Os dicionários acordaram diferentes neste primeiro de janeiro. Pelo menos é o que estabelece o novo acordo ortográfico firmado entre os países de língua portuguesa. Os corretores ortográficos do Word, no entanto, insistem em colocar acento nas minhas ideias. Aí eu tenho de retornar o cursor e num gesto heroico eliminar o sinal gráfico do palavra e também da minha memória. Nem sempre a tecnologia acompanha a velocidade das leis ou a adequação das regras gramaticais. Muito menos nossa autoestima está preparada para mudanças de hábito, ou pior, de regras.
E o que a falta do trema, a sublimação de uma acento agudo e a alteração do hífen têm (este circunflexo aqui permanece) a ver com o tema desta coluna? No campo das ideias, a guilhotina que ceifa um acento pode ser comparada às mudanças registradas nas vinícolas e regiões produtoras. A reação e o mal-estar podem ser semelhantes.
Qual a consequência?
No mundo do vinho as legislações e conceitos sofrem constantes mudanças, sempre sob severas críticas. Olha lá a região de Champgne alargando fronteiras para atender mercado consumidor, a denominação de Chianti querendo quebrar a rigidez quanto ao uso de uvas autócnes, e mesmo novos produtores de Bordeaux tentando oxigenar a pesada herança histórica que legisla sobre seus caldos e rótulos, só para ficar em alguns casos.
Já os gramáticos, também eles, creem que a reforma dos acentos tônicos e agudos podem intensificar a integração dos povos lusófonos, a melhorar a qualidade da escrita, enfim a cumprir o papel de evolução que é próprio das línguas falada e escrita.
Não se discute a razão, mas o processo: os vinhos, assim como a língua, são elementos vivos, sua evolução é natural e necessária para o seu desenvolvimento, crescimento e mesmo permanência.
E qual a consequência das mudanças, afinal? Nós que brindamos e elegemos safras atuais não nos damos conta das alterações que alguns vinhos sofreram em sua linha do tempo, e provavelmente estranharíamos seu paladar se os vinhos não mudassem com o passar dos anos. Como se sabe, os espumantes eram mais doces, os tintos mais ralos, e por aí vai. Da mesma maneira, não percebemos, nem lamentamos, o fim do “ph” de pharmácia.
Noves fora, não adianta procurar pelo em pera!
Não se convenceu, certo? Você é contrário a qualquer mudança? Daquele tipo antissocial mal-humorado que blasfema contra as inovações da vida? Fique tranquilo. A espinha dorsal é preservada, tanto no mundo dos fermentados de uva, onde a tradição é guardiã da identidade de uma região ou tipo de vinho, como no da língua portuguesa. O novo modifica o velho, mas sem alterar seu DNA.
E não adianta se rebelar, os novos estilos de vinho vão surgir, a língua sofrerá outra modificação em algum período de sua vida e, querendo ou não, a partir de hoje você é um sujeito antissocial com dois esses e um mal-humorado com hífen! Relaxe e para (do verbo) de procurar pelo em pera! (o ditado é pelo em ovo, mas, para o propósito deste texto, não é uma solução. Ovo já perdeu o circunflexo em canetada anterior…)
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demaissssssss!!!!!!!!parabens…..
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