Alguns blogs (incluindo este), sites e revistas especializadas tratam muito de vinhos consagrados, premiados e bem pontuados. Ou então as novidades ou raridades que são objeto de desejo dos amantes da bebida. Mas raramente o foco é o vinho que os consumidores acabam adquirindo pelo critério do valor da etiqueta, para o dia-a-dia.
Um passeio pelos corredores dos hipermercados, no entanto, mostra pilhas de garrafas em oferta de rótulos que a maioria dos especialistas desconhecem, desdenham mas o povo compra. As garrafas de grande volume são a base da pirâmide do consumo no Brasil. Rótulos do Chile e Argentina entram rasgando nesta, digamos, janela de oportunidade do negócio do vinho; e ainda sobra espaço para uma mordida dos tintos portugueses, espanhóis e italianos.
E aí me ocorreu: por que nunca se fala destes rótulos, já que são eles os mais consumidos? Preconceito, falta de curiosidade, de coragem? Este Blog do Vinho resolveu encarar o desafio e conferir se o resultado na taça compensa a economia no bolso no caso de alguns rótulos de grande apelo de preço – isso, claro, sempre do ponto de vista de quem aprecia a coisa. Sempre lembrando que o corte deste Blog é o vinho fino, a bebida de garrafão é outra história (leia aqui).
Passeando casualmente em uma loja de um grande supermercado topei com o cenário descrito acima: grandes lotes de tintos de preços baixos e enorme exposição. Selecionei quatro rótulos de 12, 13 e 18 reais, aqueles com maior número de garrafas. Dois do Chile, um da Argentina e outro de Portugal, respectivamente. Nunca havia provado nenhum deles nem tinha qualquer referência.
Confesso porém que sou partidário do aforismo: “A vida é muito curta para beber vinho ruim”, e fui adiando a prova. Mas se não bebê-los, como sabê-lo? Em um fim de semana, enfileirei as garrafas, despejei os tintos em taças apropriadas, uma ao lado do outra, e provei os caldos. Por 55 reais, o preço de um vinho de padrão médio (nacional e importado) eu tinha à minha disposição 2.250 mililitros de fermentados de uva e uma expectativa – exagerada, convenhamos – de ser surpreendido.
A prova
Chiloe 2008 – R$ 12,90
Wine of Chie
Carmenère
Valle Del Maipo
Viña Indomita
Importador: Zaffari
13,5% álcool
Avaliação: RUIM
Ao abrir vem o álcool no nariz, na linha Zulu mesmo. Parece um vinho que não ficou pronto e foi para a garrafa mesmo assim. Herbáceo ao extremo, verde, adstringente. Parece que a gente está mastigando o fim da casca da uva. Taninos tão agressivos que pensei em abrir um BO contra a vinícola na delegacia mais próxima.
Costa Vera 2008 – R$ 11,90
Cabernet sauvignon
Indomita
Valle Del Maipo
Chile
Importador: Zaffari
13,5% álcool
Avaliação: RUIM
Menos álcool no nariz, apesar do desequilíbrio, e mais presente na boca. Uma fruta lá no fundo parece que fica querendo aparecer: “olha eu aqui, olha eu aqui”, mas é difícil achar. Muito curto, some na boca. Os taninos também pegam, mas não com tanta violência. Fica difícil reconhecer a uva cabernet sauvignon. O fim de boca é o fim mesmo.
Bigode 2006 – R$ 17,90
Portugal
Tinta roriz, touriga nacional, alicante bouschet e castelão
Vinho Regional de Lisboa/Estremadura
DFJ Vinhos
Importador: Casa Aragão
12,5% álcool
Avaliação: MEDIANO (melhor com a comida, alguma tipicidade)
O mais caro e mais antigo (safra de 2006) dos quatro rótulos. O único dos quatro que não é varietal (vinho de uma só uva), e sim um assemblage (mistura de uvas). Os quatro anos resultam em uma cor mais evoluída e menos fechada. Um toque de fruta vermelha, os sabores das uvas portuguesas (quem já provou o Periquita, por exemplo vai notar alguma semelhança), com corpo bem leve. O grau menor de álcool (12,5º) é perceptível – o que o torna mais gastronômico, mais fácil de beber. Foi declinando com o tempo na taça. Tem alguma tipicidade, que é importante na avaliação de um vinho. Bebi mais um gole um dia depois e ele ainda segurava a onda.
Aberdeen Angus 2009 – R$ 12,90
Malbec
Mendoza
Argentina
Finca Flichman
13% álcool
Avaliação: MEDIANO (o melhor da prova, maior tipicidade)
O mais novo dos rótulos provados. Mostra uma flor fácil no nariz, é doce na boca (típico de tintos do novo mundo, feitos para agradar). Desce mais fácil, agrada quem não exige muito de um vinho, mas tem alguma experiência com a bebida. Passa três meses em barrica e outros três na garrafa, segundo o produtor. Bom para quem quer conhecer algumas características da uva malbec argentina – mesmo com uma pegada mais maquiada – e quer pagar pouco.
Uma segunda opinião
Para não ficar na visão de um “chato” no assunto, pedi para minha mulher provar os quatro vinhos e dar sua opinião. Ela não é especialista, mas tem uma sensibilidade olfativa mais apurada que a minha e bom gosto para os tintos. Odiou o primeiro rótulo no nariz e na boca (“tem um aroma estragado”), procurou alguma característica do cabernet sauvignon no segundo (não encontrou), acho fraco o terceiro, apesar de um toque de alguma fruta e descobriu alguma qualidade no último, principalmente no primeiro impacto no nariz e na boca fácil, mas sem ter o prazer de repetir nenhum gole.
Uma terceira opinião
Para tirar a prova dos noves chamei meu filho mais velho (ele tem 21 anos, antes que me acusem a induzir o consumo de bebida alcoólica a menores de idade), e pedi para ele repetir a operação. Fez uma careta para o primeiro (“horrível”), achou médio o segundo, não gostou do corpo leve do português (“parece aguado”), e também preferiu o malbec argentino, e como resultado atraiu a unanimidade da prova.
Contexto
Importante ressaltar que todos os vinhos têm rótulo até de bom gosto e todos os descritivos informativos do produto: origem, região, nome da vinícola, teor alcoólico, tudo direitinho. Algumas garrafas até registram descritivos degustativos no contra-rótulo e sugestão de harmonização. Pobre mas limpinho, sabe? Ok, são vinhos de uvas prensadas até o limite, sem muito rigor de seleção de frutas, de terrenos menos nobres, e de grande volume, Não são rótulos para ganhar prêmio, mas para ganhar dinheiro. Muitas vezes são produzidos exclusivamente para um determinado supermercado para venda imediata e não são encontrados em seu país de origem.
De onde a gente menos espera
Claro que não se pode medir o todo por uma amostragem tão pequena. Se a expectativa foi exagerada – sempre sonho em me encantar com um vinho muito barato – a experiência é sempre didática. O fato de a seleção ter sido aleatória creio que aproxima mais o teste do comportamento da maioria dos consumidores. O resultado nem sempre é alvissareiro. Na loteria da escolha só pelo critério do preço, o risco é sempre grande. Vou repetir aqui a frase da minha mulher após se submeter à prova dos quatro rótulos: “De onde a gente menos espera alguma coisa boa é de onde não vem nada mesmo… “
Então fica a dica. Se o critério for preço, os tintos brasileiros bons, baratos e de vinícolas conhecidas (veja nota) são uma opção mais segura.
aa mais que bom
Passei aqui, apenas para dizer que sinto falta de mais posts do Gerosa que, não sei se é impressão minha, estão mais distantes uns dos outros. Pergunto sem cobrar, mas porque gosto muito dos mesmos e aprendo com seus comentários.
Quanto ao Duelo Aristóteles X Felipe. Achei o Felipe um pouco agressivo. Fiquei em duvida se as células vivas são dos micro-organismos, pois das uvas já nào tem mais nada vivo, e quanto ao melhor MErlot do mundo prefiro entender como piada mesmo.
Abraço ao Gerosa e às pessoas de paz desse blog.
Caro Mario
Você tem razão. O espaço entre um post e outro é excessivo.
Mas escrevo na medida de minhas possibilidades e de minhas atividades no iG.
Agradeço seus elogios e prometo publicar posts com maior frequência.
Daqui a pouco tem um post novo. Uma brincadeira com as eleições de domingo
Abraços e apareça sempre.
Leio seguidamente seu blog,gosto dele assim como gosto de vinho, apenas por prazer sem nenhum comprometimento de ser mais do que um apreciador,gostaria que tu me esclarecesses a classificação que tu fazes do vinho,para esclarecer ruim é ruim mas mediano vem depois de que e antes de que?Seria ruim,mediano,médio,bom,muito bom, excelente?Gosto do Aberdeen.Agradeço e um abraço.
legal
Para o meu paladar, o RAR é melhor que o Lote 43. Tive o prazer de ir ao Vale dos Vinhedos, gostei muito do Tannat da Vallontano.
Se é para falar em bons estrangeiros, prefiro o AMAT (das bodegas Carrau), o Quinta da Bacalhoa e do Marquês de Riscal. Acho que todos esses vinhos fogem do tema custoxbenefício.
Vinho é paladar, não me sinto obrigado a gostar de nenhum vinho porque ele é nacional ou estrangeiro, vinho é paladar, cada um tem o seu, estabeleça-se quem tem competência!!!!!
quantas calorias há em média em uma garrafa de tinto de 750 ml?????
preciso saber, no aguardo desesperadfo há alguem,
beijossssssss
Olha, sobre a avaliação do vinho Costa Vera que é considerado ruim neste blog, quero dizer que dos últimos vinhos chilenos que tomei/saborei o que menos ficou com gosto de puro álcool na minha boca foi o Costa Vera, então, eu aprovo a qualidade deste vinho.,
Quero comprar
Gostaria de saber o preço de um vinho branco bom, ao custo de mais ou menos R$ 20,00 a garrafa.
Pessoal,
Tomei o vinho Sutil , Chileno , e gostei bastante; porém não consigo mais encontra-lo no mercado, alguem conhece algum fornecedor?