Repare nas imagens acima. Há uma certa semelhança entre os dois retratados, não? O sujeito da direita é o ator James Gandolfine, que interpreta Tony Soprano, o chefe mafioso em crise da série de TV Família Soprano. Na esquerda quem comparece é Pablo Alvarez, proprietário das Bodegas Vega-Sicilia, a mítica vinícola espanhola fincada em Ribera del Duero, na Espanha, que esteve em São Paulo, com o filho e enólogos, para compartilhar com uma série de convidados o seu próprio vinho. Curiosa semelhança entre os dois, não me saía da cabeça durante o encontro. O sujeito sentado no meio de uma grande mesa. Sicília, máfia, família, o mesmo jeitão… muita coincidência. Se ele sacasse, nem que fosse um charuto do bolso, eu caía fora!
Bobagem! Pablo Alvarez é um empresário calado e tímido, é o antimarketing em pessoa. Ao contrário da maioria dos produtores e enólogos, que pousam por aqui munidos de apresentações em power point, catálogos caprichados e discursos irritantemente didáticos (e não há mais quem agüente o batido discurso de que “não se faz bom vinho com uva ruim”), Don Pablo parece implorar para não ser instado a falar. Inundado de perguntas, suas respostas são curtas e diretas. Uma definição para o Vega-Sicília Único? Elegância. Qual o melhor dos seus vinhos? O melhor ainda está para ser feito. A região de Toro, onde tem uma propriedade (dali sai o Pintia), pode um dia alcançar a qualidade de Ribeira del Duero? Não, não tem o mesmo clima e o solo encontrados em Ribera del Duero. Questionado sobre as experiências de um branco com o selo Vega-Sicilia, Don Pablo assumiu seu lado Família Soprano, se fechou em copas e negou com veemência. Seu enólogo, um pouco mais falastrão, anunciou, em particular, o lançamento para 2013, da safra 2010. Depois indagou, dissimulado: “Você não é da imprensa, é?”
Don Pablo, como se vê, não é de teorizar muito sobre seus rótulos. Seus vinhos falam por si. Mito espanhol, o Vega-Sicília Único Gran Reserva só é produzido nos melhores anos. Para se ter uma idéia, a safra que está no mercado é a de 1996. É o primeiro vinho da casa, sem dúvida alguma, mas tenho de confessar que o Vega-Sicilia Valbuena 5º Año Reserva 2002 me agradou mais, estava mais pronto e às cegas eu o teria eleito em primeiro lugar, apesar de ser o segundo vinho da casa – e que segundo! Clássico, elegante, potente, floral no primeiro ataque e com várias camadas de aromas após um tempo na taça. Foi ótimo com um kobe beef, mas vai bem com tudo, mesmo sozinho. Um Armani dos tintos (inclusive no preço), com pinta de Bordeaux e tempero Espanhol.
As estrelas da noite, pela ordem de entrada, foram:
Tokaji Furmint Mandolás 2005 (um branco seco de boa acidez da Hungria, U$ 39,90); Pintia 2004 (um tinto potente e um pouco alcoólico da região de Toro, U$ 126.50); Alión 2003 (240.000 garrafas produzidas ao ano, um clássico da uva tempranillo, U$ 145,50); Vega-Sicilia Valbuena 5º Año Reserva 2002 (180.000 garrafas/ano, clássico, elegante e pronto para beber, US$ 319,50); Vega-Sicilia Único Gran Reserva 1996 (80 a 110.000 garrafas/ano, caldo intenso, muita fruta, mas ainda vai melhorar na garrafa, U$ 749,50), os três últimos da região de Ribera del Duero. Para finalizar um prazeroso vinho doce de sobremesa da Hungria, Tokaji Aszú 5 Puttonyos 2000, U$ 127,50. Nada aqui é barato. Qualidade e reconhecimento têm preço. Mas o que mata são esses 50 cents no valor de tabela, né não?
Todos os vinhos fazem parte do catálogo da Mistral. Os preços da importadora são tabelados pelo dólar do dia.
Bodegas Vega-Sicilia: site oficial
Antes de mais nada, parabens pelo novo blog, já estava na hora de Veja dedicar um espaço ao vinho!Quanto aos vinhos da Vega Sicilia, tive a oportunidade de participar da versão carioca desta degustação, e concordo com voce sobre o Valbuena e o Unico. A Mistral se destaca da grande maioria das importadoras quando promove suas degustações.
Ótima reportagem, a perfeita harmonização de boas “risadas” e “salivadas”, risos…Um abraço!
Bôa a matéria para os afortunados que podem dispor desses US$ para saborear esses tops.Vale muito, também, como conhecimento.Gostaria de receber suas matérias sobre vinho regularmente, se possível.Um abraço