A Itália ocupa hoje a quarta posição no ranking dos vinhos mais importados no Brasil, atrás do Chile, Argentina e França. São 12,82% do volume total de litros de fermentados que entram por aqui. Mas com exceção dos proseccos que ainda são arroz-de-festa nas prateleiras tupiniquins, outros rótulos italianos são mais raros de encontrar. O que é uma pena, pois em geral os tintos e brancos da Bota são insuperáveis companheiros da gastronomia, de massas com molhos variados, risotos e assados diversos, alem de escoltar com leveza a pizza sagrada do fim de semana. A acidez e taninos presentes neste vinhos, em geral, pedem comida. Arrisque mais na próxima vez que for escolher um rótulo e tente uma uva ou região novas. No geral a surpresa é positiva.
Pinot grigio e refosco
Se aventurar pelos rótulos italianos é descobrir o sabor e aromas diferenciados de suas uvas típicas, distribuídas nas diversas regiões que compõem o mosaico de DOCs do país. Os vinhos do Friuli, no norte italiano, começaram a se destacar no mercado internacional na década de 1970. As principais DOCs (denominação de origem controlada) são: Colli Oriental Del Friuli, na metade norte; Collio Goriziano, na província de Gorizia, na metade sul, também conhecida apenas por Collio – corruptela de coli, palavra italiana que significa colinas -; Grave e Isonzo, estas mais próximas à vizinha Eslovênia.
Nos vinhedos de Collio, 85% da produção são de brancos secos. A uva branca pinot grigio é a protagonista e já ultrapassou a regional friulano. Nas DOCs de Grave e Isonzo os tintos também são importantes, ali a internacional merlot e a regional refosco dão as cartas.
Da região de Friuli chegam dois exemplares provados recentemente e que dão uma dimensão deste caleidoscópio gustativo. Um vinho branco da uva pinot grigio e um tinto da uva refosco. Os dois rótulos são do mesmo produtor, Fantinel, na ativa desde 1969 na região.
Borgo Tesis Pinot Grigio 2008 (Fantinel, Interfood Classics, R$ 66,00). Fresquíssimo, uma cor clarinha e levemente rosada; é aromático, mas com certa parcimônia, não fica se atirando no nariz com volúpia, aparecem ali umas frutas brancas mais ácidas, como pêra e maçã verdes. No primeiro gole, aquela acidez que enche a boca e a confirmação das frutas que apareceram no nariz. Uma brisa na taça para rebater esta canícula de fim de verão. Na mesma linha, há uma opção tinta, um merlot (Borgo Tesis Merlot 2008) de mesmo preço e totalmente dispensável, que não entrega o mesmo prazer do seu parceiro branco seco. Alem do mais, se é para provar um merlot, por que escolher uma garrafa italiana se há tantas opções mais autênticas para testar?
Refosco dal Peduncolo Rosso 2008 (Fantinel, Interfood Classics, R$ 66,00). A uva branca pinot grigio é até capaz de você conhecer. Mas aposto que nunca provou, ou ouviu falar, da refosco. Eu nunca tinha ouvido falar. Muito menos a dal peduncolo rosso, uma subvariedade cultivada no Friuli. Provar vinhos de uvas nativas e pouco divulgadas é como garimpar um livro em edição original em um sebo. Tem aquele apelo da descoberta de algo que existia há muito tempo mas você desconhecia. De descobrir o novo, que na realidade é antigo, mas estava escondido. Melhor ainda quando o conteúdo surpreende. É o que acontece aqui. A começar pelo nariz: um delicado floral com uma pegada de terra, um toque tostado, de frutas vermelhas como cereja madura, ou a mistura disso tudo. Redondo na boca, mas com os taninos batendo continência, tem corpo médio, sem aquela potência desnecessária. A acidez está presente, mas não é cortante. Não é um vinho complexo, cheio de camadas, mas uma experiência agradável onde tipicidade se revela e surpreende pela autenticidade.
Pimenta no peduncolo dos outros é refresco!
As duas garrafas, acompanhadas de outras tantas que não vêm ao caso, foram provadas na presença do dono do vinho, Marco Fantinel, terceira geração no comando da vinícola. A degustação se deu em volta de uma mesa, como convém a um encontro com um italiano. Enfiando o nariz na taça e estalando a língua a cada gole estavam especialistas, doutos e palpiteiros oficiais. Eis que surge uma questão etimológica: que raios distingue um refosco de um refosco dal pedunculo, e ainda por cima rosso? Entre os vários palpites, os seguintes: trata-se da parte de baixo do cacho da uva, que é mais avermelhado; é a haste principal do cacho e, por fim, são os pequenos engaços que prendem o fruto à haste principal. Marco Fantinel tentou explicar a questão. Mas precisou desenhar para ser entendido. Com um cacho de uvas na mão ele destacou suavemente uma fruta e mostrou o pequeno cabinho que prendia a uva do seu coletivo. E apontou: questo è il peduncolo, que no caso do refosto do Friuli ainda por cima é rosso (avermelhado). E daí, pode-se perguntar o leitor deste blog? O vinho tem gosto de peduncolo? Isso é importante? Claro que não, é só uma característica da variedade. Mas no mundo do vinho qualquer detalhe pode ser importante para definir o perfil da bebida. Um apreciador de vinho, afinal, não se forma só por aquilo que bebe, mas também pelo conhecimento que adquire.
Vc poderia nos informar aonde achamos esses rótulos italianos? Moro em Ribeirão Preto (SP) e nas casas daqui nunca os vi.
Caro Rogério, estes vinhos são importados pela Interfood Classics. No site da empresa é possível ter informações de como e onde encontrá-lo.
http://www.interfood.com.br/vinhos/classics.html
Grande abraço
Caro Gerosa,
fico feliz com o retorno do seu Blog. Ainda no blog, na época da Veja, eu tive oportunidade de provar sua presteza e boa-vontade em responder pergunta minha. Parabéns e continue no seu caminho, que continuamos fãs.
P.S. Adorei o post dos Vinhos de Mesa, muitos se iniciam no vinho, inclusive eu, aqui no Nordeste, com essa mistura indiscriminada de uvas, normalmente com nome de um santo e chamada por muitos de vinho.
Na argentina, pude observar, naqueles restaurantes onde os portenhos frequentam, sempre há um tal “vinho da casa”, normalmente em barris, pelo que me informei, vêm de Medoza, e pelo sabor são de uvas viníferas. Você já os gostou? Achei bem diferente dos nossos vinhos de mesa, mas a proposta é a mesma.Lamentavelmente, os argentinos estão melhores do que a gente nos vinhos de mesa também. Qual a sua opinião?
Caro Sawatani,
Fico grato pelo reencontro. Infelizmente não posso opinar sobre o assunto pois não provei os vinhas da casa na Argentina. Creio que sejam mesmo de uvas viníferas, o que não é também uma garantia de qualidade, mas um patamar acima dos vinhos suaves nacionais.
grande abraço
Prezado Gerosa ,
Interessante a dica desse artigo.
Pinot Grigio já esta na minha lista.
Abraço
não sou de comentar mas esse blog é mt bom
Boa tarde.
1. Sou Enologo senior e resido em Lisboa-Portugal
2. Procuro grandes volumes de Vinhos e Espumantes p França
3. Pretendo tambem saber qual é a maior Vinicola Argentina
4. Pretendo comprar uma Bodega no Chile.
Podem ajudar-me.
Obrigado,
MPS