Champagne é para poucos, fato. Mas se em algum momento da vida uma tacinha passar pela frente, não deixe escapar. Tanto melhor se for um champagne que alia beleza e sofisticação na garrafa e dentro dela, não é? Um dos expoentes desta linha que esbanja elegância e paladar é a Maison Perrier-Jouët, aquela da etiqueta florida, de estilo art nouveau, que dá dó de jogar a garrafa fora, mas um prazer danado de jogar as borbulhas para dentro.
Provar vários rótulos de Perrier-Jouët é uma viagem sensorial que revela a marca desta casa que existe desde 1811, desde que o sobrenome do monsieur (Pierre Nicolas Perrier) e da madame (Adéle Jouët) se juntaram em matrimônio. A Maison teve apenas sete Chefs de Cave – o sujeito que é responsável pelo assemblage final, pelo estilo do champagne, pela mágica da borbulhas. O último deles, Hervé Deschamps, esteve em São Paulo no último dia 9 de outubro para apresentar seu portfólio. Em especial a edição limitada – 10.000 garrafas para o mundo; 200 para o Brasil – da Pierre Jouët Belle Epoque Rosé 2005.
O que tem de especial neste champagne, além do champagne? O marketing. Um beija-flor do artista plástico Vik Muniz pousou na garrafa comemorativa e se misturou às tradicionais anêmonas – as flores verde ou rosa e branca – que definem e distinguem o visual da Pierre-Jouët desde 1902, quando o então maior representante da art nouveau, Emile Gallé, desenhou esta representação típica da Escola de Nancy, que usava e abusava de flores na sua arte decorativa em vasos e peças.
As flores, a propósito, não são uma mera representação artística de Emile Gallé, elas traduzem a elegância e as notas florais características do estilo do champagne da Pierre-Jouët. A Belle Epoque Rosé é um assemblage de 50% de pinot noir, 45% de chardonnay e 5% da pinot meunier – a mistura clássica de Champagne. O toque floral tá lá, o cítrico e, claro, frutas vermelhas que se esperam de um rosé, envolvidas em um tostado marcante, finalizadas com uma acidez necessária. Outro “detalhe” distingue esta peça artística. O preço. Por R$ 1.600,00 ela pode ser adquirida nas melhores lojas e delicatessens.
Este colunista teve chance de provar mais do que uma tacinha, diga-se de passagem. E não deixou a chance escapar. Passaram por estas papilas gustativas que a terra há de fermentar a Perrier-Jouët Brut, a Belle Epoque Blanc de Blancs 2002, A Belle Epoque Brut 2004 e 2002 (2002 com maior potência, pois 2004 teve mais sol e calor), a Blason Rosé, e a estrela do dia, a Belle Epoque Rosé 2005.
Meu preferido: o Belle Epoque Blanc de Blancs 2002. O nome já entrega que é um blend apenas da branca chardonnay (lembrando que pinot noir e meunier são uvas tintas e na elaboração dos espumantes as cascas não são fermentadas junto com o mosto). São uvas dos melhores vinhedos da Pierre-Jouët: Bourons Leroy e Bourons du Midi, em Cramant, no miolo de Côte des Blancs. O crème de la créme da chardonnay da região demarcada de Champagne. Para quem se interessa pelo universo da minhoca, trata-se de um terroir de solo calcário que retém a umidade e aprofunda as raízes das vinhas. Mas a gente não prova o solo calcário nem as raízes, mas seu fruto fermentado: flores brancas, torrefação, cremoso, um bom volume de boca, um ótimo frescor e uma inacreditável lembrança de gengibre e laranja. Passaria a tarde descobrindo (e inventando) novas camadas de aromas e sabores deste Blanc de Blancs, isso sim é Belle Epoque, aqui e agora.
A visita de Hervé Deschamps proporcionou um aumento per capita de rolhas de champagne Perrier-Jouët abertas nunca antes visto neste país, incluindo algumas garrafas Magnum (3 litros) de Belle Epoque Brut que segundo Hervé permitem um maior contato da bebida com as leveduras e consequentemente uma capacidade de envelhecimento maior. O Chef de Cave ensinou que as uvas da Belle Epoque Brut são provenientes de vários vinhedos, e que a porcentagem é resultado de inúmeras provas às cegas realizadas por ele e sua equipe, mas um número mágico sempre se impõe: 50% de chardonnay, 45% de pinot noir e 5% de pinot meunier. Para Hervé, esta porcentagem nada mais é do que o reflexo dos terrenos da Perrier-Jouët. O Chef de Cave descreve o Belle Epoque 2002 com algumas palavras: equilibrado, estruturado, leveza, flores, frutas (pêssego, pera), tostado no final, mineral e complexo. Uma frase do release de Hervé distribuído pela assessoria se encaixa aqui: “Cada cuvée é uma obra única e inesquecível e toda degustação é uma arte, como a do assemblage”
Perguntei a Hervé Deschamps – que lembra um pouco o velhinho do desenho UP, mas sem aquele mau humor – o que faria um consumidor escolher um Perrier-Jouët entre tantas outras Maisons de Champagne disponíveis. Sua resposta fecha esta coluna e define um estilo: “Nós procuramos reproduzir na assemblage o mesmo conceito artístico, e com os mesmos valores, representados pelo rótulo criado por Emile Gallé: elegância, delicadeza e prazer.”
Publicado originalmente em outubro de 2014
Privilégio . O seu .
Muito bacana…
Abraço
Edu
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