Acabou mais uma Expovinis, a feira internacional de vinhos. Ufa! Dia 18, 19 e 20 de maio, no Rio e São Paulo tem outro evento, agora de uma grande importadora, a Vinci. Oba!
O esquema destes eventos é sempre parecido e pode ser resumido em uma imagem. Uma enorme oferta de garrafas das mais variadas qualidades e uvas e um único fígado para processá-las. Você prova um espumante, pula para um barolo que tinha muita curiosidade em conhecer, logo em seguida dá um gole em um riesling intenso e fino, e na próxima mesa não resiste a um Porto Tawny 40 anos e está pronto para enfrentar a próxima parada: um sauvignon blanc leve e aromático…
É isso que o bebedor mais refinado de tintos e brancos procura? Um container de vinhos, uma sequência esquizofrênica e sem comida para harmonizar?
Acho que não, né minha gente? Vai contra toda convenção estabelecida pelos enófilos mais empertigados, aquela que recomenda uma sequência apropriada de espumantes, brancos, tintos e fortificados, o consumo moderado e por fim a parceria ideal do nobre fermentado com um prato de comida. Por isso tanta gente, no intervalo entre uma e outra feira, se pergunta: vale a pena participar de um evento desses? Ficar disputando uma taça de vinho, beber de pé, só para participar de uma maratona de cabernets, chardonnays e seus agregados?
Mas as convenções estão aí para serem derrubadas. E muita gente coloca os pés, o nariz e a boca fora de uma feira agendando o próximo evento. Afinal, que outro local é possível experimentar tanta variedade por um preço fixo? Ou então provar lançamentos, conversar com enólogos e produtores e ficar sabendo que o terroir daquele Romanné Saint Vivant que você acaba de provar está a apenas 200 metros do mítico La Tache? Ou ainda, onde mais é possível comentar com o colega ao lado, que você nunca viu mais tinto, que o Bordeaux na taça lembra aromas de mirtillo sem provocar uma gargalhada no sujeito ou a pergunta: “O que raios é mirtillo?”
Eu, por exemplo, me divirto. Tento manter um roteiro. Por exemplo: ataco primeiro os brancos, ou me concentro nos brasileiros, ou mesmo só nos tintos do velho do mundo. Claro, sempre entra um contrabando no meio e, no final, o paladar fica meio confuso. Outro risco é uma derrapada a mais na dose, o que pode levar até o mais experiente degustador chamar um toscano de tokay.
Goles curtos, pensamentos longos
Nesta Expovinis 2009, por exemplo, concentrei meus goles em tintos, brancos e espumantes nacionais, algumas novidades da Austrália, do Chile e da Alemanha e arrematei o dia com um Borgonha sem importador e um instigante rosé ainda do tanque do Marco Danielle
Fiquei com boa impressão da linha Gran Reserva da Concha y Toro, em especial o cabernet sauvignon e o chardonnay (segundo os produtores ficam entre a linha Trio e Marquês da Casa Concha); do branco Virtude da Salton, fresco, madeira bem integrada, intenso; do Gamay da Miolo, que havia comentado aqui sem provar e entregou o que prometeu: descomprometido mas bem-feito (aliás recebeu elogios do produtor e negociante da Borgonha, Albéric Pichot, no dia seguinte); do espumante rosé de Santa Catarina da Cave Pericó, curiosamente elaborado com as uvas cabernet sauvignon e merlot, com bom ataque de aroma e belo frescor e finalmente do peso-pesado John Duvall, da Austrália, mais especificamente de Barossa Valley, que jogou toda sua experiência adquirida no comando da Penfolds em rótulos próprios que são de beber – e pagar – de joelhos. São eles Entity, Plexus e Eligo. Não cuspi.
O restante do tempo passei conversando, aprendendo, trocando informações. Principalmente trocando informações. O melhor das feiras é encontrar os amigos. Com uma taça na mão, claro.
Quando é a próxima feira mesmo? Nos vemos lá?
Se concentrar nos brsileiros com tanto vinho importado bom e, obviamente, bem melhor??? Haja patriotismo…
Pois é Roberto nos encontramos no estande do Marco Danielle,e pude te conhecer pessoalmente e trocamos algumas figurinhas,falamos sobre o blog(que era o Ed Motta que escrevia,e você falou sobre a sua dúvida em continuá-lo).Eu sou dos que curtem feiras,sem compromissos.Encontrar e fazer novos amigos mediante a bebida que adoramos é a minha motivação nos casos das feiras,só não vou a mais feiras por morar em Brasília e aqui não haver tantas como Rio e São Paulo.Quanto a parte técnica e harmonização eu deixo para outras ocasiões.Um abraço.
Olá Gerosa,Interessante abordagem com muita propriedade,como sempre,Parabéns!Na saída desta minha primeira visita à um evento da “vinosfera”foi a pergunta que me veio assím que peguei o taxí para voltar para casa.muito bem,honestamente fui para conhecer o Produto Nacional.também como escreve o Luiz Horta.Só que devo destacar o atendimento da Miolo,concordo contigo sobre o Gamay e ao visitar o Stand do Marco Danielle,disse que eu era seu leitor,gostaram disso e pude conhecer o Vinho dele,Gostei do que bebí.Obrigado!
Caro Roberto,Também sempre me pergunto sobre participar ou não das megadegustações. Não seria melhor juntar uns amigos, comprar belos vinhos, assar um pernil de cabrito e… Bem, mas eu não resisto. Sempre vou. No começo, experimentava de tudo. Nas últimas, estou tentando seguir uma linha: espumantes, brancos, tintos e fortificados – com muita calma, respeitando os meus limites, e sabendo que no próximo ano haverá outra… Mas como você disse, é dificil ser contido. Como resistir a grandes vinhos oferecidos pelos próprios produtores? Bem, no próximo dia 19 de maio vou para outra, da Vinci Vinhos… Quem sabe nos encontramos lá?Um abraço
Caros José Eduardo, Eugênio e Ricardo: Bacana seus comentários. Este post nasceu de uma indagação que ouço faz tempo, mas sempre verbalizada. Agora fica registrado. É o assunto – prazeroso assunto – que nos une! Mas creio que concordamos, a melhor parte é o contato com quem curte vinho. Ricardo, nenhum problema se concentrar nos nacionais. É uma oportunidade de vê-los reunidos, o que não existe em outras feiras, só isso: patriotismo é ideologia de tolos. Flavio, tomara que nos encontremos por lá. Obrigado a todos pela participação. Tim-tim!
quem é o importador dos vinhosdo John Duvall?grato. Marcos
Caro Marcos Marcondes, O John Duvall é importado pela KMM. http://www.kmmvinhos.com.br abraços