog do Vinho: Alguma surpresa ao fazer o Guia?
Beto Gerosa: Sim, tintos abaixo de 100 reais, bem abaixo aliás, que surpreenderam. Outros tintos, que apesar de estarem na caixa entre R$ 101 e R$ 200, não passavam de R$ 110, e foram muito mais bem avaliados do que aqueles que batiam na casa dos R$ 200. Tudo isso mostrando como é importante avaliar e ranquear os vinhos de acordo com o seu valor. Não dá para usar a mesma régua em um vinho até R$ 300 e outro até R$ 100, não é? Também a qualidade de alguns rótulos brancos foram um oásis no meio de uma degustação tão extensa. Acho que um mercado que vai crescer mais no Brasil.
Blog do Vinho: Vai ter Guia novo 2024/2025?
Beto Gerosa: É claro que sim. Amigos e inimigos, viemos para ficar. E expandir nossa plataforma para outras formas de atuação. A expectativa é ter um Guia dos Vinhos melhor, maior e com a participação de mais importadores e produtores nacionais de todo o território. Ficamos muito satisfeitos pela adesão que tivemos no primeiro ano. Tanto das empresas que enviaram garrafas como daquelas que deram um passo a mais e apoiaram o guia comprando espaços publicitários na publicação impressa e digital. Sem este apoio o guia não teria se viabilizado. Uma nova edicão deve sair no mercado em setembro de 2024 Devemos iniviar a degustação deste ano em meados de maio.
Blog do Vinho: por que o leitor deve comprar o Guia dos Vinhos?
Beto Gerosa: O leitor deve adquirir o Guia ou mesmo acessar o site porque isso pode lhe trazer um valor, resolver um problema, indicar um achado, e principalmente, facilitar a sua próxima compra com uma informação isenta, fácil de ler e de qualidade. Pelo menos nós achamos que é de qualidade. E quem adquiriu até agora também elogiou. Acho que estamos no caminho certo. A propósito, baixamos o preço de capa. Outro bom motivo: cobrir os nossos custos, remunerar nosso trabalho e sustentar a criação do Guia dos Vinhos deste ano.
Blog do vinho: Para fechar, qual vinho do Guia você recomenda?
Beto Gerosa: Aquele que couber no seu bolso e no seu gosto. São 561 rótulos de 18 países de variadas uvas, regiões, para ocasiões de todo o tipo. Esta é um outro diferencial do Guia, sempre recomendamos uma ocasião para seu consumo. Das mais variadas: harmonizações, ler um livro, bater papo, curtir um por de sol, etc. Aposto que um deles vai se encaixar na busca do leitor para o vinho de hoje.