O enófilo, consultor e escritor Carlos Cabral é uma exceção no mundo dos vinhos. Em vez de ocupar o tempo dos leitores com sua opinião, ele é um dos raros conhecedores da boa mesa e das melhores garrafas que se dedica à pesquisa. Seu mergulho em documentos, coleções e arquivos já resultaram em dois importantes livros para quem tem interesse pelo tema: Presença do Vinho no Brasil (2004) e Porto e Um Vinho e sua Imagem (2006).
Nesta segunda-feira chega às livrarias um terceiro volume desta faceta de escriba e de pesquisador de Cabral. Trata-se do elegante e bem-cuidado volume A Mesa e a Diplomacia Brasileira – O Pão e o vinho da concórdia. Neste volume, o vinho deixa de ser o protagonista, mas é parte integrante do itinerário que leva o leitor para uma viagem pelo cerimonial e pelo protocolo dos banquetes e recepções da diplomacia brasileira desde a fundação da nação.
À primeira vista o tema parece ser aborrecido, como tudo que envolve protocolos, fraques e cerimonial. Algo como o vinho de polainas; o prato de abotoaduras. Mas não, o livro é um importante registro histórico, conduzido com competência por um autor acostumado com o rigor na pesquisa, e revela a importância do banquete na vida pública. Cabral dedicou 3 anos de pesquisa no Itamaraty do Rio de Janeiro, onde explorou mais de 6,5 milhões de documentos. “O pessoal responsável, que tem em media 30 anos de trabalho no arquivo, adorou o ineditismo da obra”, revela o escritor. O leitor também deve se deliciar.
A obra está dividida em três partes. Em o Banquete, traça uma rápida linha do tempo da importância do banquete ao longo da história da humanidade. Em o Itamaraty, conta-se sobre a instituição do edifício-sede do serviço diplomático, no Rio de Janeiro, que virou sinônimo da diplomacia brasileira e seu sucedâneo, no Palácio do Planalto. Mas a parte que se escaneia com curiosidade de lupa é aquele que trata da Mesa Diplomática propriamente dita: o intrincado papel do cerimonial na organização das mesas (ótimas as curiosas reproduções de desenhos que mostram a distribuição dos lugares à mesa de uma recepção – isso sim é serviço diplomático!), os utensílios e pratarias utilizados e finalmente os banquetes, cardápios e cerimoniais. O relato cobre desde o tempo do Barão do Rio Branco, que normatizou o serviço – período dominado pela gastronomia francesa e vinhos idem, com um espaço para o Porto e o Madeira -, até chegar aos anos mais recentes, com a inclusão do cardápio brasileiro e do vinho nacional, introduzido pelo presidente Collor, em 1990. As reproduções dos cardápios e fotos dos eventos são saborosas crônicas visuais de um estado que se senta à mesa para receber, negociar e comemorar acordos diplomáticos.
Um cardápio típico do início do século passado
Potage à la royale
Filet de robalo hollandaise
Jambom à la gelée
Mignonnette de veau niçoise
Asperges chantilly
Dindonneau trouffé aus marrons
Charlotte siberienne
Mignardises
Vins
Xerez, Sauternes, Margaux, Côte de Nuits, Veuve Clicqout et Porto
Café et liqueurs
Cardápio oferecido ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, em 22 de novembro de 2004:
Camarão flambado ao molho de ragu
Purê de mandioca
Filé mignon ao me pimenta verde
Souflé de goiabada com nuvem de catupiry
Vinhos
Casa Valduga Premium Chardonnay 2004
Casa Valduga Cabernet Sauvignon Premium 1999
E Casa Valduga Asti
O autor
Carlos Cabral foi o fundador da primeira confraria de vinho do Brasil, a Sbav – Sociedade Brasileira dos Amigos do vinho, em 1980, e proprietário da Casa Cabral, famosa por seu bacalhau, que, dizem, é insuperável. Nos últimos anos ficou marcado como consultor de vinhos do grupo Pão de Açúcar. Provavelmente você já topou com um retrato de Cabral nos folhetos do supermercado. Além de decidir quais tintos, brancos, espumantes e fortificados vão para a prateleira, formou e treinou mais de 100 atendentes de vinho da rede, conhecidos como Cabralzinhos. Espécie de embaixador do vinho do Porto no Brasil, aliás uma de suas maiores paixões, prepara um Dicionário do Vinho do Porto, em parceria com outro craque do fortificado, este de além mar, o português Manuel Joaquim Poças Pintão.
Este personagem múltiplo, capaz traduzir com uma enorme facilidade o vinho para plateias leigas em suas palestras, dono de um humor fino, daquele tipo que conta piada até em velório sem sair do tom, se mostra cada vez mais o autor mais credenciado para mostrar às atuais e futuras gerações uma parte oculta da cultura de um povo e de uma nação. Talvez a mais divertida, a da gastronomia e do vinho.
Serviço
A Mesa e a Diplomacia Brasileira – O Pão e o Vinho da Concórdia (Editora de Cultura, 263 páginas, R$ 90,00)
Lançamento:
Livraria Cultura.Avenida Paulista, 2073 (Conjunto Nacional), tel 3170-4033, Metrô Consolação. Segunda (30), 19h.
Ola Sr. Gerosa,Excelente post. Sera que o Lula eh informado sobre os cardapios ou, como sempre, soh fica sabendo depois de ter comido? Nao precisa responder, todo mundo ja sabe a resposta.
Nossa, já foi gostoso ler a reportaem, imagino o livro… Com certeza fará parte de minhas futura compras.Abraço.
CARLOS CABRAL SEM DÚVIDAS,TEM AMOR PELO QUE FAZ,E PAIXÃO PELA VIDA,E PELOS VINHOS!QUEM O CONHEÇE,SABE DISSO!CONTAR COM MAIS LIVRO DE SUA AUTORIA,É VIAJAR NO TEMPO E NA HISTÓRIA.
Boa noiteSou professora do Curso Técnico em Secretariado da ETEC – Presidente Vargas (Centro Paula Souza)de Mogi das Cruzes, onde ministro a disciplina de Etiqueta, Protocolo e Cerimonial, interessei-me muito pelo livro mas não possuo no momento condições am adquirir o livro, gostaria de saber se haveria condições em receber um exemplar para usá-lo em sala de aula.Atenciosamente,Profª. Maria Rita Barros da Silvamatricula nº 23478