A chamada Lei Seca, em vigor desde o dia 20 de junho de 2008, promoveu muito debate entre os enófilos. Alguns manifestos circularam pela web. Na linha: “Não coloque no mesmo engradado o bebedor de vinho com o de destilados e cervejas. Somos outro tipo de gente!” Hum… Ok, usar a mesma régua para julgar o efeito de duas taças de vinho em uma refeição e aquele cidadão que derruba o bar e sai cambaleando até o seu veículo é discutível. Mas uma verdade é inquestionável: não há valor mais precioso do que uma vida humana. E é disso que se trata, diminuir o número de acidentes e mortes, evitando a combinação álcool & direção. E vinho é uma bebida alcoólica, não se esqueçam, a despeito de toda sua rica história, cultura, charme e poesia. Aliás, é no álcool que está a graça do vinho, se não mudávamos para suco de uva, e estava resolvido, certo?
Os números da Lei Seca
Um estudo exclusivo e inédito do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito, do Ministério das Cidades) realizado em treze capitais brasileiras, contudo, mostra que a queda do número de acidentes com vítimas foi menor do que esperado, diante de todo barulho que as medidas produziram. Foram comparados o mesmo período de julho e agosto dos anos 2007 e 2008. Os números são de acidentes nas metrópoles, não são considerados os números nas estradas
Em números absolutos, em 2007 foram registrados 15.679 acidentes contra 15.467 no mesmo período em 2008 (veja tabela). Ou seja, mesmo após a promulgação da lei que pune o motorista embriagado com multa de 957 reais, cassação da habilitação por um ano e até a prisão, aconteceram apenas 212 acidentes a menos.
Já em vítimas fatais, o quadro comparativo aponta 3.062 mortes contra 2.989 no mesmo período nas treze capitais. Em algumas cidades a diminuição foi sensível, 112 mortes a menos no Rio de Janeiro. Em compensação, foram 97 a mais em Belém do Pará (veja tabela de acidentes fatais). Os Denatrans, que são órgãos estaduais, ainda não explicaram os resultados individuais de cada capital.
Em números absolutos, foram 73 mortes a menos. Muito? Pouco? Como dito acima, não há valor maior que o de uma vida. Mas, em termos absolutos, deixa a desejar. A mudança de comportamento do motorista, que foi sensível em um primeiro momento, parece que mostra sinais de arrefecimento. Culpa da fiscalização? Talvez, mas há um limite para isso. O número de autuações nessas mesmas capitais cresceu de 2.685 para 4.330 registros. Um aumento de 66%!!! Mesmo assim, espalham-se, sem qualquer prova, histórias de tabelas com o valor de propinas cobradas para livrar a cara das multas.
Atire a primeira rolha
O sinal amarelo está aceso. O Denatran ainda aguarda informações de outras capitais, mas deve divulgar oficialmente este estudo nesta semana. E todos os motoristas, enófilos ou não, devem estar atentos aos resultados divulgados. Existem leis que regulam o tema em diversos países, incluindo aqueles em que o consumo de vinho é muito maior que o brasileiro, como a França. Beber com responsabilidade é um argumento muito mais contundente que a gritaria histérica. A regulamentação é educativa. Obriga a refletir sobre o assunto. Parafraseando um post anterior: atire a primeira rolha quem não pensou duas vezes antes de assumir a direção do carro após umas taças a mais de vinho, depois de 20 de junho…
Prezado Roberto,Muito me entristece que formadores de opinião como você caiam nesse engodo que são as estatísticas divulgadas pelas autoridades de trânsito. É certo que a vida humana é importante e que a direção irresponsável deve ser coibida. No entanto já tínhamos uma lei eficaz nesse sentido. O que não existia era fiscalização. Por que o DENATRAN não divulga as estatísticas das ações de fiscalização realizadas antes e depois da nova lei? Isso mostraria claramente a verdadeira causa da redução do número de acidentes fatais.
Sem fiscalização, não há lei que “pegue”! A nossa lei anterior já era bastante eficaz, porém não foi exigido da sociedade o seu cumprimento. Zerar o limite é hipócrita, irracional e fere o direito individual do cidadão que toma 2 taças de vinho, num jantar, com um acompanhante. Os demagogos legisladores colocaram fim até nos jantares românticos! Fala sério.
Cadê o Espírito Santo na lista?
Sobre este assunto, o site Vinho Virtual (www.vinhovirtual.com.br) publicou uma pesquisa sobre o impacto causado pela Lei Seca no consumo de vinho no Brasil. Recomendo a leitura completa em: http://www.meuvinho.com.br/news/default.asp?id=237
Apenas para efeito estatistico faltou considerar o razoavel numero de veiculos novos que entram em circulacao a cada ano, quase dois milhoes.