Como você escolhe o seu vinho? Você confia na opinião dos especialistas e segue a pontuação dos críticos na hora de comprar uma garrafa? Afinal são profissionais que provam mais 10.000 vinhos por ano (pelo menos é o que declaram duas das maiores estrelas da degustação, o onipresente americano Robert Parker e sua opositora inglesa Jancis Robinson)! E um vinho com, sei lá, mais de 90 pontos da crítica é um indicativo poderoso, não é?
Mas será que a opinião dos experts – que afinal baliza o mercado e até o preço dos rótulos – bate com o seu gosto? A degustação profissional é absolutamente técnica ou leva em consideração a preferência dos provadores? Se Robert Parker gosta de tintos maduros e potentes e Jancis Robinson prefere os tintos menos alcóolicos e com uma fruta mais fresca, como saber se suas notas combinam com o seu paladar? E as indicações de centenas de blogueiros – incluindo alguns palpites deste que vos escreve – e das publicações especializadas? Dá pra confiar nelas?
Dá. Apenas é preciso separar o bago da casca e colocar as coisas no seu contexto – e encontrar as indicações com maior afinidade com o seu paladar. O gosto é pessoal, mas ele também muda e pode ser moldado pela experiência. É bom lembrar também que o mundo também muda. Você que está aí do outro lado e milhões de outros usuários de redes sociais, aplicativos de vinho e blogs são protagonistas nas escolhas ao compartilhar e discutir suas preferências e escolhas.
Mas eu só quero a indicação de um bom vinho…
Claro que mesmo encontrando sua alma gêmea do vinho, não existe uma unanimidade. Nem em casa, para ser honesto. Alguns vinhos que declamo maravilhas quando tiro da minha adega e coloco na taça às vezes provocam um muxoxo na avaliação da minha mulher. Outros porém são praticamente louvados em uníssono. O crítico, ou especialista, nada mais é do que um consumidor profissional, que por conta de sua atividade, de seus conhecimentos e sua vivência tem mais elementos para julgar um produto, um alimento, uma atividade cultural. O crítico tem acesso ao mesmo produto e provavelmente consome de maneira idêntica, mas tem outras ferramentas para analisá-lo.
Mas é uma questão complicada. Os críticos são uma referência, mas aquilo que os distingue – o conhecimento – é o mesmo que pode distanciar do paladar médio dos consumidores. Um especialista em vinhos prova um oceano de tintos e brancos e não se compraz com um vinho massificado, de grande volume e sem relação com sua região. O crítico está sempre a procura de caldos que expressem um terroir específico, que contenham camadas de aromas infinitos, com a menor interferência tecnológica possível. O mesmo acontece, por exemplo, com o crítico de cinema. Ele assiste a milhares de filmes por ano e está sempre em busca de originalidade, de um roteiro inteligente, de atuações arrebatadoras; raramente consegue ter prazer naquele filme apenas correto ou no blockbuster que tem o objetivo de entreter enquanto se come pipoca. Ou seja, aquilo que os especialistas buscam no vinho – ou nos filmes – não é necessariamente o que o consumidor procura. Muitas vezes o que se quer é apenas a indicação de um vinho bom e barato para comer com a pizza, acompanhando de um filminho divertido. E a gente fica falando dos taninos…
O seu amargor é diferente do meu
Há até algumas explicações científicas que demonstram a diferença de percepção dos especialistas versus a dos consumidores do dia-a-dia. Um estudo realizado em Ontário, no Canadá, “Wine Expertise Predicts Taste Phenotype”, e publicado em março de 2012 no American Journal of Enology and Viticulture, se propôs a avaliar se especialistas e pessoas sem experiência com vinho tinham a mesma percepção ao sabor amargo. Para isso foi utilizada uma substância química inodora, o propylthiouracil, que é testada para medir a reação de uma pessoa ao gosto amargo. Em contato com a substância, participantes do teste que tinham habilidades de degustação identificaram um sabor extremamente amargo, enquanto pessoas com habilidades de degustação normais perceberam um sabor ligeiramente amargo. Ou seja, quando um crítico de vinho identifica um amargor no vinho muito provavelmente o consumidor não terá a mesma percepção, pois não está treinado para isso.
Rankings: o meu, o seu e o nosso
A outra variável é aquilo que poderia ser chamado de vinho 2.0 (apesar do desgaste do termo). As notas nas redes sociais, a indicação via aplicativos e banco de dados e a crítica dos usuários bebedores de vinho estão ajudando a construir uma avaliação coletiva, um ranking formado pela opinião compartilhada. Assim como na preparação de uma viagem é comum pesquisar tanto as informações de publicações especializadas como as avaliações de usuários para tomar uma decisão, no vinho este comportamente tende a se repetir. As notas e avaliações dos especialistas podem ser ou não referendadas e compartilhadas pelos usuários. A curadoria ainda é uma necessidade da indústria do vinho. Mas a rede permite a comparação e a análise a partir de uma massa crítica nunca antes imaginada. O que até ajuda a filtrar e desconsiderar os comentários favoráveis com interesses comerciais ou a “crítica oficial” subsidiada. A discussão é mais democrática, o profissional tem seu espaço e o amador de hoje pode formar uma legião de seguidores amanhã que o qualifique como referência.
A internet, mais uma vez, muda as regras do jogo cria um padrão digital para um mercado ancestral. Uma amostragem realmente importante que traduz o gosto do consumidores – e uma poderosa ferramenta de marketing para a indústria. Há espaço para a discussão de todas as ideias, de todos as tribos – dos defensores do vinho mais puro, do ativistas do terroir, do consumidores do custo-benefício, dos mantenedores da tradição das regiões, dos adoradores do vinho amadeirado e por aí vai.
Estamos no momento em que talvez os cardeais do paladar, ou os ditadores do gosto, como querem os mais xiitas, tenham seu poder reduzido. E você dê menos importância a eles. E olhe mais para o que seu vizinho de rede está dizendo e compare o seu paladar com o de vários usuários que tiveram a mesma experiência e também com o ranking do master of wine, sem menosprezar sua experiência, mas também sem se ajoelhar perante sua avaliação. Pode dar um bom caldo. Literalmente.
Publicado originalmente em fevereiro de 2013
Acho que essa historia de que todo mundo agora quer entender de vinhos ficou muito chata…era tao bom quando se tomava um vinho apenas pelo prazer de toma-lo sem ter que ficar ouvindo muotas explicacoes e o pior de tudo ainda tem gente que fica insistindo em dar aulas….
Eu procuro sempre diversas opiniões…tem vinhos q o RP dá 90,91 q sinceramente não daria nem 75…o q gosto de fazer é sempre diversificar…procurar coisas diferentes,como um vinho libanês (!?!?) q tomei outro dia e achei excelente (Massaya Classic Red 2008 ). Como não possuo tanto dimdim assim pra gastar, sempre procuro tintos com pontoação acima de 85 (RP,WE…) e com preço abaixo de 75 reais e compro. Mas algum dia da minha vida comprei um vinho de 500 reais “só pra ver como é”…alguma dica?
SOU APRECIADOR DE VINHO, É A MINHA BEBIDA. NÃO SIGO INDICAÇÕES, FAÇO AS MINHAS EXPERIÊNCIAS E TOMO O VINHO QUE MAIS GOSTEI. O PALADAR É UMA COISA PESSOAL. UM BOM VINHO PARA ALGUÉM, PODE NÃO SER UM BOM VINHO PARA MIM.
É claro que o gosto é pessoal, e as opiniões dos especialistas podem servir apenas como uma das referências. Eu, particularmente, tenho desconfiança dos profissionais por causa de interesses comerciais, que podem tirar a imparcialidade. Quanto `a comentarista britânica, se ela aprecia os vinhos com todo aquele batom, acho que não deve ter uma opinião muito confiável.
Um bom vinho é aqule que você toma e fica satisfeito, independente de avaliação ou não de um especialista ou do preço. É assim e pronto….tomou, gostou…
Gosto de ler sobre vinhos, mas na hora de escolher para degustar, não verifico opiniões nem pontuações, simplesmente degusto e tiro as minhas próprias conclusões.
Na minha opinião, pontuações feitas por profissionais da área são muito validadas, pois além de avaliar as características do vinho ( pois se você conhece a tipologia de uva que está dentro da garrafa saberá as características do produto antes mesmo de degustar o vinho) estão avaliando as características territoriais, métodos de vinificação, equilíbrio, qualidade do produto, etc.
Gosto não se discute, se o vinho que é bom para você, e este vinho tem equilíbrio é de qualidade, tenho certeza que vai ser bom para minha pessoa também, a não ser que seja de uma tipologia que eu não goste. Abraços