Talvez você não associe o sobrenome Symington a algum vinho que já tenha provado. Mas se algum dia você bebeu algum porto Graham’s, Cockburns, Dow’s, Warre’s ou vinhos de mesa do Douro da Quinta do Vesúvio, Altano, P+S ou Quinta do Ataíde, você consumiu um produto da família Symington. Há cinco gerações em Portugal a família é uma espécie de latifundiária do Douro, com 1.0665 hectares (isso é muito na região) divididos entre 27 propriedades. Só de vinho do Porto armazenado são inacreditáveis 55 mil barricas de 550 litros, o que corresponde a 30 milhões de litros de fortificados. Em caso de guerra, fujam para as adegas! Além dos vôos solos, mantém uma bem-sucedida parceria com Bruno Prats, do Château Cos d’Estornel, um vinho ícone de Bordeuax, na França.
Dominic, nic, nic
Os Symington vieram da Escócia para Portugal em 1882, os nomes pouco lusitanos, para dizer o mínimo, dos atuais dirigentes denunciam a origem: Paul, John, Charles, Claire, Rupert e Dominic, este último presente no Brasil para apresentar o lançamento do Altano Reserva Branco 2016, e repassar goles de sua parceria com Prats, com os três rótulos da P+S (Prats e Symington): Prazo de Roriz 2015, Post-Scriptum 2016 e Chrysea 2013. É curioso ouvir Dominic falar. Ele tem pinta de gringo e o sotaque português não se encaixa direito em seu personagem. Mas Dominic fala com propriedade e conhecimento sobre os caldos que produz.
Symington, agora no Alentejo
Entre um comentário e outro sobre os vinhos, Dominic anunciou que a família expandiu seus domínios sobre outra região bastante conhecida e apreciada pelos bebedores de vinho do Brasil, o Alentejo. São mais 47 hectares de terras acrescentadas ao latifúndio dos Symington, na região de Porto Alegre, onde tiveram a oportunidade de adquirir vinhedos com 25 a 30 anos de idade. A Quinta da Fonte Souto vai colocar seu bloco na rua em 2019, serão dois brancos e três tintos de qualidade similar aos do P+S. Curiosidade da língua portuguesa. Souto não se trata apenas de um sobrenome, mas sim da designação que se dá a uma floresta de castanheiras em Portugal. Fãs do Alentejo, aguardem a novidade.
Altano Reserva Branco
O rótulos Altano tinto e branco são figuras carimbadas em muitas cartas de vinho de restaurantes tupiniquins. Um preço mais acessível e boa qualidade garantem o acompanhamento da comida e não machucam o bolso. A linha Altano ganhou um reforço, o Altano Reserva Branco. Elaborado com as castas da região do Douro (viosinho, arinto e gouveia) o caldo se distancia um pouco da palheta de aromas e sabores do Altano Branco de entrada que tem uma pegada mais de frescor e um toque floral bem marcante (suas uvas: malvasia fina, viosinho, rabigato e moscatel galego). O Reserva apresenta uma boca mais untuosa e a presença de frutas tropicais, resultado dos 8 meses de maturação em barrica (50% do vinho). É uma aposta no consumidor que prefere brancos com mais estrutura, mais cremoso e curte perceber os efeitos da madeira no vinho. 53 dólares é o preço final do consumidor, o dobro do Altano Branco (a Mistral, que importa seus vinhos, tem como padrão estabelecer seus preços em dólar). Após Portugal, o Brasil é o segundo país a receber garrafas do Reserva Branco.
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Prats + Symington
Algumas vezes a soma de dois talentos não resulta na adição de qualidade a um produto. A expectativa que a união de um grande enólogo de Bordeaux com uma família tradicional do Douro geram é sempre alta. Funcionou aqui desde o começo. Empresa experiente + produtor importante + vinhedo de qualidade = vinho de excelência. Mas isso já é história.
A P+S começou no topo, lançando o Chryseia da safra 2000, um Douro com influência francesa e alma portuguesa. As castas típicas do Douro são representadas por uma supremacia de touriga nacional e da touriga franca com pitadas de tinta roriz e tinta cão. A touriga nacional, na visão de Dominic Symigton, é a cabernet sauvignon do Douro, o que cai bem num tinto com tempero francês. Premiado, medalhado e caro (200 dólares), é um tinto para momentos especiais. É um vinho Pokémon com um baita potencial de evolução; o da safra 2013 começa a mostrar sinais sutis de envelhecimento, com alguma folha seca, tabaco, mas a fruta ainda é dominante e os taninos, que Dominic compara na sensação a pequenas caixas já estão mais arredondadas na boca.
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O Post-Scriptum, que tem a sacada de levar no nome as iniciais de seus sócios (Prats e Symington), é o segundo vinho da casa, ao estilo dos “deuxièmes vins” de Bordeaux. A primeira safra foi consequência de uma vindímia que não atingiu o ponto de excelência exigido pelo Chryseia. Parece refugo, mas não é. A decisão de fazer o segundo vinho é mais uma questão de um estilo que se busca manter em um rótulo, uma decisão do enólogo. Se as uvas não tinham o perfil do Chryseia podiam resultar num outro excelente vinho, mas de estilo diferente. Assim surge o Post-Scritpum em 2002. A safra 2016 está deliciosa, pronta para o copo. Um vinho potente mas elegante, com frutas que agradam mas não se impõem. Por 72 doletas um tinto de respeito que mostra o melhor do Douro e não pede que se tenha paciência da guarda, as safras recentes já são bastante suculentas.
O P+S tem também um terceiro vinho – não dá para chamar de entrada, já que custa 50 dólares -, mas é menos ambicioso. Prazo de Roriz é um Douro na sua essência, um mistura das uvas tintas típicas da região, com menos intensidade, que funciona bem com a comida. “Procuramos sempre frescor e elegância no vinho”, define Dominic. Este frescor aponta para um vinho que pode ser bebido em uma roda de amigos, em torno de uma conversa (epa, Conversa é outro vinho do Douro, este da Niepoort, boa desculpa para comparar os dois rótulos).
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Conservando um Vintage aberto
Um estupendo Graham’s Vintage 2000 (dá-se o nome de vintage ao vinho produzido em uma única safra e declarado como tal pelo instituto do vinho do Porto) foi servido após os brancos e tintos, momento oportuno para uma aulinha de Dominic sobre como conservar um vintage depois de aberto. Ao contrário do Tawny, o Vintage perde muito depois de rompido o lacre da tampa. A dica de Dominic Symington para conversar o sabor e vivacidade do Vintage por mais tempo é decantar o vinho e eliminar as borras, aqueles resíduos que ficam no final da garrafa. Elas, as borras, é que aceleram a oxidação do vinho. Depois disso basta colocar de volta na mesma garrafa ou em duas garrafas menores. Vivendo, bebendo e aprendendo.
Parabéns pelo blog Beto Gerosa, cada vez mais descobrindo o mundo dos vinhos, sou um enófilo com sede de aprendizado, agradeço por compartilhar seus conhecimentos!! saúde!!
Oi, Gabriel. Obrigado por seu comentário. O vinho, na minha opinião, é prazer, experiência e aprendizado. Isso que eu tento reproduzir por aqui. Apareça sempre com comentários e críticas. Saúde. Abraços. Beto Gerosa