A importadora Mistral realizou mais uma edição de seu tour anual. Um pouco menor em tamanho e em variedade, talvez efeito da crise, que mostra sinais de recuperação. Mas, mesmo mais compacto, o número de garrafas de um evento desses é sempre superior à capacidade de degustação de qualquer cristão. E é isso que atrai os apreciadores do vinho.
Portugal, Itália, Argentina e Chile dominaram o campo de batalha do Hotel Grand Hyatt, onde foi realizado o evento em São Paulo. A comparação procede: às vezes é quase uma guerra por um trago de vinho. Uma turba de braços estendidos se aglomera em direção a um Jacopo Biondi Santi, a um Castello del Terriccio ou ao infalível Catena Zapata.
Mas justiça seja feita, o diferencial das feiras da Mistral é que todos produtores derrubam nas taças vinhos de toda linha. Tem desde o soldado raso até general de quatro estrelas. É possível provar desde o tinto mais básico até o topo de linha, e comparar cada rótulo com o seu valor. E à medida que se avança na hierarquia deste exército de garrafas, o preço cresce. E muito
Variedade
E como o ingresso de preço único permite saborear este plantel de tintos e brancos, a gente fica mal acostumado e pode perder a noção da realidade. Um sauvignon blanc Sileni Estates da Nova Zelândia (R$ 64,00) aqui, um Viña Montes Folly Syrah 2005 (R$ 303,00) ali, uma pausa para um Sassoalloro 2004 (R$ 150,00), um suspiro antes de um Lupicaia Cabernet Sauvignon/Merlot IGT 2004 (R$ 739,00) e um papo sempre proveitoso com Luis Pato enquanto se prova um gole de Vinha Barrosa 2005 (R$ 166,00), por que ninguém é de ferro.
Opções
A maior surpresa da feira para mim, no entanto, estava no escalão mais baixo. O português Altano 2006, uma mescla das uvas tinta roriz (70%) e touriga francesa (30%) a 37,00 reais. Um bom e barato que vai entrar na próxima lista do Blog do Vinho. A boa surpresa foi sua versão orgânica, chamado de Altano de Produção Biológica 2007 (R$ 69,00), um tinto de muita fruta, frescor, construído a partir daquela mistura de uvas típicas do Douro, de vinhedos de mais de 25 anos: touriga nacional, tinta roriz, tinta barroca e touriga franca, com dez meses de barril.
Minhas (e talvez as suas) circunstâncias
Mas nada como a vida real para mostrar a realidade e seus limites. Após atravessar as portas do hotel e deixar para trás a farra de Baco, decidimos por um restaurante argentino próximo. Na carta de vinhos, curiosamente, opções da mesma importadora. Fica a dúvida, qual o tinto que vai acompanhar a carne? Feitas as contas, a decisão recai sobre um tinto honesto, saboroso e de qualidade constante: o argentino Altos Las Hormigas Malbec 2007 (R$ 34,00 na tour Mistral e R$ 49,00 na carta do restaurante). Ou seja, é sempre bom ter a perspectiva do consumidor (a minha), quando se põe a mão no bolso e se escolhe um vinho. E o Altos Las Hormigas mandou muito bem.
Caro Gerosa,
Concordo com você: O Altano Orgânico foi uma grata surpresa! Muito bom. Bem, e o Lupicaia, sensacional! Só senti falta de Champagne, Brunellos, Borgonhas e Espanhois… Nisso a irmã “menor” Vinci deu um banho. É só lembrar de Henriot, Argiano, Champy, Tondonia, CVNE, Mauro etc. Por outro lado, o número pequeno de produtores resultou em aglomerações. A briga era feia por uma tacinha… Bem, mas isso não tira o brilho do evento. Abraços.
Os vinhos do Castello del Terriccio são realmente extraordinários, embora caros.
Caro Flávio,
Uai??!! Como assim faltou os “espanhois”??! E o Anima Negra e seu produtor super simpático e atencioso, não contam?? Só falta você dizer que não viu o estande dele e não provou o Son Negre…
Se não, nem tem idéia do que perdeu…
Abraço!
Ricardo.
PS: O que vocês acharam dos vinhos da Quinta do Cottô (com destaque para Paço do Teixeró Branco 2007) e dos vinhos da Penfolds?
Roberto, fui ao encontro Mistral aqui em Brasília, e realmente esse Altano orgânico me surpreendeu; comprei dois. Agora lendo seu blog, vi que vc e outras pessoas tb gostaram. É um belo vinho e com um preço bem acessível. Abs.
O Alto Las Hormigas é um vinho super bom e honesto – pra sua faixa de preço – e gosto muito dessa bodega pois eles se preocupam com a imagem dos seus produtos. Pra quem compra vinho pela etiqueta bonita – como eu fazia até um tempo atras – eles acertam em cheio.
Eles desenvolveram uma marca pra cada um dos seus 2 varietais e, o seu vinhos irmão, o Bornarda (uva ainda pouco conhecida, mesmo sendo a segunda mais plantada na Argentina) se chama Colonia Las Liebres. O vinho tem a sua propria pagina, com animação em flash tão fofa que é impossivel nao ter vontade de provar o vinho. Se trata de um bonarda sem passo por madeira, leve, equilibrado, expressando bem a “tipicidade” dessa uva. Vale a pena provar-lo, o preço é super acessivel.
Ultima curiosidade, acerca do nome da bodega…. o vinhedo foi infestado de formigas em algum momento, por isso Alto Las Hormigas….
Carissimo Ricardo!
Você está certo! Esqueci do excelente Son Negre, de Anima Negra. Obrigado pela lembrança. Mas acho que ele sozinho não dá para fazer frente a todos os espanhóis presentes no encontro da Vinci (Tondonia, Bodegas Mauro, CVNE, O.Fournier). E continuo a sentir falta de Champagne, Brunellos, Borgonhas etc. Assim, pelo menos quanto a este encontro, comparando pau-a-pau, não dá Mistral, dá Vinci! Com rima e trocadilho… Bem, é minha opinião pessoal. Por outro lado, gostei dos vinhos da Quinta do Cotto e dos sempre bons Penfolds. Eu queria ter experimentado o Bin 128 2006 deste último e, obviamente, o fantástico Grange!
Um grande abraço
Flavio