Nós viemos aqui para beber ou para conversar? Há leitores que reclamam que se fala muito de vinho neste espaço, mas há poucas dicas de rótulos. Para atender esta demanda de menos papo e mais garrafa aberta o Blog do Vinho estreia a seção ViG (Vinho indicado pelo Gerosa, este que vos escreve). O critério de escolha é uma mistura de curadoria e rede social: uma seleção dos vinhos que provo socialmente, ou avalio em degustações, e que indicaria para os meus amigos numa conversa informal, no facebook, no twitter.
Para a primeira lista dos ViG, selecionei 9 rótulos nacionais que provei recentemente e que merecem visitar a sua taça.
Por que começar os ViG pelos rótulos nacionais?
Por que não? Eu bebo sempre vinho nacional. E assim como acontece com vinhos de outros países, há os excelentes (mais raros), os bons, os médios e os fracos. Eu bebo rótulos nacionais, enfim, por que vivo no Brasil, gosto de vinho e mais ainda de variar – mas não por ideologia.
Tem aquele tipo esnobe, que surpreso com um bom vinho brasileiro sai logo se justificando: “Para um vinho nacional até que é bom”; há outros que defendem o fermentado brasileiro só pela sua certidão de nascimento e não pelas qualidades da bebida. Bobagem, preconceito é uma forma torta de avaliar o mundo. Nacionalismo é a forma tacanha de limitar o mundo ao seu quintal.
Aqui no Blog do Vinho o produto nacional é tratado como um fermentado de uva entre tantos outros. Sem desfraldar a bandeira e muitos menos com preconceito.
A qualificação do vinho brasileiro, aliás, foi impulsionada pela decisão do próprios produtores de melhorar o vinho fino e brigar de frente com a concorrência dos importados. Todo mundo ganha com isso.
9 ViG brasileiros que valem a pena conhecer
ESPUMANTES
Sim, os espumantes nacionais, em especial, do Vale dos Vinhedos, já ganharam muitas medalhas nos concursos mundiais. Sim, nossa produção tem uma qualidade constante e um preço acessível se comparado a espumantes e champanhes importados. Não, os espumantes indicados aqui não são os mais conhecidos. Mas se você gosta de borbulhas, merece experimentar os rótulos abaixo:
130 Valduga Brut
Casa Valduga
Preço médio: R$ 60,00
Este espumante da Casa Valduga é elaborado com as uvas chardonnay e pinot noir pelo método champenoise (ou tradicional), aquele que a segunda fermentação acontece na garrafa. E daí? Daí que este jeito de fazer espumante, que é o original, aporta mais sabor, elegância, cremosidade, borbulhas mais finas e consistentes e aquele aroma meio de pão torrado, de frutas secas e uma acidez que enche a boca. Um espumante verde-amarelo de classe. Um dos melhores que temos no país. Ah, e a garrafa é muito charmosa.
Don Giovanni Brut
Don Giovanni
Preço médio: R$ 42,00
A Dom Giovanni não é uma vinícola muito conhecida, fica na região de Pinto Bandeira, vizinha ao Vale dos Vinhedos, região de montanhas que está recebendo a Indicação de Procedência para seus rótulos. Este espumante, de série especial, também é elaborado com as cepas francesas tradicionais do champanhe, a chardonnay e a pinot noir. Antes de ser comercializado é envelhecido por 12 meses na garrafa o que o torna mais complexo, a espuma é espessa (o que é bacana para um espumante), a cor é mais dourada, aromas de maçã perceptíveis e tem aquele tostadinho envolvente e uma boa cremosidade na taça. O estilo está menos para o frescor da maioria dos espumantes nacionais e mais para a complexidade. Vale a pena conhecer.
Excellence Rosé Chandon
Chandon do Brasil
Preço médio: R$ 105,00
A subsidiária brasileira da Maison Moêt & Chandon fincou raízes em Garibaldi, no Rio Grande do Sul, em 1973. De lá para cá tornou-se sinônimo de espumante fino e de volume. Todos seus rótulos são elaborados pelo método charmat – segunda fermentação em toneis de alumínio -, pois a filosofia do grupo está mais baseada na qualidade do vinho-base. O Excellence Brut exibia até 2010 o troféu solitário de top de linha da empresa. No ano passado o rosé da linha Excellence foi finalmente lançado (a primeira leva teve apenas 5.000 garrafas produzidas) e hoje em dia é, de longe, o espumante rosé mais apurado, elegante, complexo e saboroso no mercado. A pinot noir predomina (74%), mas a chardonnay (26%) também participa da festa. Tem volume, persistência longa, aromas frutados de morangos e toques de torrefação que amarrados a uma excelente acidez convidam a um novo gole. Como nem tudo é perfeito, também é um dos espumantes mais caros do país. Se quiser uma opção mais barata de borbulhas rosé para festas, o caminho é o sempre correto Poética, da Salton (R$ 25,00).
TINTOS
Tinto é o vinho de preferência do consumidor brasileiro e mundial. E aqui a produção nacional também vem evoluindo ano a ano. Se na Argentina brilha a malbec, no Chile a carmenère e no Uruguai a tannat, qual a uva tinta que representa o Brasil? Há quem aposte na merlot, outros na revalorização da cabernet franc, que já dominou nossos vinhedos no passado. O curioso é que a cabernet sauvignon, menos citada, é uva presente nos vinhos topo de linha das principais vinícolas. Abaixo há indicações para todos os gostos – e uvas.
Quinta do Seival Cabernet Sauvignon 2006
Seival Estate (Miolo)
Preço médio: R$ 50,00
Este tinto do projeto Seival Estate, da Miolo Wine Group (apesar do nome, é nacional, ok?), é proveniente de vinhedos da Fortaleza do Seival, no município de Candiota, ali nas franjas do Uruguai. Da linha Quinta do Seival eu sempre preferi o Castas Portuguesas (touriga nacional, alfrocheiro e tinta roriz). Mas nesta safra de 2006 o cabernet sauvignon surpreendeu. Um tinto potente sem ser bronco, gostoso no nariz, aquelas frutas vermelhas com um pouco de madeira, e bem amplo na boca, saboroso e bem macio. Nasceu no ponto para ser bebido.
Salton Desejo Merlot 2007
Salton
Preço médio: R$ 60,00
“O merlot brasileiro está entre os melhores do mundo, o potencial é até maior do que do merlot da argentina e do Chile “ A frase acima é de Michel Rolland, o homem por trás de mais de cem vinícolas ao redor do mundo e que presta seus serviços de consultoria no Brasil para a Miolo. Se Monsieur Rolland defende esta tese, quem sou eu para discordar? Há rótulos bacanas, com Storia, da Casa Valduga, de vinhedos de mais de 10 anos, o Miolo Terroir (que paga o salário de Rolland no Brasil), o DNA da Pizzato, o Grand Reserva Merlot, da Boscato entre outros. Mas o merlot ViG é o Desejo, da gigante Salton. Já cometi uma prova às cegas com todos os grandes rótulos de merlot brasileiros citados e meu veredicto se manteve o mesmo da degustação às claras. O merlot do enólogo Lucindo Copat é um conforto para o paladar. Fruta madura presente no nariz, madeira integrada com o vinho, uma ponta achocolatada e macio que dá gosto. Não é cerveja, mas desce redondo.
Angheben Pinot Noir 2008
Angheben
Preço médio: R$ 33,00
Pinot noir brasileiro! Tá brincando, né? Não, é uma indicação sincera. Aceitei a recomendação de um vendedor de uma loja em Bento Gonçalves e arrisquei. Conhecia – e aprecio – o Barbera da Angheben, Abri desconfiado em casa e fui feliz. Primeira boa surpresa, teor alcoólico de 12,7. Tem aquela cor mais translúcida da pinot. Vinho leve, aromas frescos, delicado, sem passagem por madeira e com uma fruta gostosa. Despretensiosa tipicidade da pinot noir. Abrir, tomar e curtir. E cabe bem no bolso.
Pequenas Partilhas 2009 Cabernet Franc
Vinícola Aurora
Preço médio: R$ 35,00
A Cooperativa Aurora trata com igual respeito desde o vinho de garrafão até o vinho fino. Mais de 1000 famílias produzem e vendem as uvas para a cooperativa que seleciona as frutas para as mais variadas linhas de produto. Paula Guerra Schenato, uma das quinze enólogas da vinícola, é didática: “Fazemos os vinhos para o nosso consumidor”. Entre os rótulos da Aurora uma agradável surpresa é o Pequenas Partilhas Cabernet Franc. A série só é elaborada quando a variedade atinge níveis desejados de qualidade. A cabernet franc já foi predominante no Brasil e é a terceira uva tinta mais importante de Bordeaux (Pommerol e Saint Emilion). É mais leve e com menos taninos que a cabernet sauvignon e amadurece mais cedo – o que é uma vantagem numa região de chuvas constantes na época da colheita. O resultado é um vinho macio, de corpo médio e com uma baunilha herdada dos 5 meses de barrica. Um tinto gostoso e diferente que não fica brigando com a comida.
Elos Touriga Nacional e Tannat 2008
Lídio Carraro
Preço médio: 82,00
A Lidio Carraro, vinícola pequena e familiar (também atende por vinícola-boutique), veio ao mundo com algumas características: a) não usar madeira na evolução de seus caldos. “A madeira não piora o vinho, mas não seria a identidade do meu vinho”, explica Patrícia Carraro, representante de sangue da empresa; b) pelo marketing do terroir, quando ainda não era comum no Brasil a defesa da importância da terra e do clima e C) pelo posicionamento premium dos seus vinhos com preços mais altos que a concorrência. Seus rótulos recebem críticas ácidas de alguns e aplausos de outros. Na minha opinião são muito diferentes da média nacional, há um cuidado e uma proposta diferenciada, uma tipicidade que merece ser provada. Provocada com a questão: “Por que 0 consumidor deveria provar seus caldos?”, Patrícia Carraro responde de forma conceitual: “Por que há uma verdade em nossos vinhos”, pontifica.
O Elos touriga nacional/tannat tem origem nas uvas cultivadas em Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul, uma região que está mudando o perfil de alguns vinhos brasileiros. Trata-se de um corte de 77% touriga nacional e 22% tannat. A mistura de duas uvas com perfis bem diferentes dá certo. É o “vinho estilo rosa”, o casamento do perfume da touriga com a rusticidade espinhosa da tannat, resultando num caldo maduro, intenso, floral no primeiro impacto, de final prolongado na boca e com um tostado curioso – já que não passa por madeira.
BRANCO
Só um branco ViG? Desta vez, sim. A escolha aqui foi pelo inusitado. Para fugir da mesmice dos chardonnays (em geral com muita madeira), selecionei uma uva branca pouco divulgada no Brasil.
RAR Collezione Viognier 2010
Miolo
Preço médio: R$ 58,00
A viognier não é uma uva branca comum de se encontrar engarrafada no Brasil. Este empreendimento do empresário Anselmo Randon (mais conhecido pelas carrocerias de caminhão), supervisionado pela Miolo, tem vinhedos plantados na região de Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul. Uma das características da região é sua altitude (1.000 metros) o que favorece o cultivo de uvas brancas e da tinta pinot noir. O intenso floral dribla a armadilha do toque meio enjoativo e doce de alguns brancos da uva viognier e mostra um aroma mais equilibrado. Na degustação tem uma boa acidez e intensidade, uma certa cremosidade, pois passa um ano sobre borras em barrica de carvalho (acontece o seguinte, as borras vão aportando aromas, sabores e a tal cremosidade neste vinho branco). Um aperitivo e tanto, um branco de classe e elegância para ser bebido jovem. Surpresa total.
Sua indicação
O objetivo dos ViG, vinho indicado pelo Gerosa, não é encerrar um tema, pelo contrário, trata-se de iniciar uma discussão. Indique os seu rótulos preferidos na seção de comentários, assim a lista fica mais rica e variada.
É incrível como certos especialistas e passantes mal informados criticam os vinhos brasileiros, mas qdo resolvem fzr uma lista de notáveis brazucas sempre escolhem os mesmos medalhões e barões do Rio Grande do Sul (depois dizem que existe isenção) sem acrescentar nada de novo (exceto o Angheben). É impensável hj em dia falar de vinhos sem mencionar os vinhos de altitude de Santa Catarina, pois na opinião e de especialistas internacionais (Jancis Robinson, Oz Clarke, Robert Parker…) é disparado o melhor do Brasil e uma promessa a nível mundial!
Como não mencionar os vinhos da Villa Francioni (Rosé e VF 2005), Vinícola Santa Augusta (A Veuve Cliquot do Brasil), Villagio Grando (Terroir único), Sanjo (Sauvignon Blanc indescritível), Suzin (melhores tintos do Brasil), Santo Emílio (O fantástico Leopoldo), Pericó (único Ice Wine feito na América do Sul)… entre outras! Sugiro da próxima vez uma relação isenta ou uma pesquisa mais apurada, pois todo colunista de vinhos na hora de fazer uma lista de notáveis brasileiros tem uma tendência a escolher vinhos dos mesmos patrocinadores do IBRAVIN. Estou enganado ou é falta de informação?
Gostaria de sugerir uma degustação do espumante Santa Augusta Moscatel, da Vinícola Santa Augusta, um espumante fantástico.
Acredito que nos proximos 3 anos vcs poderão ter ótimas surpresas nos vinhos produzidos em Goiás. Bandeiras e Intrepido vão figurar na lista dos melhores do Brasil. Sem falar do Tempranillo que deverá sair pela vinícola Pirineus de Cocalzinho!