Beber vinho do Porto é saborear um pouco de sua história. A região montanhosa do Douro, em Portugal, onde parreiras são cultivadas em jardins suspensos esculpidos pela mão do homem, foi a primeira região vinícola demarcada no planeta, em 1756, pelo futuro Marquês de Pombal. A região foi declarada pela Unesco patrimônio da humanidade em 2001. A casa mais antiga do Porto, que sempre sofreu influência direta dos ingleses, a Warre & CO, foi fundada em 1670. A tradição está presente em toda garrafa de vinho fortificado aberta.
Provar uma safra recente de um Tawny (uma das classificações do Porto), portanto, já é uma experiência que carrega esta rica herança em cada gole. Ter a oportunidade de degustar um Porto Colheita da safra de 1937 (da Casa Burmester), então, é mais que uma oportunidade rara. É um momento sublime para os amantes dos caldos do Douro: é o encontro do trabalho de uma geração do início do século com a elegância revelada na taça décadas depois. Trata-se de uma epifania vinífera. Um Porto desta idade revela cores de matizes acobreadas, aromas oníricos e evoluídos. O doce, e o álcool, na boca é dionísico e a acidez presente confere a vivacidade que mantém o conjunto harmônico e a complexidade exuberante. O vinho não é doce à toa. O acréscimo de aguardente vínica corta o processo de fermentação preservando parte do açúcar residual e garantindo longevidade ao fortificado.
Os descritivos de um Porto desta idade são todos superlativos: aromas infinitos de frutas secas, creme brulê e mel que chegam em ondas e volatizam na taça mesmo depois de esvaziadas – e fica aquela cena bizarra de narizes enfiados em copos sem vinho, mas com um Porto virtual suspenso no ar. A intensidade de boca e de fim de boca são longuíssimos – recomendam evitar a escovação dos dentes pelo menos até a próxima refeição.
Porto e filosofia
O Porto é um vinho contemplativo, como um romance de Machado de Assis, que envolve pelas camadas narrativas. Os Portos mais antigos têm a densidade da filosofia. Aliás, vinho do Porto, com sua doçura e viscosidade, na modesta opinião deste colunista, é um vinho que harmoniza com a leitura, com o pensar e o diálogo.
Há uma aposta audaciosa em produzir um vinho para o futuro, que vai envelhecer por muitos anos. O potencial de evolução de um vinho é um projeto que pode até ser desenhado na prancheta de uma vinícola, estar na cabeça de um enólogo, e até ser prevista pelos críticos mais doutos, mas só pode ser colocado à prova pelas gerações que estão por vir – geralmente sem o testemunho de seus criadores. É como planejar uma catedral: os projetistas desenham o edifício e lançam os alicerces, mas as derradeiras torres furam as nuvens sem a presença destes. No entanto, a beleza da obra está presente para ser admirada pelas gerações futuras.
Safras antigas e frascos pequenos
O Colheita 1937 foi desarrolhado na presença de um dos atuais enólogos da Casa Burmester, o engenheiro Pedro Sá, que desafiou os presentes a identificar o tipo de vinho numa primeira prova às cegas (aquela que é feita sem ver o rótulo). A mim me pareceu um madeira envelhecido. Pedro Sá não estranhou minha associação, pois é parte da proposta da Burmester privilegiar a acidez de seus caldos a fim de manter um estilo fresco e irreverente, o que aproxima de fato o Colheita provado de alguns Madeiras excepcionais. A joia da coroa tem preço de joia mesmo: 3.100,00 reais e serão embarcadas apenas doze garrafas no Brasil pela Importadora Adega Alentejana. Chegam acompanhadas das safras do Colheita de 1944 (R$ 2.133,00) e de 1955 (R$ 1.750,00). Se você tem uma dívida de eterna gratidão com alguém que seja um apreciador de vinho – e dinheiro para isso -, está aqui o presente dos sonhos de Natal. Ou então faça uma vaquinha na sua confraria e dê um presente a si mesmo.
Antes que me acusem de leviandade, por tratar neste espaço de um rótulo tão inacessível, vale o parêntese: um vinho de exceção só vem comprovar a qualidade de uma casa produtora de Porto, no caso a J. W. Burmester. A Burmester é uma dessas vinícolas com história. São 250 anos de tradição – foi fundada em 1750. A casa produz portos de vários estilos: Tawny, Ruby, LBV, Vintages de 10 a 40 anos e brancos – sim, para quem não sabe existem portos brancos (conheça aqui todos os estilos do Porto). Outra curiosidade da Casa são as garrafas de 50 ml, para momentos em que uma taça é a medida ideal de sua sede. Há pequenos frascos de todos os estilos: Burmester Ruby (R$ 6,80), Burmester Tawny (R$ 6,80), Burmester LBV (R$ 8,20), Burmester 10 anos (R$ 11,10), Burmester 20 anos (R$ 20,40) e Burmester 40 anos (R$ 52,40).
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Bom dia Sr. Beto Gerosa. Apreciei muito sua materia . Aproveito a oportunidade para informar-lhe que comprei a mais de 30 anos, em Lisbôa, um vinho do porto da safra de 1912 da marca Niepoort. Não tenho coragem de degusta-lo, por esse motivo gostaria de passa-lo a algum colecionador, ou apreciador corajoso. Esta embalado originalmente em um caixa de madeira. Caso queira enviarei fotos. Agradeço por sua ajuda. Arinto Cruz
Bom dia!!!
Por favor me informe onde consigo comprar as garrafas de 50ml aqui no Brasil.
Garto,
Marcos Finco
Caro Marcos,
As garrafas estão à venda na lojas de vinho. Mas você pode contatar a importadora.
Este é o e-mail http://www.alentejana.com.br/
abraços
legal muito bacana
Tenho uma Brasileira com o Rotulo do Corinthians que foi em comemoração aos 85 anos do timão. Já está com quinze anos.
Vou abri-la quando for campeão da libertadores. Provavelmente o ano que vem.
Vavá
cara vc nunca vai abrir esse vinho!!!!!uahuahauhauhaua
hoooo VAVA, se voce estiver esperando o Curinthias ser campeão da libertadores para abrir o vinho ele vai ficar com mais de 100 anos.
ai vai ficar bão.
Eu tenho alaguns Porto de 1947 e alguns Bordeaux de 1947 num total de 30 garrafas, ja estou saboreando gradativamente toda semana tomo uma garrafinha, que delicia, pretendo em 12 meses consumir minhas 30 garrafas, agora estou consumindo um cotê du rhone , a dias foi um bolla italiano de 1972 , estou no corvo italiano de 1975 , estou deixando estes portos e bordeuax para o fim , até o natla quando abrirei um bordeaux 1947 ,
Eu como um grande conhecedor de vinho digo com certeza, o melhor vinho do mundo e o randon frabricado no Brasil, so posso compra este …… rsrsrsrsr
O título da matéria foi mais do que apropriado .
Degustar um vinho desta safra, é como beber história …
Abraço
Ótimo trabalho, apenas acho que faltou comentar o Tanat brasileiro, via de regra de má qualidade, e especialmente o Tanat uruguaio, verdadeiro nectar dos deuses.