Quando você ouve falar de Austrália, qual a primeira ideia que vem à cabeça?
1) Bichos exóticos como cangurus, coalas e ornitorrincos
2) Os fogos iluminando a Ópera de Sydney no réveillon
3) O filme Crocodile Dundee e a atriz Nicole Kidman
4) A banda de metal AC/DC
5) Vinho shiraz
Se você optou pelo item número cinco é por que curte e conhece um pouco de vinho. E sabe da importância do vinho – e da uva símbolo, o shiraz – na terra dos canguros, da Ópera de Sydney, do Crocodilo Dundee, da banda AC/DC e da Nicole Kidman.
Momento enciclopédia
A Austrália é um país-continente com quase 7,7 milhões de quilômetros quadrados, a sexta maior nação do mundo e com um baita deserto ocupando parte de seu território.
O vinho no entanto é um elemento importante de sua economia. A Austrália é sétimo maior produtor de vinho do mundo, com um crescimento de 14% entre 2007 e 2011, e a quarta maior exportadora de tintos (mais estes) e brancos do planeta, ficando atrás apenas da Itália, Espanha e França (dados do Relatório Estatístico da viniticultura Mundial 2012 da OIV – International Organisation of Vine and Wine).
No entanto os vinhos australianos não são tão difundidos no Brasil. No ranking dos vinhos importados divide um sétimo lugar – e pífios 4,13% em volume – com diversas outros países. Mesmo assim não é difícil encontrar rótulos de grande volume como Yellow Tail (a propósito, e não por acaso, a imagem é um canguru), Jacob’s Creek e Hardys, ou produtores mais conceituados como Lindemans, Penfolds e d’Arenberg. Mesmo assim, a oferta é pequeno e, como consequência, o consumo idem.
ViG – vinhos indicados pelo Gerosa
Bons e baratos
Pelos números acima, dá para perceber que a Austrália é uma produtora de grandes volumes, mas também é responsável por um padrão constante de qualidade, que se às vezes não surpreende mantém uma segurança na hora da compra. Há no entanto muitos rótulos estrelados que chegam aqui sempre na casa da centena de reais. Entre os bons e baratos (40 reais a garrafa), este Blog do Vinho indica dois exemplares corretíssimos, dignos representantes de suas uvas. São eles
Down Under Chardonnay 2012, região de Reverina, Nova Gales do Sul, 100% chardonnay, 14º de álcool – R$ 39,90
Uma belezura de tipicidade da uva chardonnay. Aromático sem exagero, exala uma fruta que lembra pêssego, mas pode ser outra fruta branca mais madura. Os seis meses de carvalho francês estão presentes no adocicado da boca, que é quebrado pela acidez presente que não deixa transparecer o alto teor de álcool. Um chardonnay refrescante e gostoso, pede uma taça a mais.
Down Under Shiraz 2010, região de Reverina, Nova Gales do Sul, 100% shiraz, 14º de álcool – R$ 39,90
A shiraz é a rainha das tintas na Austrália. Tem como características aromas de especiarias, caldo encorpado, fruta madura. Tem tudo isso aqui e a baunilha do carvalho francês e americano (dormiu seis meses antes de ir para a garrafa). Mas o que mais chama a atenção deste tinto é sua maciez, aveludado. Não é cerveja, mas desce redondo e tem uma persistência que agrada.
Diferente e surpreendente
3 Bridges Durif 2007, região de Reverina, Nova Gales do Sul, 100% durif, 15º de álcool – R$ 128,00
A durif é uma uva de nome estranho (não confundir com a cerveja Duff, dos Simpsons) que chama a atenção do tipo “homens que cospem vinho”. Ela é originária do Vale do Rhone e leva o nome de seu “criador”, doutor Durif. Mas ela atende também se chamada de petit syrah, principalmente nos Estados Unidos. Dizem os entendidos que na Califórnia a petit syrah é uma “mistura” de durif e peloursin. Inclusive no Rhone, em grande parte dos vinhedos, hoje em dia, tem essa composição. “Na Austrália, o CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), agência científica australiana voltada para o agrobusiness, fez o estudo de DNA e comprovou que a uva é 100% Durif”, ensina a importadora Marli Predebon. E daí? Daí que as características da uva preservadas conferem caldos de “cor negra e concentrada, alta carga tânica e alto teor alcoólico”. ainda segundo explicações da Marli.
Se estas são as características da autêntica durif, esta garrafa entrega a tipicidade da uva. O preço é bem mais salgado (R$ 128,00), mas trata-se de uma bela experiência. Este 3 Bridges Duriff, de 15º de álcool, é bastante concentrado, a cor é escura, impenetrável, a boca mostra uma compota de frutas. Os 18 meses de barrica americana inevitavelmente deixam traços de coco e baunilha (se não, não deixavam tanto tempo o bichão amaciando ali). O álcool tá ali, revelando um tinto quente na boca. Encorpado, com taninos firmes (epa, usei o jargão, clica no link…). Caldo de macho, vinho mais para Crocodilo Dundee e AC/DC do que para coala e Nicole Kidman.
O enólogo que tem alergia a vinho
Todas estas criações são da Westend State, vinícola que fica na região de Nova Gales do Sul, mais especificamente em Riverina, segunda maior produtora de vinhos da Austrália. Aqui, desde 1945 funciona esta adega familiar que elevou os tintos desta região para uma categoria superior. Até aí tudo bem, a apresentação oficial da empresa resume sua história. Mas o que mais surpreende é o seu atual proprietário e enólogo, Bill Calabria, da terceira geração da família.
Bill Calabria carrega uma cruz difícil de suportar, principalmente do ponto de vista de quem gosta e produz vinhos. Ele é portador de uma rara alergia aos ácidos presentes no vinho que o impedem de beber suas criações. Para realizar seu trabalho Calabria adota critérios olfativos e gustativos, sem jamais engolir os vinhos. Para ele “Não é preciso engolir um vinho para saber se ele é bom ou ruim”. Incrível, não? Faz lembrar o fotógrafo cego Even Bavcar. O desafio é parecido. Mais surpreendente é a qualidade de seus vinhos, dos mais básicos aos topo de linha.
Notem o vídeo abaixo, em que Bill Calabria celebra a décima safra do Duriff – a primeira veio ao mundo no ano 2000. Ele comenta o vinho, balança a taça insistentemente e aproxima o nariz do vinho diversas vezes. Mas jamais bebe o líquido.
O vinhos da Westend são comercializados pela importadora KMM, especializada em rótulos australianos.
Ótima matéria! Só faltou a tradução do vídeo…
Eu, como fã de vinho e de Rock, lembraria claramente do AC/DC (tanto com o vocalista Bon Scott, já falecido, como o seu substituto, Brian Johnson) e da uva Shiraz (na realidade: Syrah), mas logo depois do canguru e do ornitorrinco.
Que tal um Shiraz ao som de Whole Lotta Rosie do AC/DC? Belíssima dupla!
O cara podia ter alergia a chuchu ou abobrinha…mas de vinho???? Ser castigado deste jeito é muita sacanagem!!
Bons e baratos!