Qual o melhor vinho argentino? Para tentar responder esta questão a Wines of Argentina, entidade que promove o vinho no país, realiza há 8 anos o concurso Argentina Wine Awards (AWA), que distribui medalhas de ouro, prata e bronze e trofeus dos melhores rótulos em várias categorias. É a premiação mais importante dos vinhos da Argentina, comemorada como um Oscar pelos produtores e uma baita ferramenta de marketing e qualificação do vinho – e claro uma oportunidade para vender mais garrafas e destacar os rótulos em outros concursos internacionais, publicações especializadas e incrementar a discussão nas redes sociais. Parafraseando a vitoriosa campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos: “É a divulgação, estúpido”!
Todos os anos são convidados jurados internacionais de alguma categoria ligada ao mundo do vinho. Isso dá musculatura, credibilidade e repercussão ao evento. Já fizeram parte desta comissão de notáveis, sommeliers, produtores e especialistas. Em 2014 foram os jornalistas especializados de 9 países que beberam e cuspiram mais de 650 amostras para definir as melhores do ano. O slogan explicitava o espírito da coisa, eram os “Heavyweight journalists in the ring”, algo como os jornalistas peso-pesados no ringue. Entre o time dos jurados destaques para o inglês Steven Spurrier (que a propósito não deve mais aguentar concursos, mas leva uma boa grana para abrilhantá-los com sua experiência), o chileno Patricio Tapia, o americano Bruce Schoenfeld, o especialista de Cingapura Tommy Lam, o sommelier sueco Andreas Larson e o chinês Demei Li. O Brasil, importante mercado para os vinhos argentinos, estava representado pelos jornalistas Jorge Lucki, do Valor Econômico, e Suzana Barelli, da revista Menu. Jornalistas e colunistas de vinho de vários países também são convidados para acompanhar a premiação e o seminário que antecede a entrega das medalhas (entre eles este colunista que vos escreve, ver declaração abaixo). Não são bobos estes argentinos…
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Como funciona o concurso
São doze jurados internacionais e 6 nativos, divididos em seis grupos de três componentes, sempre composto de dois convidados internacionais e um representante argentino. Importante ressaltar que este elemento fã do Maradona e do Messi nunca degusta rótulos que tenha alguma ligação comercial ou tenha sido feito em sua bodega, pois seria fácil reconhecer seu vinho e dar uma forcinha na premiação. São 20 categorias por variedade de uva, e cinco diferentes faixas de preço (em dólar), e finalmente região. É uma divisão importante, pois compara laranja com laranja (no caso uva com uva), pois o maior problema de alguns concursos é colocar no mesmo cesto vinhos de 15 dólares e de mais de 50 dólares e julgar tudo junto. Mas atenção, este não é o preço no Brasil!
Para definir os prêmios mais importantes, chamados de Trophy, os doze jurados se reúnem para experimentar mais uma vez os vinhos condecorados previamente com o ouro e assim definem o campeão dos campeões em cada categoria.
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A lista de premiados não é pequena (não são bobos estes argentinos…) Das mais de 650 amostras apenas 50 rótulos não mereceram medalhas. A distribuição de prêmios foi a seguinte: 58 ouros, 256 prata, 276 bronze e finalmente os 12 trophies e os destaques de quatro regiões produtoras (Norte, Mendoza, San Juan e Patagônia). A Argentina trabalha fortemente na divulgação das diferentes regiões vinícolas, algo importante, pois assim como não existe vinho francês, mas de alguma região da França, não existe um vinho argentino, mas uma diversidade de regiões – um tema para desenvolver em um próximo post.
The winer is…
Entre os escolhidos há representantes de várias tendências, dos vinhos orgânicos às marcas tradicionais; dos tintos de muita extração e musculatura às experiências de jovens enólogos que privilegiam a fruta e a inovação. Abaixo, estão os vinhos que levaram um Trophy para chamar de seu e grudar o selo na garrafa. Este colunista teve o privilégio de provar vários destes rótulos no dia seguinte à divulgação dos vencedores e mesmo sem a menor competência para julgar o que já foi julgado por gente muito mais qualificada, escolho as minhas preferências com o ViG (Vinho indicado pelo Gerosa).
Trophies – os melhores vinhos da Argentina segundo a AWA 2014
Espumantes – método tradicional
faixa de preço entre 13.00 e 19.99 dólares
Zuccardi Blanc de Blancs 2007- Familia Zuccardi
Importado pela Ravin
Torrontés
faixa de preço entre 13.00 e 19.99 dólares
Colomé Torrontés 2013- Bodega Colomé
Importado pela Decanter
Cabernet franc
faixa de preço entre 20.00 e 29.99 dólares
Numina Cabernet Franc 2011- Bodegas Salentein SA
Importado pela Zahil
acima de 50.00 dólares
Andeluna Pasionado Cabernet Franc 2010- Andeluna Cellars Srl
Importado pela World Wine
Cabernet sauvignon
faixa de preço entre 30.00 e 49.99 dólares
Bramare Lujan de Cuyo Cabernet Sauvignon 2011-Viña Cobos SA
Importado pela Grand Cru
Malbec
faixa de preço entre 13.00 e 19.99 dólares
Es Vino Reserve Malbec 2012- Es Vino Wines
Ainda sem importadora no Brasil
faixa de preço entre 20.00 e 29.99 dólares
Alta Vista Terroir Selection Malbec 2011- La Casa del Rey SA- Alta Vista
Importado pela Épice
faixa de preço entre 30.00 e 49.99 dólares
Vineyard Selection Malbec 2012- Riccitelli Wines
futura importação pela Wine Brands
faixa de preço acima de 50.00 dólares
Republica del Malbec – Blend de Terroirs 2012- Riccitelli Wines
futura importação pela Wine Brands
Blends de tintos
faixa de preço entre 13.00 e 19.99 dólares
Paz Blend 2012- Finca Las Moras
Importado pela Decanter
faixa de preço entre 30.00 e 49.99 dólares
Field Blend 2011- Zorzal Wines
Importado pela Grand Cru
Decero Amano, Remolinos Vineyard 2011- Finca Decero
Medalhas por região
Mendoza
Lindaflor Malbec 2009, Monteviejo
Norte
Serie Fincas Notables Malbec 2011, Bodega El Esteco
Importado pela Bruck
San Juan
Paz Blend 2012, Finca Las Moras
Importado pela Decanter
Patagônia
Fin Single Vineyard Cabernet Franc 2010, Bodega del Fin Del Mundo
Importado pela Mr Man
O que dizem os jurados sobre vinho argentino e seu mercado
A AWA convida jurados de vários países também por outros motivos: está ávida por informação dos mercados internacionais e por uma avaliação de seus vinhos de gente que bebe tintos, brancos e espumantes de todas as regiões do mundo. Na Argentina, como em todo país produtor, praticamente só se bebe vinho local (e por um preço de dar inveja a nós brasileiros). Um painel com este time trouxe informações valiosas.
• o chinês Demi Li, enólogo e professor, alertou para a complexidade do mercado de seu país de proporções continentais, com números que sempre iniciam na casa do bilhão de qualquer coisa. Com gente saindo pelo ladrão, e um potencial imenso, recomendou a simplificação da imagem para o consumidor chinês. Por exemplo, recomendou evitar muitos descritivos do vinho. Disse que o conceito de harmonização é algo que passa longe da realidade do consumidor chinês (e de praticamente todo habitante deste planeta, com execeção, talvez, de você que me lê e dos homens que cospem vinho). Para exemplificar sua tese mostrou um slide com a imagem de uma refeição típica de uma das regiões do país com inúmeros pratos diferentes e desafiou” “Vocês conseguem propor alguma hormonização com isso”? Outro dado curioso, que desmente a imagem do consumidor que mistura vinho com coca-cola: o chinês não gosta de vinho doce, e aprecia o branco.
• O americano Bruce Schoenfeld, editor de Travel+Leisure, e colaborador de publicações, como Wine Spectator, serviu à plateia um chardonnay de Washignton, EUA, e comentou: “Este vinho é ótimo, mas não copiem, nós já temos isso nos Estados Unidos. O melhor vinho não vem do marketing, mas de sua identidade”.
• O brasileiro Jorge Lucki deu um banho de realidade sobre a atual situação do mercado brasileiro de consumo de vinho apresentando duas visões, o copo meio cheio, que é o potencial de consumo a ser explorado – o consumo per capita de vinho no Brasil ainda é baixo, de 2 litros per capita por ano, contra 25 da Argentina, por exemplo-, o conhecimento de uma pequena elite sobre os vinhos do topo da pirâmide (cada vez mais adiquiridos em viagens ao exterior); e o copo meio vazio, mostrando uma tabela com a carga tributária imensa que eleva o preço do vinho naquele patamar que todos conhecemos bem, ou seja sete vezes mais caro que o valor que ele sai do país de origem, a queda de consumo em restaurantes, e a enorme concorrência com rótulos de todo o mundo. E fez um alerta aos produtores presentes: “Não fechem negócio com importadoras novas e sem experiência”. É, o Brasil não é para amadores!
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• O sommelier Andreas Larsson, que além de ostentar o título de melhor sommelier da Europa também colabora para publicações especializadas, pôs o dedo na ferida e condenou a estratégia de apostar somente na varietal malbec como a identidade argentina. “Sem querer tirar o mérito da malbec, provei blends muito mais ricos e importantes”.
• Steven Spurrier nadou contra a corrente dos críticos que reclamam muito dos vinhos alcoólicos. Para ele assim como na Califórnia, o álcool elevado é uma característica do vinho argentino: “Não me preocupo com o álcool. O equilíbrio do vinho é que é o fundamental”
• Na explanação mais midiiatica e animadinha do dia, o representante de Cingapura Tommy Lam, que combina um coque beatnik no cabelo com um terno e gravata formal, levantou a bola da branca nativa torrontés como o vinho ideal para a comida asiática e com um identidade que deveria ser melhor trabalhada pelos produtores assim como faz a riesling alemã.
Cabernet Franc
Uma unanimidade entre os paladares dos jurados ali reunidos: a uva cabernet franc surpreendeu por sua qualidade. Patricio Tapia, editor do importante guia Descorchados de vinhos do Chile e Argentina foi mais explícito: “Prestem atenção. Algo se passa com a cabernet franc da Argentina!” Esta variedade recebeu a medalha virtual “aposta do futuro”, se existisse esta categoria, Opinião que este vos escreve assina embaixo (escreverei um post sobre o assunto em breve, comentando os cabernet franc degustados. Não morram de catapora de ansiedade!).
Declaração: Este colunista esteve na Argentina a convite da Wines of Argentina, onde provou 228 vinhos, visitou várias vinícolas e teve contato com dezenas de produtores. Desta boca-livre resultou o texto produzidos neste post sobre os vinhos argentinos.
Olá, sou um velho – de idade – jovem – há cerca de 10 anos – apreciador de vinhos, sem grandes conhecimentos nem interesse em sofisticação. Normalmente, compro garrafas na faixa de 60 a 70 reais, argentinos ou chilenos. Não sei qual é o conceito dos vinhos argentinos da Patagônia ( pra falar a verdade, até tomar o primeiro, recomendado pelo vendedor, nem imaginava que uvas pudessem ser produzidas em tal Região ), mas me surpreendi com o sabor de um tal Malma, cabernet sauvignon, e um outro cujo nome me foge. Gostaria de saber onde encontrá-los ( eu comprei esses a que me referi no Shopping Center Norte ) e um pouco mais sobre cabernets sauvignons chilenos, nessa faixa de preço. Grato, abraços!
Talvez seja o produzido pela Bodega Fim del mondo;.
fvrequento buenos aires adez anos gosto muito dos vinhos latitude 33 crios e punto final sao os vinhos que bebo em buenos aires
Bom dia