E vamos de Chile mais uma vez no Blog do Vinho. Não é falta de assunto, pelo contrário, o que traz o tema de volta por aqui é o excesso de boas novidades que atravessam a Cordilheira dos Andes em direção às nossas taças. O Chile já domina o mercado de vinhos importados no Brasil há quinze anos. Em 2018 abocanhou 44% da fatia do mercado. Não é segredo pra ninguém que a aposta agora é fazer bonito também na linha premium, onde o valor de 90 reais representa o preço médio e o além e o infinito traduz os preços mais altos dos rótulos de mais alta gama. Há uma tendência (que é global) de elaborar caldos menos potentes, mais frescos e gastronômicos. E de explorar novas regiões e terroirs. Além, claro, de consolidar a presença das marcas que já atingiram os consumidores mais exigentes.
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Quais são estes vinhos?
Este Blog teve a oportunidade de provar uma boa quantidade desses rótulos de média e alta gama em evento apresentado pelo sommelier-jedi Manoel Beato, e patrocinado pela Wines of Chile, a associação que tem como missão divulgar vinhos chilenos no mercado mundial. Acrescentando outros goles ao longo dos últimos meses, montei uma seleção de 11 craques chilenos que jogam em posições variadas: 10 tintos e 1 branco.
Talvez você não encontre alguns conhecidos rótulos chilenos nesta lista, o que só demonstra a variedade de ofertas atualmente disponíveis. Mas alguns deles certamente foram resenhados por este blog ao longo dos anos e podem ser acessados nas chamadas “Leia também”.
10 tintos
Cono Sur 20 Barrels Pinot Noir 2017
Uva: pinot noir
Produtor: Cono Sur
Região: Vale de Casablanca
R$ 90,00
A voz do vinho: A Cono Sur é segunda vinícola orgânica em extensão do Chile. Para quem não sabe, pertence ao grupo Concha y Toro. A linha 20 Barrels é intermediária. Para paladares mais exigente, há um pinot noir de maior calibre, o Ócio (nome inspirador…). Mas na relação custo-benefício o 20 Barrels é imbatível. As uvas são provenientes de dois vinhedos diferentes: 85% vêm de Casablanca (Fundo el Triangulo) e 15% de San Antonio (Fundo Campo Limpo). A colheita é realizada quatro vezes ao dia. A própria vinícola define seu pinot noir como: “orgulhoso de ser chileno, mas com um toque francês”. 80% do caldo estagia em barricas francesas e 20% em tanques de aço inox por 12 meses.
Por que escolhi: por que tem um DNA pinot noir chileno, mas com frescor, acidez e delicadeza. Uma cereja saborosa sem exagero e um leve tostado estimulam o nariz e agradam a boca.
Grenache Limited Edition 2018
Uvas: grenache (85%), syrah (10%), mouvèdre (10%)
Produtor: Viña Pérez Cruz
Região: Vale do Maipo
R$ 95,00
A voz do vinho: A Perez Cruz é uma vinícola familiar com uma linha de varietais (vinho de uma única uva) tintos muito particulares, que vai do cot (que é nome da malbec original em francês), passando por saborosos exemplares de cabernet franc e petit verdot, além dos tradicionais cabernet sauvignon e carmenère. No topo de gama (R$ 310,00) o extraordinário Quelen, uma mistura de petit verdot (52%), cot (28%) e carmenère (20%), tem um estilo bem característico do Maipo, com um toque mentolado. Este grenache é proveniente de solos aluviais (argila, areia) do Alto Maipo (nos pés da Cordilheira dos Andes) e a colheita é antecipada para trazer um caráter jovem e fresco ao vinho.
Por que escolhi: Uma lufada de frescor no Chile. Esta mistura mediterrânea melhora a cada safra. A fruta lembra uma groselha vitaminada Milani (quem tomou conhece). Na boca uma acidez refrescante e uma leve sensação de agulha. Delicioso frescor em forma de grenache.
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Marquês de Casa Concha Malbec 2017
Uva: malbec
Produtor: Concha y Toro
Região: Maule
R$ 115,00
A voz do vinho: Quem nunca ouviu falar da Concha y Toro levanta a mão! O gigante grupo chileno produz vinhos para todos os gostos e bolsos. A palavra-chave que define o grupo é profissionalismo. Da qualidade dos vinhedos, passando pelo marketing agressivo e uma baita time de enólogos (Enrique Tirado, Marcelo Papa, Ignácio Recabarren), está tudo lá. A linha Marquês de Casa Concha tem mais de 40 anos. As tradicionais uvas cabernet sauvignon, carmenère, merlot, chardonnay tem seu espaço consagrado. Mas o craque Marcelo Papa nos brinda sempre com novidades e edições especiais, como um tinto da uva pais, ou um rosé da uva cinsault bastante fresco e até um blend especial, o Etiqueta Negra, um corte típico bordalês. A malbec é uma estreante nas criações de Papa. Produzido no vinhedo Lourdes, na área de Pencahua, na zona entre as Cordilheiras do Vale del Maule, chegou chegando: recebendo 92 pontos do Guia Descorchados.
Por que escolhi: Por que tem a assinatura do Marcelo Papa, a consistência da linhas Marques de Casa Concha e a aposta na diversidade do Chile.
Orzada Carignan Orgânico 2016
Uva: carignan
Produtor: Odfjell
Região: Vale do Maule
R$ 161,00
A voz do vinho: A Odfjell é uma das vinícolas pioneiras no cultivo orgânico de vinhedos no Chile. A dupla de enólogos Arnaud Hereu (de Bordeuax) e Arturo Labbe (Chile) entrega vinhos saborosos, menos carregados (antes de o tema frescor e menor potência virar moda) e principalmente mais puros. São três categorias: Armador, Orzada e Aliara. Recentemente alterou o desenho dos rótulos para refletir melhor a pegada sustentável da casa, conectando cada linha a três elementos da natureza: terra, água e fogo. A linha Orzada, por exemplo, é representado pelo desenho do vórtex formado pelo fluxo da água durante o processo de dinamização que libera energia das preparações biodinâmicas. Uau, né? Meio odara, talvez, mas coerente com a proposta encabeçada por Laurence Odfjell, um norueguês boa praça, empresário, arquiteto, amante de vinhos que fala português (viveu no Brasil). É responsável ainda pelo projeto arquitetônico da bodega. Os primeiros vinhedos centenários de carignan para produzir este vinho foram encontrados no ano 2000 (e adquiridos em 2003). Já na primeira vinificação uma luz acendeu entre os enólogos e Laurence: “Temos um monstro na adega”, foi a conclusão. Aí está!
Por que escolhi: A consistência deste carignan da Odfjell tornou-se quase um cartão de visita da qualidade dos vinhos orgânicos da vinícola. De fato é um “monstro” no nariz e no paladar, expressão de pureza, frutas e flores.
CA2 Carmenère Costa 2016
Uva: carmenère
Produtor: Terranoble
Região: Vale Colchagua
R$ 202,00
A voz do vinho: Terranoble é uma vinícola recente, fundada em 1993, em uma região bastante fria, o que em geral produzem vinhos mais frescos. Os vinhedos desta carmenère, plantados em 2005, há 30 quilômetros da Costa, recebem ventos do sul e névoa matinal e amplitude térmica (diferente de temperatura entre o dia e a noite) bem marcantes.
Por que escolhi: Boa parte dos especialistas, entendedores e nem tanto torcem o nariz para carmenère, com alguma razão: a uva fez fama no Chile antes de encontrar o caminho da qualidade. Isso tem mudado muito. Aqui um carmenère fresco, frutado, envolvente e de qualidade.
Montes Alpha Special Cuvée Cabernet Sauvignon 2015
Uvas: cabernet sauvignon (85%), syrah (10%), carmenère (5%)
Produtor: Viña Montes
Região: Apalta
R$ 241,00
A voz do vinho: A Viña Montes é bem conhecida dos apreciadores do vinho chileno no Brasil. Quem já teve a oportunidade de visitar a Montes no Vale de Apalta não esquece da sala de barricas, que é ninada por música clássica e cantos gregorianos. O regente de toda esta orquestra é o enólogo Aurélio Montes, um dos maiores nomes da vinicultura chilena.O onipresente Montes Alpha é figura carimbada na carta das churrascarias badaladas de São Paulo e outros estados. Campeão de crítica da vinícola, o carmenère Purple Angel é outro rótulo admirado (outro belo exemplar do potencial da variedade carmenère, a propósito). Esta linha Special Cuvée vem ocupar um espaço intermediário entre o Montes Alpha (R$ 166,00) e o superpremium Montes Alpha M (R$ 715,00). O motivo: usar as uvas de vinhedos de vinhos ícones da casa. Passa 16 meses em barricas novas e de segundo uso.
Por que escolhi: Por que é uma ótima opção de um cabernet sauvignon de alta gama com boa fruta, potência, acidez e mais acessível que os tops de linha da Montes.
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Pequeñas Produciones Syrah 2015
Uva: syrah
Produtor: Casas del Bosque
Região: Vale de Casablanca
R$ 350,00
A voz do vinho: A Casas del Bosque é uma vinícola familiar criada em 1993 por proprietários de origem italiana. Os 253 hectares de vinhedos próprios em Casablanca, apenas a 18 quilômetros do mar, recebem a influência dos ventos da Costa do Pacífico e da neblina que cobre a paisagem todas as manhãs. A Casas del Bosque é reconhecida por uma ampla gama de vinhos de clima frio das variedades sauvignon blanc, riesling, pinot noir e a syrah. A vinícola recebe cerca de 500.000 turistas por mês, 40% brasileiros. A parcela de syrah é pequena, são apenas 16 hectares encravados numa pequena montanha que protege as uvas dos ventos. Dali saem as uvas tanto do Gran Reserva Syrah como deste Pequeñas Produciones. É o mesmo vinhedo. A diferença principal está no seleção das melhores uvas que vão direto para 30 barricas exclusivas. Outra parcela do vinho é selecionada entre as 300 barricas destinadas ao Gran Reserva e destinadas a completar as 8.000 garrafas do Pequenas Produciones após prova dos jovens enólogos Meinard Jan Bloem e Alberto Guolo.
Por que escolhi: Este Pequeñas Produciones mostra o grande potencial da syrah no Chile, para mim uma das grandes uvas do país. Um caldo potente e equilibrado, com fruta (amora), especiarias (pimenta negra), complementados com um toque de chocolate que vem da madeira e final longo.
Chateau los Boldos Vieilles Vignes Merlot
Uva: merlot
Produtor: Vinã Los Boldos
Região: Alto Cachapoal
R$ 238,00
A voz do vinho: A Viña Los Boldos tem um sabor da terrinha. Bom, pelo menos a origem dos proprietários é portuguesa, pois foi incorporado ao grupo português Sogrape em 2008. A linha de vinhas velhas é elaborada com uvas de vinhedos da década de 30, a colheita é manual e o caldo fica envelhecendo por 12 meses em barricas de carvalho francês.
Por que escolhi: Por que é difícil encontrar um varietal de merlot de linha mais premium. Parece que a uva foi meio que deixada de lado em sua versão solo nesta categoria superior. Frutas maduras, tostado do carvalho na medida. Bem equilibrado, final suave
380 Codigo de Familia 2012
Uvas: cabernet sauvignon (50%), malbec (19%), cabernet franc (18%), petit verdot (3%)
Produtor: Viña Aresti
Região: Vale de Curicó
R$ 600,00
A voz do vinho: É o vinho ícone da Aresti, da região menos conhecida por aqui de Curicó (apesar de ser o local escolhido pelo grupo espanhol Torres, do excepcional Mando de Velasco, para iniciar sua incursão no Chile há muitos anos). O vinho é uma homenagem aos 65 anos da empresa. O número 380 era da residência da família em Santiago. A intenção foi produzir um ícone que transmitisse o legado familiar. Esta em sua terceira safra. Passa 24 meses em barrica e seis meses em garrafa.
Por que escolhi: Um blend de respeito, com pegada bordalesa da boa mistura de uvas que indicam um trabalho cuidadoso do enólogo. Potência, estrutura e elegância, frutos maduros, boca macia, madeira integrada, final longo. Tudo que um blend pode entregar.
- Leia também – Eduardo Chadwick, a história das degustações que colocaram o vinho chileno entre os melhores do mundo
Maquis Franco 2013
Uva: cabernet franc (94%), cabernet sauvignon (6%)
Produtor: Viña Maquis
Região: Vale de Colchagua
R$ 656,00
A voz do vinho: O Maquis Franco foi elaborado para celebrar o trabalho de três gerações da família Hurtado, proprietária da vinícola. O resultado é um vinho elegante e profundo que vem de parreiras com mais de 100 anos e uvas colhidas e selecionadas manualmente. Um vinho de terroir e não de autor. Os consultores franceses Jacques e Eric Boissenot, reconhecidos em Bordeaux, apostam na longevidade do caldo e no potencial de desenvolver notas mais complexas e elegantes nas próxima duas décadas. São sabores diversos que um vinho pode proporcionar, tanto para os otimistas que apostam que estarão vivos por muitos anos como para os pragmáticos que preferem o desfrute imediato.
Por que escolhi: Na prova de dez top chilenos promovido pelo Wines of Chile foi meu vinho preferido. Concordo com a avaliação dos enólogos: elegante e profundo, cheio de camadas de fruta e aromas, toque terroso. Disclaimer: sou aficionado pela uva cabernet franc.
Viu1 2016
Uvas: malbec (96%), petit verdot (4%)
Produtor: Viu Manent
Região: Vale do Colchagua
R$ 670,00
A voz do vinho: Propriedade familiar, a Viu Manent colocou o malbec de qualidade no mapa do Chile. Aqui as uvas são provenientes do Quartel N.º 4, no vinhedo de São Carlos. A colheita é manual e de forma pontual, por parreira. O Viu1, tem edição limitada e garrafas numeradas: provei a de número 3998. O vinho tem uma legião de aficionados. Jose Miguel Viu, o proprietário, comentou que numa degustação em Salvador topou com um consumidor que tinha uma tatuagem do Viu1 no braço. Nem tanto, pessoal. Mas nem só de Malbec vive a Viu Manent. Outra boa novidade que deve chegar ao mercado em breve é a linha El Olivar, também de vinhedos únicos. Conta com os pitacos do recém-contratado consultor internacional Paul Hobbs e com a participação, claro, do enólogo-chefe da casa, Patricio Celedon. Trata-se do El Olivar Syrah 2017. Olha o syrah aí de novo! Contemporâneo, frutado e fresco. Está estupendo!
Por que escolhi: Não faria uma tatuagem do Viu 1, mas bebo com enorme prazer. O caldo de fato tem uma vibração diferente e nas últimas safras tornou-se mais elegante, mais fresco e com um incrível poder de sedução. Comparado à safra de 2011 que provei na própria vinícola há uma claro propostao de mais frescor e menos potência. Que se mantenha assim.
1 branco
Tara White Wine 1 Chardonnay 2016
Uva: chardonnay
Produtor: Viña Ventisquero
Região: Deserto de Atacama
R$ 365,00
A voz do vinho: É o vinho do deserto. O nome Tara vem de uma salina da região. Uma aventura bancada pela Ventisquero pilotada pelo enólogo Felipe Toso. As parreiras são plantadas em pé franco, sem pré-enxertos, no Vale do Huasco. A prensagem é feita com os pés. A fermentação em tanques de aço com leveduras nativas. Fica 21 meses envelhecendo também em tanques de aço. A primeira safra de 2011 teve apenas 380 garrafas para contar história. Atualmente são 5.000 garrafas e é premiadíssimo em concursos e sempre acima de 90 pontos nas pontuações por aí (para quem se importa com isso).
Por que escolhi: Por que é o vinho do deserto, e isso não é pouca coisa. É um chardonnay especial que surpreende toda vez que provo. É uma experiência gustativa. As frutas brancas (maçã verde) entram com doçura e se abrem numa mineralidade em boca e um toque salgado que é marca característica do Tara.
Todos vinhos da melhor qualidade, já provei alguns destes, muito bom, recomendo!!
Todos vinhos da melhor qualidade, recomendo!!
Excelente matéria
Obrigado, Cláudio, apareça sempre! Abraços, Beto Gerosa
Olá Beto Gerosa: Conheci o blog hoje e gostei muito, pois sou um modesto apreciador de vinho.
Dentro desse contexto, gostaria de sua opinião, ou quem sabe uma matéria, direcionada a um público degustador da bebida, mas com menor poder aquisitivo. Costumo frequentar os free shops uruguaios, onde compro vinhos tintos, a um custo máximo de até 12 dólares a garrafa, preferencialmente os chilenos.
Dentro desse universo, gostaria que você indicasse os vinhos mais honestos para degustar.
Por fim gostaria de saber sua sincera opinião sobre vinhos tintos importados que se adquire nesses free shops ao preço de 4 a 6 dólares, por serem muito escuros, se levam algum produto para tornar mais tinto, e ainda, se realmente passam pelos barris de carvalho ou esse saber é artificial, pois alguns tem um excessivo e forte gosto de madeira. Grato.
Encontrei umanhattafa de vinho concha y toro casillero del diablo sauvignon blanc reserva especial de 1987 …a gaerafa está lacrada ….tem algum valor para colecionador ou é lixo !!???
Alguém me informa??
Tenho fotos mas não tenho como mandar nesse canal
Oi José Ricardo, o Casillero Del Diablo é umvinho de muito volume, e mesmo sendo 1987 creio que não terá muito valor para colecionadores não. Além do mais um sauvigon blanc deste nível não é exatamente um vinho de guarda. Abraços Beto Gerosa