Quando se fala em vinho sul-americano a imagem que vem à cabeça é um chileno ou um argentino, respectivamente o primeiro e segundo maiores exportadores da bebida para o Brasil, com 34,38% e 26,54% do mercado, em volume. Cabe ao Uruguai, a posição de primo pobre, com a sétima posição, com apenas 1,70% das prateleiras.
Apesar da pequena presença no imaginário do consumidor, o Brasil é um parceiro importante da indústria vinícola uruguaia: boa parte da exportação – foram 13,4 milhões de litros em 2008 – tem como destino a taça dos brasileiros. Mesmo assim, talvez você nunca tenha provado um tinto uruguaio, ou, no mínimo, não é esta sua primeira opção. Pois saiba que pode estar perdendo um ótimo parceiro para o churrasco, o tinto feito com tannat.
A tannat é uruguaia, mas não é do Uruguai
Se a malbec dança tango na Argentina e a carmenère sobe as cordilheiras do Chile, a tannat é a representante legítima deste pequeno país de apenas 176 quilômetros quadrados. 32,2% da produção das uvas viníferas são desta variedade francesa, que assim como suas primas latino-americanas encontrou em solo uruguaio sua melhor expressão. A origem é da região de Madiran, no sudeste da França. Curioso isso, algumas variedades esquálidas no velho mundo acabam mostrando sua musculatura na América do Sul. O responsável pela introdução da variedade no Uruguai foi Don Pascual Harriague, em 1870, e com seu sobrenome a uva foi chamada até a década de 80, quando foi reconhecida como a tannat francesa.
O que esperar do vinho
Um tinto da uva tannat tem como características a concentração: de cores, sabores, corpo e do tanino (daí nome), aquele elemento importantíssimo da uva que dá cor e uma sensação de adstringência na boca (pois tem a capacidade de coagular a saliva) que pode ser muito intensa ou bem trabalhada. Aí entram a qualidade do produtor e das uvas. Esta é a virtude, e o pecado, da tannat. Muita gente torce, literalmente, o nariz para a uva pois tem na memória um vinho muito adstringente. Tem muito rótulo assim por aí. Dá até para sugerir ao dentista substituir aquele sugador irritante por umas borrifadas de um tannat ordinário no tratamento. Mas quando domado, amaciado e bem elaborado, esta característica marcante da uva ressalta suas qualidades e torna este estilo de vinho uma boa alternativa para as carnes, como as parrillas, o corte uruguaio por excelência.
Tão perto e tão longe
Selecionei uma lista dos rótulos bacanas do Uruguai – aqui ordenados pelo nome dos produtores em ordem alfabética – comercializados no Brasil. Há desde vinhos de preço médio até exemplos mais salgados, ideais para quem quiser tirar o atraso e se iniciar pelos vinhos do vizinho, ou então ampliar seus horizontes. As safras no Uruguai são mais homogêneas, mas a tannat, segundo o responsável pela exportação da América do Sul e México da Bodegas Carrau, Nicolas Neme, tem se adaptado melhor aos anos pares. A conferir.
Aos vinhos, então
CARRAU- site
Juan Carrau Tannat de Reserva 2005, R$ 52,00
Uma ótima opção de preço médio, com boa intensidade, acidez e taninos macios que vai bem com o churrasco
Amat Tannat 2004, R$ 122,00
Um bom exemplo do que pode alcançar um tannat superpremium
Quem traz: Zahil
CASTILLO VIEJO – site
Catamayor Tannat Reserva de La Família 2005, R$ 62,00
Castillo Viejo tem uma enorme área de vinhedos e elabora rótulos confiáveis, como este.
Quem traz: World Wine
JUANICÓ – site
Don Pascual Tannat Roble 2006, R$ 45,00
Caprichado e típico
Quem traz: Todovino
PISANO – site
RPF (Reserva Especial da Família) Tannat 2005, R$ 61,87
Outro exemplo de como um tannat bem elaborado pode agradar e combinar com carne
Axis Mundi Tannat 2002, R$ 312,00
Um tannat na linha superpremium, surpreendente, mas um pouco pesado no bolso
Quem traz: Mistral
PIZZORNO – site
Pizzorno Don Próspero Tannat 2004, R$ 34,00
Mesmo mais simples, agradável e típico
Quem traz: Grand Cru
Não é só tannat
Eu gosto muito de vinhos de corte, que é um trabalho mais de arquitetura do enólogo que vai dosando o melhor de cada uva de determinada safra para finalizar sua alquimia. No Uruguai, os blends de tannat com cortes típicos de Bordeaux (merlot, cabernet sauvignon e cabernet franc) também são boas alternativas, geralmente mais caras, que merecem ser provadas. Dois exemplos:
CASTILLO VIEJO
El Preciado Gran Reserva 2002, R$ 150,00
(cabernet franc, merlot, tannat e cabernet sauvignon)
JUANICÓ
Prelúdio Barrel Select Lote nº 60 2004, R$ 156,00
(cabernet sauvignon, merlot e tannat)
Dois brancos
Por fim, prosseguindo na eterna catequese pela valorização do branco levada a cabo por este blog, um sauvignon blanc e um viognier, que se dão bem no clima do país. Os dois bastante frescos e aromáticos, na linha que eu mais gosto: bom e barato
CARRAU
Juan Carrau Sauvignon Blanc 2007, R$ 33,00
JUANICÓ
Don Pascual Viognier Reserve 2005, R$ 39,90
Inavi – Instituto Nacional de Vinicultura do Uruguai
Caro Flávio,
Obrigado por sua participação e pelas indicações. O Bouza eu tenho referências, é importado pela Decanter, que é uma ótima importadora. Mas eu só não citei por que nunca provei. E meu critério é só indicar os vinhos que já tenham passado pela minha taça. O Viejo H. Stagnari eu não conheço, se puder mande suas impressões sobre os dois que ficar á publicada nesse espaço para os outros leitores. abraços
Roberto Gerosa
Boa dica! Porque gostamos de um churrasquinho não é mesmo! Eu não conheço muita coisa. Tinha visto o nome “TANNAT” em garrafas de vinho SALTON. Vivendo e aprendendo. É isso! Muito boa explicaçao.
Olá. Moro em Bagé ma fronteira com o Uruguay. O vinho Harriague ainda mantém este nome para as pessoas mais antigas.
Olá RobertoSou um modesto apreciador (sem ser connaisseur) de vinhos. Como sulista (de P.Alegre, com raízes na fronteira)há muitos anos me vi picado pela mosquinha dos vinhos do Cone Sul, a ponto de estranhar, p. ex., qdo. bebo um francês. Bem, em suma, conheço um pouco dos tannats uruguaios (embora não haja bebido alguns dos que citaste), e me parece que bem poderiam integrar a tua lista, sem fazer feio, o Bouza (da Bodega Bouza) e o Viejo H. Stagnari (dos Viñedos La Caballada).Já experimentaste?Abço.Flávio Rezende Vieira
Caro Meleyo
Obrigado por sua participação e pela informação. Eu desconhecia. Esta é a vantagem de ter leitores inteligentes e bem-informados. O blog se complementa na área de comentários.
Grande Abraço
Roberto Gerosa
Caro Edson Luiz,
Obrigado por sua participao. Sim, a Salton tem um tannat varietal – isto eh feito só com esta uva – o Salton Classic, de ótimo preço, mais simples mas que resolve bem a vida. A tannat também entra no corte de seu vinho top de linha, o Salton Talento. abraços Roberto Gerosa
Gosto bastante da uva Tannat. Até pouco tempo atrás era difícil achar um bom vinho com esta uva aqui em Brasília. Mas de um ano para cá encontra-se bons representantes como o Amat. abrs
Ótimos comentários. Vou a um congresso em Montevidéu e aproveitarei para verificar localmente as dicas. Tannat acompanhando um chivito acho que será divino.Salut!
Caros Roberto, a título de informação,um outro vinho da bodega Carrau vale a pena ser citado, chama-se Arerunguá, raramente poderemos encontrar um vinhos da uva tannat tão bom em uma safra antiga,2002 e a muito bom preço.Todos podem ser adquiridos no site, http://www.invinovita.com.br , um gde abraço e parábens pela matéria.
Um bom Tannat, uma parrilla com você sendo defumado junto e o vento minuano assoviado lá fora… Perfeito!Aconselho degustá-lo assim.