As férias estão acabando mas um fenômeno se repete todo ano: o preço abusivo e a qualidade duvidosa dos vinhos oferecidos em hotéis, resorts ou restaurantes de praia O serviço até que melhorou, as taças são adequadas, as garrafas na temperatura certa – graças a uma espécie de popularização das adegas climatizadas –, mas a lógica dos preços em vez de incentivar o consumo afasta quem poderia se arriscar nos brancos, espumantes e até tintos no seu momento de lazer, praia e mar.
A questão é: estes locais oferecem vinho, montam alguma infraestrutura para isso e aí escorregam na seleção dos rótulos e enlouquecem no valor cobrado. E aí quase ninguém opta pelo vinho – nem um refrescante branco na piscina, muito menos borbulhas na praia ou mesmo tintos nas refeições noturnas. Qual é o objetivo? Faturar muito vendendo pouco? É a inversão do famoso slogan dos biscoitos “vende pouco porque é muito caro ou é muito caro porque vende pouco?”.
Exemplos de arrepiar não faltam. Recentemente estive em praias do sul da Bahia e nos agradáveis restaurantes da Rua Mucugê, em Arraial d’Ajuda. Boa parte das casas oferece carta de vinho. Partindo deste pressuposto: se oferecem é por que há gente interessada, ou então é uma maneira de dar uma camada de sofisticação ao lugar. Ok, a variedade não chega a empolgar, mas os preços…
Vinhos nacionais a 700 e 500 reais
Em um restaurante italiano bem recomendado, por exemplo, o vinho parecia ter um tratamento diferenciado. Os garçons até vestiam aventais com o logotipo da vinícola Miolo. De fato a carta tinha um cuidado maior. Mas topei com preços de fazer corar o Michel Rolland (consultor internacional e contratado da Miolo) e de fazer o novo sócio do grupo, Galvão Bueno, berrar “Epa! pênalti!” O Miolo Reserva saía por 60 reais (29 reais em qualquer supermercado e sites de compra). Mas o grande destaque foi o vinho ícone Sesmarias: ele seria meu se desembolsasse 700 (se-te-cen-tos) reais! (A safra 2011 é vendida por cerca de 200 reais a garrafa no site da vinícola em venda antecipada em caixa de seis garrafas). O Storia Merlot, outro tinto ícone, este da Casa Valduga, saía por 500 (qui-nhen-tos!) reais (custa em torno de 160 reais nas lojas virtuais). Em compensação, justiça seja feita, havia uma seleção de italianos, talvez importação própria, com uma razoável relação custo-benefício diante deste descalabro. Mas era a exceção ao restante da carta.
Numa churrascaria na mesma rua, tintos argentinos mais comuns alcançavam a fronteira dos 100 reais. Um Terraza Alto del Plata (39 reais nos supermercados) cravava 115 reais na carta sem qualquer cerimônia. Muy amigo… No hotel em que estava hospedado um Concha y Toro Reservado (algo como 25 reais nas gôndolas), o mais baixo escalão da cadeia alimentar da gigante vinícola chilena, era oferecido a 56 reais; ao optar por uma qualidade maior, um Marques de Casa Concha (80 reais em média), também da Concha y Toro, o cliente desembolsava a bagatela de 180 reais. Espumantes nacionais variavam de 90 a 120 reais.
Nas mesas em quase todos estes restaurantes rara taças cheias de vinho. Volto a perguntar. Qual é a lógica? Vende pouco porque é muito caro ou é muito caro porque vende pouco?
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All inclusive, all garbage
Mas a armadilha pode ser pior. Ao escolher estes resorts all inclusive, você inclui também o risco de contrair uma dor de cabeça danada se for beber o vinho que oferecem nas refeições e os espumantes na piscina. No caso do hotel que fui em outra ocasião, próximo à praia do Forte, os vilões eram rótulos espanhóis – o grupo dono do hotel é espanhol –, provavelmente produzidos exclusivamente para a rede de lazer. Era o que estava incluído no pacote. Se todos os tintos e brancos do mundo se resumissem aquilo lá, eu abdicava desta bebida e ia tentar outra coisa mais prazerosa: milk-shake, por exemplo. Um dia avistei um rótulo diferente nas mãos de um garçom que encheu minha taça no enorme salão que servia de restaurante. Parecia que voltava a provar um caldo fermentado de uvas de verdade e não um extrato de quinta extração. Fui checar e era um syrah mais comum do Terra Nova, um empreendimento da Miolo no Nordeste. Não é nada demais, mas perto do que me ofereciam até então, era tudo de bom. Tudo é relativo nesta vida, não é?
Se você aprecia um vinho é sempre bom questionar ao agente de viagens que tipo de rótulo está incluído no serviço. E lembre-se: não se contente com a informação de que são vinhos importados. A vítima, pode ser você!
No próximo verão… Bem, no proximo verão talvez a solução seja levar o vinho de casa.
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O vinho na praia é caro porque tem troxa para comprá-lo.
Excelente e oportuna matéria. Também já desisti de apreciar vinho na praia pelas razões tão bem expostas pelo Beto Gerosa. Mudar a mentalidade do empresário brasileiro nesse ramo é a solução. Além deste comentário, permitam-me esta correção: ” Vende pouco porque é muito caro, ou é muito caro porque vende pouco?” PORQUE junto e, não, POR QUE separado.
Não quero parecer esbanjador, mas querer comparar os preços das cartas de vinhos e os preços das gondolas de supermercados é no mínimo desconexo.
Moro em Brasília e os preços cobrados nos hoteis e resort referidos no blog do vinho, são os preços que encontramos nas gondolas dos supermercados daqui.
Concordo com o Cavalcanti, em nenhum restaurante se cobra o mesmo preço do supermercado ou do distribuidor, seria mais justo comparar com o preço cobrado por outros restaurantes.
Compartilho da insatisfação com os preços. Por outro lado, os estabelecimento têm o seu lucro no verão e esse lucro sustenta a casa e seus custos fixos (mão de obra, impostos, manutenção, etc) nos meses de inverno e baixa ocupação. É uma equação difícil para os proprietários também.
Um abraço e parabéns pelo blog.
Melhor então construir um hotel na praia, no sul da Bahia, de frente para o mar, e..tomar seu vinho predileto, ao sabor daquela brisa inebriante, a preço de supermercados. Chic?
Quanta asneira junta!!! Não é verdade?
O que acontece aqui no Brasil é que ao invés de explorarem o turismo, eles exploram o turista… Fui passar férias no ano passado em Itacaré e parecia que tinha passado um tsunami na cidade, de tão feia e suja, em contraste com as lindas praias… Resolvi passar o final de semana num hotel dito de luxo, Txai, que ofereceu serviço de hotel 3 estrelas… E os vinhos todos na casa dos 200 reais, os de entrada… Foi tão ruim, mas tão ruim, que recebemos 10% de desconto na diária, que ronda os mil reais… Ficamos umas 8 horas sem energia elétrica…
Agora prefiro pagar um pouco mais em Euro e não ser feito de palhaço.
Há muito tempo faço isso, levar aquilo que beberemos, pois ha bebidas falsas, principalmente os Escoceses, sem falar dos pessimos vinhos mal conservados e obvio, caros. Vale a pena pagar os R$ 10,00 de rôlha por garrafa e beber feliz.
Boa materia, moro na frança e sei muito bem o que e um bom vinho e com otimo preço, qdo vou ao brasil de ferias ,levo daqui p amigos e para meu consumo proprio, bem barato comprar vinho aqui e nos restaurantes os preços sao otimos tbem, quando morava no brasil nao bebia vinho com frequencia, nao cabia no orçamento….agora posso desfrutar , espero mesmo que um dia venham fazer uma campanha p os vinhos finos nos restaurantes e que fique mais acessiveis ao amantes do vinho. boa sorte brasileiros amantes da bebida !!!
Sem contar que a maioria desses vinhos oferecidos, como poucos se encorajam a comprá-los, têm grande probabilidade de estarem estragados. No mínimo os inteligentes proprietários devem achar que todo vinho é tanto melhor quando mais velho.
Enquanto ñ houver uma Lei que constitua o Vinho como alimento no Brasil, vamos ter estes custos abusivos, pq a burguesia parasita e o Parlamento no Brasil, ñ quer, que, este presente Deus, chegue a toda a população!!!