Sugerir vinhos caros é fácil e, em certo sentido, inútil. Quem compra rótulos de primeira linha, afinal, não precisa de muito conselho ou tem quem o faça pessoalmente. Difícil é descobrir as boas garrafas, ou as ofertas, entre os rótulos mais acessíveis que inundam as prateleiras de lojas e supermercados. E, acredite, há muitas oportunidades à disposição.
Mas até mesmo uma seleção de boas garrafas que não pesam no bolso precisa ser fruto de uma experiência pessoal para não se tornar numa simples listagem de “best buys”. Aqui vai a minha lista que, como qualquer lista, está sujeita a críticas e correções. O critério foi o de tintos e brancos (deixei de fora os espumantes) até 35 reais. É claro que não se tratam de vinhos hedonistas, que primam pela profusão de aromas, pela intensidade marcante ou final prolongado. Mas podem, sim, tornar o seu dia-a-dia mais feliz.
TINTOS
Salton Classic Tannat
Rio Grande do Sul, Brasil – de R$ 11,00 a R$ 15,00
Da linha mais simples da Salton. Correto, bem vinificado. Seu preço é imbatível, seus taninos melhoram se acompanhados de um churrasquinho informal no clube.
Pupilla Carmenère
Vale Colchagua, Chile – R$ 16,00
A uva-símbolo do Chile, seja lá o que isso queira dizer, num dos tintos de melhor custo-benefício da paróquia, produto da bodega Luis Felipe Edwards. Taninos bem resolvidos, frutas vermelhas e uma especiaria de leve. Resolve a vida e se encontra fácil em supermercados.
Rio Sol Cabernet Sauvignon/Syrah 2006
Vale do São Francisco, Pernambuco, Brasil – R$ 18,90
Este tinto nacional foi escolhido pelo júri da última Expovinis (feira de vinho realizada anualmente em São Paulo), em uma degustação às cegas, como o melhor tinto nacional. Concorreu com outros 39 rótulos, a maioria de preço mais elevado. Sou co-responsável: participei do júri. Tem uma fruta muito madura, típica de uma região ensolarada como aquela, mas um bom equilíbrio e acidez presente. Um achado de Pernambuco, uma região pouco provável alguns anos atrás.
Cono Sur Bicicleta Pinot Noir 2006
Vale Central, Chile – de R$ 21,00 a R$ 24,00
Vinícola com preocupações ambientais e certificada pela agricultura orgânica. Difícil recomendar um pinot noir do dia-a-dia, mas a correta linha bicicleta tem varietais que primam pela qualidade. Agradável, corpo médio (como se espera de um pinot) aromas leve de cereja. Outra dica da mesma linha é o branco da uva riesling.
Emiliana, Cabernet Sauvignon
Valle Rapel, Chile – de R$ 21,00 a R$ 24,00
Esta vinícola também alia vinhedos orgânicos com rótulos de grande produção. Tinto com um nariz mais presente que a boca, que é mais ralinha, mas agradável. Um cabernet sauvignon mais para o lado da juventude, da fruta fresca. Se ajeitou bem com uma massa com molho de carne.
Periquita 2004
Terras do Sado, Portugal – R$ 24,00
O tinto português mais vendido no país. Desde a safra de 2001 modernizou seu corte e ficou mais macio e fácil de beber. Resultado da adição de uma porcentagem maior das castas aragonês e trincadeira à tradicional uva castelão (a periquita), que dá a grande personalidade deste vinho.
Don Roman Tempranillo 2005
Rioja, Espanha – R$ 29,90
Este espanhol está sempre presente em listas de vinhos de bons preços. Mais que correto, tem um bom volume na boca, aromas presentes de especiarias e tostados gostosos. Nos restaurantes do chef e proprietário do La Vecchia Cucina e La Pasta Gialla, Sergio Arno, são servidos com o nome de Arno no rótulo. Foi escolhido por Veja São Paulo como boa opção de custo-qualidade entre os rótulos personalizados dos restaurantes da cidade.
.com 2005
Alentejo, Portugal – R$ 29,90
Com este nome no rótulo, não podia faltar nesta lista do blog do vinho. Uma mistura das cepas portuguesas trincadeira e aragonez com a francesa cabernet sauvignon e a “francesa de alma lusitana” alicante bouschet. O produtor Monte dos Cabaços (é isso mesmo, gente, não errei) faz um vinho moderno, quente, ao gosto do consumidor atual.
Los Vascos Cabernet Sauvignon
Vale Colchagua, Chile – R$ 30,00
Frutado e bem feito cabernet chileno com boa acidez, álcool controlado e aquele toque amentolado chileno. Um estilo que não muda. Sempre um boa pedida e, além do mais, sempre dá para dizer que está diante de um Barons de Rothschild.
Los Cardos Malbec 2006
Luján de Cuyo, Argentina – R$ 30,00
Tinto da vinícola Doña Paula que abriu a coleção de livros Vinhos do Mundo, Adega VEJA, da qual ajudei a selecionar: macio, bom de nariz, redondo na boca, nem um pouco enjoativo, como às vezes acontece com a malbec.
Le Bateaux Syrah 2006
Languedoc, França – R$ 35,00
Raro tinto francês na linha bom e barato. Best buy da revista americana Wine Spectator. Não é à toa, tem aquela perceptível especiaria da syrah com frutas bem maduras e a chancela da Domaines François Lurton.
Trio Merlot, Carmenère, Cabernet Sauvignon 2007
Valle Central, Chile – de R$ 37,00 R$ 39,90
Esta linha da gigante Concha y Toro é sempre resultado da mistura de três variedades (daí o nome), a primeira domina o corte, no caso aqui, a merlot. Apesar do preço fora da proposta inicial foi incluído só para chamar atenção de um pequeno detalhe. Muitas vezes, estes cortes por preço (no caso até 35 reais) em uma lista de v
inhos deixam de fora rótulos bem bacanas. Por 2 ou 4 reais a mais, você tem na taça um tinto saboroso, macio, com notas de chocolate – resultado de um trabalho criterioso do enólogo. Pense nisso também na hora da compra, para menos e para mais
BRANCOS
Casillero del Diablo Sauvignon Blanc 2006
Vale Central, Chile – R$ 26,50
Tem larga distribuição em supermercados e lojas. Boa acidez e frescor. Um toque cítrico que agrada; um aroma de maracujá facilmente perceptível, muito encontrado em sauvignon blanc. Uma recomendação sem medo de errar. Faz um sucesso danado com uma pescadinha lá em casa.
Pizzato Chardonnay
Rio Grande do Sul, Brasil – R$ 27,00
Este não é um chardonnay para quem gosta daquele estilo mais intenso com as notas de barrica, meio amanteigado. Este exemplar nacional aposta na linha contrária, não passa pelo carvalho e tem uma acidez mais presente. Uma opção de chardonnay mais para o frescor.
Villa Montes Sauvignon Blanc 2006
Vale Central, Chile – R$ 31,00
A sempre confiável Viña Montes produz este ótimo e fresco sauvignon blanc, de pureza varietal e cítrico, como é comum nesta uva no Chile. Provei a primeira vez junto a produtores, num agradável almoço, e ficou sempre na lembrança como uma boa opção de branco, que repito sempre que posso.
Borba Antão Vaz & Arinto 2005
Alentejo, Portugal – R$ 31,00
A mistura dessas duas castas típicas portuguesas resultam num branco de aromas cítricos, boa estrutura e com toques de baunilha, resultado da fermentação realizada em barricas de carvalho. Há sempre uma boa discussão sobre qual a melhor harmonização com o bacalhau. Eu, por exemplo, prefiro brancos mais estruturados. Em Portugal os tintos têm a preferência. Provei este Borba com um bacalhau grelhado, em meio a tintos muito mais caros e famosos, e este se encaixou melhor no meu radar de harmonização. Quando soube do preço, então, a felicidade foi maior.
Alamos Chardonnay 2007
Mendoza, Argentina – R$ 32,15
Branco premiado mais básico da linha Catena. Passa seis meses no barril de carvalho o que aquele sensação cremosa de um chardonnay mais encorpadão, mais recomendado para peixes mais fortes e aves. Bastante elogiado pelos bacanas do vinho de todas as estirpes: a lista começa em Robert Parker, passa pela rival britânica Jancis Robinson e ainda pela revista americana Wine Spectator.
Os leitores deste blog podem contribuir com suas recomendações e tornar esta lista mais rica, completa e diversificada, aí embaixo, nos comentários.
Preços coletados entre os dias 3 e 6 de outubro de 2008 nos sites daslojas Mistral, Expand, Zahil, Rei dos Whisky’s & Vinhos VIP, Imigrantes Bebidas, Pão de Açúcar e Bom Marché
Olá! Aqui vai mais uma dica da boa vinícola Cono Sur: O Pinot Noir Bicicleta Reserva 2007 é bem melhor. Custa em torno de R$32 na expand. Um vermelho rubi muito bonito e brilhante. Frutas vermelhas (morangos e cerejas),especiarias e toques de baunilha na medida certa. Acidez correta e taninos macios, agradáveis com um toque mineral ao fundo. Tem um bom final de boca deixando-a seca. Gostei muito!
de retiro, atenta ao que importa. 🙂
dicas de vinhos bons e baratos
Sempre me impressionou o nível dos preços dos vinhos no Brasil.Os vinhos portugueses que mencionam são todos do nível médio-baixo, respeitáveis vinhos do dia-a-dia, que se encontrarão à venda em Portugal por preços seguramente bem abaixo dos 5 euros. O branco Borba rondará os 2,5 a 3 euros, por exemplo. Aí será vendido a preços que quadruplicarão os preços portugueses.Compreenderia tal política se fosse utilizada para proteger a agro-indústria brasileira do vinho, mas depois vemos (e bebemos) vinhos brasileiros de não muito boa qualidade – embora, sejamos justos, a qualidade tem aumentado nos últimos anos – a preços bem mais elevados do que se bebe vinhos equivalentes ou melhores na Europa.Parece que, no Brasil, se quer manter o vinho como produto de luxo, remetendo-o a uma pequena élite, quando o vinho sempre foi um alimento popular. Não, não é engano, o vinho é, e sempre foi, considerado um alimento. Como qualquer outro, a ser consumido sensatamente.
Concordo com o José Almeida, esses vinhos portugueses são nível baixo. E por curiosidade, como alguém pode realmente gostar do Periquita? Mil vezes um Dão razoável, se vamos falar de preços…O melhor no Brasil é o Rio Sol, superando com folga todos os importados, imho.Parabéns pelo blog.
Não segui a dica do blog ao pé da letra, mas apostei no cabernet sauvignon(2006) da mesma linha “ciclista” da Cono Sur. Bingo! Fruta fresca, corpo de médio para cima, textura aveludada, taninos no ponto,acdez no ponto e boa persistência, tudo isto por 18 reais(Greenfruit de Teresópolis). Uma boa sugestão do site da Wine
Caro Sr Roberto. Sou nascido e criado na região oeste de Santa e bela Catarina e desde pequeno todo mundo falava do tal vinho de colonia produzido artesanalmente naquela região. Naquela época eram produzidos vinhos tintos secos de ótima qualidade (de acordo com minha ignorância vinícola) pelos Nonôs e Nonâs e envelhecidos em barris de madeira. Eram vinhos que se bebia o dia inteiro e não davam dor de cabeça no outro dia. Até hoje este predicado indica na região um vinho de boa qualidade. Pergunto ao sr. se já viajou para essa região e se já bebeu esses vinhos. acho que seria uma exelente matéria para vocês, alem de conhecerem aquele povo maravilhoso. Apartir do interior de Xanxere até o estremo oeste catarinense o sr. terá otima aventura vinhista e gastrônomica. Abraço.
Segue para arquivo.
Caro Roberto, é a primeira vez que estou lendo suas avaliações e gostaria de saber qual a sua opinião e sugestões sobre tintos na faixa de 50 a 100 reais. Tenho experimentado alguns como Terrazas, cousiño-Macul antiguas reservas, Santa Helena Selección del Directorio, Salentain (todos cabernet sauvignon) e me pareceram bem melhores (os 2 últimos principalmente) do que aqueles de faixa de preço inferior.Abraços
Olha aí.. para vc começar a estudar o assunto… não se esqueça que vai escolher o vinho da próxima vez…