O sujeito se esforça, e depois de certo tempo acaba finalmente aprendendo um pouco sobre vinho: conhece as principais uvas, regiões, países, decora alguns rótulos e até adquire certa aptidão para identificar aromas e sabores. Jargões como terroir e tânico começam a fazer parte de seu vocabulário. Todos os mistérios dos tintos, brancos e espumantes estão desvendados, certo?
Infelizmente, não!
Agora é preciso harmonizar – ou seja, desenvolver aquela habilidade de combinar a comida do prato com o vinho na taça.
Frescura? Bom, se você coloca na balança o dinheiro investido na bebida, somado ao da refeição, e o resultado da mistura é ruim para ambos os lados, aí talvez a percepção mude um pouco.
Como tudo que envolve o vinho, este é mais um capítulo cercado de preconceitos. Ninguém condena quem torce o nariz para combinações esdrúxulas como camarão com bisteca de porco, feijoada com macarrão ou então goiabada com presunto, tudo isso regado a licor de menta no copo. Por que então o casamento entre vinho e comida também não pode ter seus princípios e recomendações?
Tudo bem, vamos combinar que não é das tarefas mais fáceis, dificultada pela quantidade enorme de rótulos e receitas. O que torna também a brincadeira mais divertida. Para isso que existem os sommeliers em restaurantes (não é só para te empurrar o vinho mais caro da carta). Mas a experiência mostra que é possível também desenvolver este talento pessoalmente. Há dois caminhos, o empírico e as indicações de especialistas e amigos. Ambos só funcionam, evidente, com sua certificação pessoal. Harmonização boa é aquela que combina, antes de tudo, com o seu gosto.
O livro dos dois “Zés” dá uma mãozinha
Na área da indicação de especialistas, há uma boa novidade nas livrarias. Dois craques do mundo vinho juntaram seus talentos e histórico degustativo para ajudar os incautos nesta tarefa. O resultado é o livro Comida e Vinho, Harmonização Essencial (José Ivan Santos e José Maria Santana, Editora Senac). Os dois “Zés” do vinho têm uma enorme folha de serviços prestados na área, o primeiro especializou-se pela Wine & Spirit Education, de Londres, e é autor de diversos livros sobre o tema, o segundo é jornalista de fino texto e contribui há muitos anos para publicações especializadas. Taí uma harmonização que deu certo!
A grande sacada do livro é facilitar a vida do leitor. Quem quiser se aprofundar um pouco mais, há detalhadas explanações de princípios e métodos de harmonização. Para quem quer ir direto ao ponto, quadros e tabelas resumem o que interessa. Qual vinho combina com que tipo de comida, organizados por tintos, brancos, rosés e espumantes e suas respectivas uvas.
Claro, não existe regra fixa. Dá tranqüilamente para desconectar as coisas. Se o vinho e a comida se estranharem – por exemplo, um linguado com espinafre orgânico e um tinto potente espanhol da Rioja -, basta intercalar um copo de água entre eles e a vida segue feliz. Mas se junto ao Rioja acompanhar um naco de picanha sangrando, ou o linguado for amparado por um fresco Chablis, que é um branco sem madeira da França, com certeza o seu índice de felicidade vai aumentar. E muito. Os vinhos e as receitas estão no mundo, só é preciso aprender.