Grenache parece nome de doce francês (“aceita uma grenache da nossa patisserie?”), ou então título publicitário para um modelo de carro sofisticado (“Renault Grenache, um carro com sabor”). Grenache, como sabem aqueles com litragem no mundo de Baco, trata-se de uma das uvas viníferas mais plantadas no mundo – algo como 300.000 hectares – e é responsável por vinhos importantes da França, Espanha, Itália e até Austrália.
Mas por que então o nome não soa tão familiar como cabernet sauvignon, merlot ou chardonnay, praticamente sinônimos de vinho? Talvez por que a grenache é mais comum misturada a outras uvas ou por que ela tem nomes diferentes em várias regiões do mundo. Mas é importante salientar que em carreira-solo ela faz bonito e é responsável por vinhos importantes, como os Châteauneuf-du-Pape. É preciso, pois, conhecer.
Injusta, esta quase clandestinidade levou um grupo de entusiastas da uva a criar uma associação da grenache em 2011 e numa sacada de marketing inventou um dia para chamar de seu.
Toda terceira sexta-feira do mês de setembro é o dia da grenache. Em 2013 o dia é comemorado em 20 de setembro: importadoras fazem promoções, confrarias promovem degustações e restaurantes oferecem descontos na carta de vinhos em garrafas com grenache. A grenache entra em pauta, e colunistas de vinho acabam escrevendo sobre a uva.
Quer saber mais sobre a grenache, veja abaixo!
Grenache, garnacha, cononnau…
Assim como poeta Fernando Pessoa, a grenache tem seus heterônimos, e em cada país adquire um nome e estilo diferentes. A grenache também atende quando chamada de garnacha na Espanha. (Momento Wipédia: aliás a origem é espanhola e foi introduzida na França na Idade Média.) Tinta menuda (Priorato, Catalunha, na Espanha), cononnau (Sícilia, Sardenha, na Itália), Tai Rosso (Veneto), Grenache noir (Califórnia, EUA, Languedoc, França) e por aí vai. Quem disse que vinho é uma coisa simples de entender?
O que uma grenache pode oferecer
Começa pela cor – e delicadeza. A grenache lembra muito mais uma pinot noir, mais translúcida e leve, do que uma uva mais tintureira potente como cabernet sauvignon, syrah, merlot, tempranillo. Tem uns toques de frutas vermelhas mais frescas, como framboesas e também cerejas negras, um herbáceo muito aparente, temperos como alecrim, e também um tanto apimentado. Tem gente que acha uma canela escondida. Os tintos mais evoluídos trazem fumo, tabaco, um toque de madeira. Como a grenache é uma uva que se desenvolve em terrenos de climas mais quentes e secos, de estilo mediterrâneo, muitas vezes o nível do álcool é elevado, mas os taninos, aquela adstringência que trava a boca, são mais macios.
Ok, você não precisa sentir todos estes aromas e gostos, mas é bom saber que é um vinho versátil, mais alcoólico, apimentado e com uma fruta presente – e ainda assim com uma delicadeza no corpo e no final de boca. Vai bem com uma gastronomia com uma pegada condimentada, carnes assadas e vegetais. Em vôo solo é agradável por que não cansa. E como nada nesta vida do vinho é tão simples assim, a grenache ainda é responsável por vinhos doces naturais do Roussillon e do mais conhecido Banyuls, um fortificado que é uma alternativa ao Porto para acompanhar chocolates.
6 ViGs (vinho indicado pelo Gerosa) com grenache, garnacha, cannonau…
Teoria sem prática é copy paste do acervo da web. Comemorando este dia da grenache, ou garnacha, o Blog do Vinho recomenda 6 ViGs (vinho indicado pelo Gerosa) provados recentemente. Um deles sorvido enquanto escrevo este artigo, o delicioso, frutado e autêntico Les Chevrefeuilles.
Paul Mas Grenache Noir 2010
Produtor: Domaine Paul Mas
Região: Languedoc, França
Uva: grenache 100%
Importador: Decanter
R$ 57,12
Estão lá as especiarias, um corpo médio que convida para novas taças. E um bom preço. Bom preço no Brasil, claro!
Gigondas 2007
Produtor: Brunei de La Gardine
Região: Rhône, França
Uvas: 80% grenache noir, 15% syrah, 5% mouvedre
Importador: Decanter
R$ 139,50
Grenache em alto nível, frutas negras, herbáceo, um pouco de evolução. Vinhaço para reflexão ou gastronomia. É um belo exemplo do que a grenache é capaz em fruta e evolução.
Tuderi 2006
Produtor: Dettori
Região: Sardenha, Itália
Uva: connonau
Importador: Decanter
R$ 162,30
Trata-se de um produtor orgânico na linha radical. Eu não sou exatamente um sujeito radical mas alguns vinhateiros desta linha produzem vinhos com uma personalidade e complexidade que são admiráveis. É um tinto que mostra a expressão da terra, da fruta natural e que passa 48 meses em tanques de cimento que proporciona uma sensação de amadurecimento em madeira com um toque fino. Vinho da série uau!
Marge 2009
Produtor: Celler de L’Ebcastell
Região: Priorato, Espanha
Uvas: 60% garnacha, 20% cabernet sauvignon, 20% merlot/syrah
Importador: Decanter
R$ 166,10
Priorato é uma conquista recente da Espanha. Mais potente, mostra seus 15º de álcool e a presença marcante das barricas novas e de 2º e 3º uso americanas. Um estilo mais bangue-bangue italiano (os Spaghetti westerneram filmados em regões áridas da Espanha), de potência de fruta e toques amadeirados. Tem seus críticos, mas eu acho uma experiência interessante.
Les Chevrefeuilles 2001
Produtor: Domaine La Réméjeanne
Região: Côtes du Rhône, França
Importador: De la Croix
R$ 58,00
Uvas: 40% grenache, 30%, syrah, 10% carignan, 10% cinsault e 10% counoise
Uma cor mais translúcida dá uma boa dica do que vem por aí. No nariz uma exuberância sem exageros de cerejas e especiarias. Corpo médio (hein? Pense em leite desnatado, semi-desnatado e normal, é uma sensação de semi-desnatado), um final frutado e com bastante persistência são o resultado deste blend classic do Rhône.
Cuvée des Ardoises Château des Erles
Produtor: Domaines François Lurton
Região: Languedoc, França
Uvas: 40% grenache, 30% syrah e 30% carignan
Importador: Zahil
R$ 74,80
Os irmãos Lurton não dão ponto sem nó. Fruta concentrada, corpo médio e bastante agradável. Bela experiência da grenache em associação com outras uvas mediterrâneas.
Obs: Preços de 20/09/2013
- Saiba mais sobre a grenache
Twitter: #GrenacheDay
Publicado originalmente em setembro de 2013