Malbec talvez seja o vinho que mais tomei na vida. Eu e a maioria dos brasileiros, vamos combinar. Por isso mesmo, é uma grata surpresa deparar com um malbec com um perfil diferenciado. Quando isso acontece minhas papilas salivam de forma diferente. É o caso do Pyros Valle de Pedernal Malbec Apellation 2016, da Pyros Wine. O que tem de diferente? Conto mais abaixo.
O malbec entrou na vida dos consumidores brasileiros ao oferecer preço acessível, qualidade e volume de oferta. Olhe para as prateleiras dos supermercados, para o catálogo das importadoras ou para as cartas dos restaurantes. Dá-lhe malbec.
- Leia também: Os brasileiros preferem Malbec, cerveja a vinho branco e o Chile lidera as importações
- Leia também: Você conhece vinho argentino? Um passeio pelas regiões vinícolas
O mestre Nicolás Catena abriu o caminho para a malbec de altitude e de terroir da Argentina. Trouxe reconhecimento de crítica e de público. O malbec de terroir aporta caraterísticas dos microclimas e do lugar ao vinho, é em geral mais refinado e de melhor qualidade. Como declarou a este Blog, alguns anos atrás o jovem enólogo Sebastián Zuccardi, mais importante que a varietal (tipo de uva) é a zona em que ele é cultivado. “A Argentina precisa comunicar o lugar”, defendeu.
Há também o lado negro da força, o malbec de volume: desequilibrado, exagerado na fruta, nos aromas e ou carregado na madeira. Nem sempre quantidade gera qualidade. E por conta da popularização a crítica, que raramente acompanha o gosto do público, acabou virando o nariz para a uva, e com banzo de vinhos do velho mundo, deixou de enxergar qualidades nos vinhos produzidos abaixo da linha do Equador..
- Leia também: O gosto dos críticos de vinho combina com o seu?
- Leia também: 50 vinhos argentinos que vale a pena conhecer. Parte 3 – vinhos de corte de Mendoza
É pau, é pedra, um novo caminho
A Pyros Wine nasceu como o braço mais refinado da Vinícola Callia, que também vem da região de San Juan, que pertence ao grupo Salentein. Mas ganhou independência e hoje é uma operação separada. O Pyros Valle de Pedernal Malbec Apellation 2016 é vinho de terroir. O ingrediente que aporta este índice de novidade (e de salivação prazerosa) ao nosso malbec de cada dia é o solo calcário, rico em pedras, algo novo no “mundo malbec”. O nome Pyros tenta representar isso, significa fogo raspado pela pedra. Pyros é um malbec mais mineral, seja lá qual a régua que defina mineralidade em um vinho (leia a discussão sobre este tema aqui). É algo que se percebe na boca. E que se traduz em mais pureza, em “bebabilidade”. É pau, envelhece em barricas de carvalho; é pedra, tem a mineralidade do calcário. É um novo caminho para o malbec argentino.
- Leia também: Chablis, um chardonnay com gosto de pedra
Os vinhedos estão localizados na região do Valle de Pedernal, a 90 quilômetros da cidade de San Juan. Ali os geólogos identificaram em 2008 um solo calcário, de origem pré-histórica, o único, diga-se de passagem, da Argentina. No resto do país há ausência da calcário nos solos dos vinhedos. Daí a sensação distinta que o vinho proporciona, como os taninos mais finos. O solo calcário é pobre (parreira gosta de sofrer), tem boa drenagem e retém e distribui bem a água da chuva. Mas diferente de solos com estas características em regiões como da Borgonha, na França, o clima continental frio aliado a altitude de 1.400 metros aportam uma identidade única ao fermentado. Outro diferencial: a amplitude térmica (diferença entre o dia e a noite), que chega até a 20 graus, proporciona cascas mais grossas à uva.
Entre 2015 e 2016, prefira 2016
A linha Pyros tem como vinho de entrada o Valle de Pedernal Apellation (malbec e syrah, R$ 164,00) e num degrau acima o Pyros Single Block n.º 4 (R$ 305,00), de uma parcela específica do Valle de Pedernal. Nem sempre o mais caro é o melhor. Em um feliz encontro entre o gosto deste colunista e o seu bolso o Malbec Apellation, mais barato, nem por isso uma barganha, me pareceu entregar melhor aquilo que a Pyros Wines pretende marcar como sua identidade e diferencial. O que eles buscam: taninos finos, fruta elegante mas sem excesso, mineralidade, boa acidez e amplidão em boca. Foi o que encontrei na taça: um malbec mais refinado, macio, de fruta intensa, madura, mas agradável ao paladar, final longo e fresco e o tal toque mineral.
Envelhecido por um ano em barricas americanas e francesas fica mais um ano na garrafa e aí sai para o mercado. Aqui no Brasil é representado pala importadora Zahil. No catálogo você encontra as versões syrah e malbec 2015 e 2016. Atenção: a safra 2015 atende pelo nome de Barrel Selected 160. É o mesmo vinho mas o povo gosta de complicar e ficar alterando o rótulo. Aqui no caso a retirada do Barrel vai de encontro com a imagem que se quer passar do vinho. Tive a oportunidade de provar as duas safras dos dois vinhos. Além do Block n.º 4 . A identidade é muito, mas muito mais expressiva nas safras de 2016, tanto no malbec como no syrah. Esta perceptível mudança do perfil do vinho aponta uma busca do enólogo José Morales, com a consultoria do onipresente enólogo Paul Hobbs, em expressar melhor as pedras de Pedernal. Afinal ainda é um projeto recente. A safra 2015 é mais pau (barrel), a 2016, mais pedra (pedernal).
Barrel Selected 160
Produtor: Pyros Wines
Região: Valle de Pedernal – San Juan – Argentina
Uva: 100% malbec
Preço: R$ 164,00
Onde comprar: Zahil importadora
ótima reportagem
obrigado Alberto, por sua participação. Apareça sempre: pra elogiar ou criticar.
Abs