Em 2004, quando o espanhol José Manuel Ortega Gil-Fournier (foto) largou a vice-presidência do Banco Santander para se dedicar aos vinhedos, seus amigos do mercado financeiro o chamaram de maluco. Neste dias, em que os bancos de investimento estão derretendo e o mercado trinca os dentes, Ortega Gil-Fournier saboreia o retrogosto da vitória: “Hoje em dia, quem me chamava de louco, me cumprimenta pela decisão”.
A conversão deste alto executivo do mundo das finanças para o mundo dos vinhos começou pelo bolso, mas acabou tomando conta da cabeça. Quando trabalhava com o Goldman Sachs, em Londres, investiu 25 mil euros na aquisição de 2000 garrafas de rótulos espanhóis com forte apelo de investimento: topos de linha como Pesquera, Vega Sicilia, etc
A garimpagem pelas melhores safras aproximou Fournier do assunto. Em 1999, quando era responsável por investimentos do Santander na América do Sul, enxergou o potencial dos vinhedos argentinos e adquiriu terras em Mendoza. O negócio começou a tomar forma com a irmã e um cunhado. Passados oito anos, a O. Fournier tem vinícolas estabelecidas na Argentina, no Chile e na Espanha, na região de Ribera del Duero. São projetos autônomos, mas com afinidades de objetivos (vinhos de alta qualidade) e de características: os três estão localizados em terrenos de altitudes mais elevadas (cerca de 2.400 metros), trabalham na recuperação de vinhedos antigos e adotam um regime de baixa produção por planta (que geralmente resulta em caldos de maior complexidade e refinamento, e preços idem).
Resultado: rótulos como A Crux (Argentina) e Spiga (Espanha) acumulam prêmios e críticas favoráveis ao redor do planeta. O argentino O. Fournier Syrah 2004 (U$ 159,50) é um dos rótulos mais prestigiados de um linha de excelências da vinícola. Mas de todos que provei fico com outras escolhas, listadas no post seguinte. “Não queremos produzir vinhos muito caros, nem para os top de linha”, argumenta Ortega Gil-Fournier. Não, isso não quer dizer que são produtos baratos, mas comparados a preços de vinhos do mesmo nível, o argumento é válido.
Ortega Gil-Fournier ainda toca num ponto controverso: a capacidade de envelhecimento dos rótulos abaixo do Equador. Contrariando o senso comum, que alega que envelhecimento é prerrogativa dos vinhos europeus, ele aposta na capacidade dos caldos do novo mundo. “Vinhos chilenos e argentinos podem evoluir, sim”, pontifica. “Fizemos uma degustação onde havia um tannat 1944, da Norton, que estava vivíssimo e um Trapiche 64 que evoluiu muito bem”, relata. É beber para crer.
Quanto à adega de safras antigas de seu investimento inicial, Ortega Gil-Fournier não parece muito preocupado. Seu foco, agora, é outro – ampliar seu raio de ação. Os próximos alvos são as regiões do Douro, em Portugal, e de Napa Valley, na Califórnia. Algumas garrafas da coleção foram abertas, claro, mas o restante continua ali, evoluindo seus aromas, afinando seus taninos e aumentando seu preço – o vinho transformou a vida do ex-vice-presidente de banco, mas nem por isso o homem rasga dinheiro, não é mesmo?
Pq a gente nåo compra um vinhedo também???Se o cara enricou a gente tbém pode. Aí quando vieram os netinhos eles våo poder dizer:’vovô viu a uva!!!’
segue artigo do o-fournier
Eu apenas queria saber, se Roberto Gerosa, que assina este blog, é o mesmo Roberto Gerosa que trabalhou na Basf S/A, em Guaratinguetá. No mais, achei o blog uma delícia de se ler e uma boa maneira de se começar uma semana. Um abraço