Um jargão do vinho que se espalhou como praga para outras atividades é o tal “bom custo-benefício”. Tudo agora tem um bom custo-benefício, desde o tinto chileno de supermercado, passando pelo banho do totó no pet shop, até o smartphone que tem conexão direta com a Nasa, nada escapa. Não sei quando surgiu esta praga, mas já virou um vício de linguagem que funciona quase como uma muleta para os críticos e especialistas que não querem se comprometer com uma indicação mais simples. Como se quisessem advertir: “Olha, o vinho não é uma maravilha, tem suas qualidades, mas por este preço você esperava o quê?”
Tudo na vida tem um valor, um custo embutido. Não há almoço grátis, dizia o economista e prêmio Nobel Milton Friedman, muito menos com vinho, acrescentaria eu. Qual é o benefício que um vinho pode trazer? Agradar ao paladar e dar prazer, basicamente. Um vinho caro e que tem estes mesmos atributos, provavelmente de maneira mais intensa e consistente, se torna desta maneira um mau custo-benefício? E o contrário, um rótulo bem barato que provoca uma careta e é a antessala da dor de cabeça, é um bom custo mas um benefício ruim? Faz sentido?
Os diplomatas do vernáculo contornam a situação trocando o benefício pela qualidade. O vinho tal tem uma boa relação de qualidade e preço. A coisa assim fica mais clara. No geral a qualidade eleva o preço de uma mercadoria à medida que agrega valor a ela, seja por meio de matéria-prima mais refinada, por uma embalagem mais bem-cuidada, uma inovação que exigiu um gasto de tempo e experimentação e até mesmo na elaboração da campanha da marca – a mão invisível do marketing, parodiando o pai da economia Adam Smith.
Os americanos, sempre mais pragmáticos, resolvem a questão com o selo Best Buy. Direto ao ponto. É uma indicação das melhores compras que seu dinheiro pode pagar. Um Best Buy pode ser de um valor mais baixo – e ainda assim ter qualidades que tornam aquele vinho uma boa opção de compra – ou mesmo ter vários dígitos na etiqueta, e ainda assim valer a pena e justificar o dinheiro investido na garrafa.
Este Blog do Vinho se posiciona sobre o tema. Um vinho pode ser bom e barato ou ruim e barato. Ou então ser uma boa compra, seja pelo critério de preço, seja de qualidade. Melhor ainda quando os dois mundos se encontram… e vão para sua taça.
No restaurante
Outro vício da gastronomia que parece perder força é a chamada “comida honesta”. Vai na mesma linha, o chef não é estrelado, os ingredientes não são lá muito sofisticados, o ambiente é assim meio sem graça e a criatividade das receitas é nula. O resenhista tasca um “comida honesta”. Aquela bem feitinha, sabe? Você não terá uma experiência incrível mais vai sair satisfeito da mesa e o crítico livra a cara de indicar uma casa fora do circuito. E, principalmente, o cliente não vai ficar endividado para o resto do mês, pois o preço ali é menor. O que leva a outra questão, os restaurantes badalados, de boa comida e muito caros são desonestos? Os preços não estão estampados no cardápio, estão enganando alguém?
Ok, vamos combinar que certos restaurantes do eixo Rio-São Paulo deviam começar a oferecer parcelamento no cartão de crédito ou mesmo abrir um carnê para permitir o pagamento das contas cada vez mais estratosféricas. Mas a escolha da casa é uma decisão individual. E se você, como eu, não dispensa um bom vinho (de bom custo-benefício? de boa qualidade e preço? uma boa compra?), a conta mais do que dobra. Mas o preço do vinho em restaurantes já é assunto para outro post.
Repercussão dos leitores 29/5/2010
O negócio do preço do vinho se resume em três vertentes: qualidade, grife e disponibilidade.
Qualidade: uma vinícula que investe em tecnologia, castas adequadas, terroir, controle, manutenção e distribuição de seus produtos, evidentemente tem custos e os repassa ao consumdor final. É assim que funciona o mercado. Mais investimeto, maior qualidade, maior custo.
Grife: você compra uma camisa com um jacarezinho bordado no peito e paga dez vezes mais do que estaria disposto a pagar por uma sem a logomarca. Assim ainda acontece com os vinhos. Em um mundo onde a autoafirmação se baseia, geralmente, no status e no poder, muita gente ainda toma vinhos pelo rótulo.
Disponbilidade: se uma determinada safra for pequena devido a fatores climáticos, por exemplo, seus produtos obedecerão à regra da oferta e da procura. Se a safra for generosa, mais produto no mercado, menor preço e vice-versa.
Costumo dizer que de um vinho com preço menor do que R$ 15,00 não se pode exigir dele mais do que ele pode dar, ou seja, que seja líqudo.
Custo/beneficio no Brasil é complicado,os impostos encarecem demais os produtos,só para dar um exemplo,nós compramos vinho na Argentina(Paso de los Libres) ou Uruguai(Rivera ou Artigas) por um terço do preço no Brasil,aqui mesmo no blog um cara falou de casillero por R$ 13,00 no Chile, pois nestas cidades que citei custam mais ou menos(dependem do dólar)R$ 18,00, R$ 20,00 e aqui no Brasil R$ 45,00, R$ 50,00.Do mesmo preço dos nacionais aqui no Brasil, se bebe imporatdos muito superiores,Finca Flichman, Concha e Toro,Nieto, Irurtia e outros.
Tomo vinho quase que diariamente. Prefiro o tinto seco. E tenho consumido nossos nacionais mesmo, que são bons. Acho que precisa parar com essa frescura de vinho isso, vinho aquilo. Vinho bom é aquela que satisfaz. O sujeito toma uma cerveja naturalmente, mas na hora de tomar um vinho já se transforma, fica fazendo pose, experimentando, uma viadagem. Temos que parar de ficar endeusando muito o vinho e tomá-lo mais naturalmente, e valorizar a compra. Pra que pagar tao caro numa garrafa? Alguém sabe explicar o que pode justificar uma garrafa valer (?) R$ 200,00, R$ 1.000,00 e outros absurdos?
Concordo com o Carlos Roberto. Se a ignorância e a frescura a respeito do vinho fosse menor, eles seriam mais consumidos, menos carros e mais apreciados.
A questão é se o preço é justo. Ontem mesmo tomei um Brunello de Montalcinno. Um vinho que esperei bastante tempo para beber, minha irmã havia trazido para mim da Itália. Lá ela pagou cerca de 120 reais. Aqui este vinho está perto de 300 reais. Por qualquer um dos preços é muito dinheiro. Já tomei vinho da faixa de 50/60 da mesma qualidade ou até um pouco melhores. Para mim foi uma extravagancia, mas não pediria a ela para trazer um vinho de 30 reais. No entanto nestas viagens ela já me trouxe um Chablis Grand Cru que pagou 140 e por aqui está mais de 500!!! NEste caso os 140 se justificou, pois foi um vinho absolutamente inesquecível.
Seguindo pelo mesmo raciocínio tomei há poucos um tannat uruguaio que custou 17. Uma droga! E havia tomado um negroamaro italiano que paguei o mesmo preço, valeu o que paguei.
Agora quanto cada um gasta ou considera parâmetros para o vinho ser uma compra justa são parâmetros extremamente pessoais.
Ola,
Como economista, preciso discordar um pouco do texto. Benefio pode ser abstrato e medido de acordo com o bem-estar que gera aos consumidores. Sendo assim, qualidade pode ser considerado o atributo que gera, diretamente, beneficio. Na minha opiniao, a expressao eh valida.
Abs
Caro Beto,
cheque a oferta que vai ao ar hoje a partir da meia noite em http://www.mequedouno.com.br na loja Gourmet. Das Bodegas Aragonesas um Coto de Hayas Joven 2009 por um preço insano.
Abraço.
Adorei seu texto! Tem frases que não fazem o menor sentido e ficamos pensando o porquê de terem se tornado tão populares. É o caso da comida honesta, do “novos paradigmas”, do pró-ativo, do custo-benfício, do “estar focado” e por aí vai. Já que o blog é de vinho, pode me indicar um que combine bem com vieiras?
Vinho bom é o de garrafão que vende lá em água santa omde eu moro. As comissarias da barata pira com o vinho grosso e saboroso tipo um caldo.Parabéns pelo blog e bjs a rodos do Seu Renato -O Porteiro
O artigo não aborda a principal fonte do problema. Eu arriscaria dizer que mais de 95% dos vinhos na faixa de preço até 100 reais são muito fracos. Ou seja , se vc tentar escolher, ao acaso, vinhos com esse preço, sua experiência enológica pode ser horrível. Portanto, é preciso alguma orientação ao consumidor mais refinado (porque gente que gosta de vinho “suave” não conta) para que possa evitar as armadilhas do mercado. A “relação custo-benefício” (ou “qualidade-preço”) é um dos parâmetros usados, senão o único. Não apenas existem vinhos baratos bons e ruins, como também existem vinhos caros bons e ruins. Especialmente no Brasil, onde pagamos um preço absurdo pelo vinho bom, necessariamente importado (negar isso é uma patriotada que beira a imbecilidade), precisamos de critérios de qualidade e custo para comprar os vinhos disponíveis no mercado.
Bom vinho tem preço. Bobagem, papo furado, esse negócio de custo e benefício. Tem os que entendem de vinho, e os que não entendem nada, se derem um sangue de boi, o cara vai beber e achar bom, principalmente se o cara é chegado numa manguaça. Tenho experiência nessa área. Ás vezes sou instado a tomar um vinho, lá na minha adega, uma espécie de convite ao contrário, reflexivo, ou coisa parecida. Muitas das vezes, ou quase sempre, não tenho companhia para beber vinho, e vinho tem que ter companhia, que tenha, ou não conhecimento de vinho, basta ter a disposição de beber. Aí com este convite reflexivo, procuro saber se o cara conhece vinho. A primeira pergunta que faço é, qual o tipo de vinho que v, bebe, se o cara responder, um santa Helena, um Cazileiro del deabo, ou se fala num vionho nacional, tudo bem, vou recebe-lo com todo o prazer, e já sei que vou abrir o vinho básico, não tão ruin quando me disse. Agora, se o cara conhece vinho, aí sim, abro um Sassicai, por exemplo, ou menos, um ímpari, um memórias, etc. Quando se trata de vinho, meu caro, o custo e benefício reside no seu gosto e conhecimento. Se o cara não conhece vinho o custo é baixo, se conhece, o custo é alto. Aí reside o que é custo e benefício no que tange vinho. Fui tomar o meu sassicai que adquiri na região da grande toscana, na vinícula.