Há genéricas e preconceituosas maneiras de tratar o vinho nacional.
- Vinho nacional é caro.
- Vinho nacional é ruim.
- Beber vinho nacional é brega.
Há também tendenciosas e paternalistas maneiras de tratar o vinho nacional.
- Vinho nacional não deve nada a nenhuma região do mundo.
- Espumante nacional é melhor que champanhe francês.
- O merlot nacional é o melhor do mundo.
- Vinho nacional só é caro por conta dos impostos.
E há aquela que a meu ver é a melhor maneira de tratar o vinho nacional: como vinho. Ponto. Ele pode ser bom, ruim, caro, barato, diferente, bem feito, horrível e até o melhor do que um vinho de outro país (melhor do mundo fica um pouco difícil pois a concorrência é dura), mas ele não tem defeitos nem qualidades apenas por sua origem.
Este recorte vale para os rótulos da Aurora. A Aurora é uma cooperativa que abriga mais de 1.100 famílias, produz 50 milhões de quilos de uva e toda a classe de fermentados, de vinhos finos com indicação de procedência a vinhos de Garrafão Sangue de Boi, passando pela linha de coolers, e espumantes bem elaborados.
Além da presença em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, também elabora projetos na região de Pinto Bandeira, a segunda região demarcada a conquistar Indicação de Procedência (IP) no Brasil. Pinto Bandeira está 730 metros do nível do mar e tem se revelado um ótimo terreno para cultivo da uva tinta pinot noir e da branca chardonnay, além de espumantes interessantes e estruturados.
A Aurora tem uma proposta que justifica uma degustação desprovida de preconceitos aos seus produtos. Vale o que está na taça. E a qualidade constante de sua linha de vinhos finos e boa relação custo e benefício de alguns rótulos da cooperativa fundada em 1930 provam que é possível sim produzir vinhos de volume, com uma boa expressão de fruta, simples mas gostosos e com uma proposta de atender diversas faixas de consumidores.
O Blog do Vinho provou as safras mais recentes da Aurora e destaca os seguintes rótulos:
- Aurora Brut Chardonnay
100% chardonnay
Um espumante de respeito, longo na boca, tem um toque tostado (o vinho-base passa 3 meses em carvalho francês antes da segunda fermentação) tem boa acidez e é gastronômico.
R$ 35,00*
- Aurora Varietal Pinot Noir
100% pinot noir
Pinot noir é uma uva difícil, classuda e sempre associada a grandes rótulos. Mas pode ser também uma bebida muito leve, fresca, descompromissada, como este varietal (vinho feito com uma só uva) descomplicado e límpido.
R$ 18,00*
- Aurora Reserva Cabernet Sauvignon 2012
100% cabernet sauvignon
Não espere aquele cabernet sauvignon muito potente, quase doce que chega do Chile e Argentina. Este cabernet é um vinho correto, com boa fruta, com pequena presença de madeira, bem gostoso. Sua baixa gradação alcoólica (12,5%) torna o vinho mais versátil na gastronomia. O melhor da linha reserva, na minha minha opinião.
R$ 25,00*
- Aurora Pinto Bandeira Chardonnay 2012
100% chardonnay
Trata-se de uma aposta na qualificação da Aurora. Devidamente etiquetado com o selo de “indicação de procedência” da região de Pinto Bandeira, a safra 2012 deste chardonnay tem um upgrade em relação à safra de 2011, que achei excessiva na madeira. Aqui o caldo é mais refinado e complexo, a fruta mais fresca e ampla, a sensação untuosa e amanteigada complementa o vinho e não sobrepõe a ele. Na temperatura certa, não muito gelado, chegam os aromas legais de flores, baunilha.(O rótulo da imagem é o de 2011)
R$ 38,00*
- Aurora Pinto Bandeira Pinot Noir 2013
100% pinot noir
Aqui vale uma curiosa comparação entre a linha varietal – mais básica. Enquanto na varietal o caldo não cobra muita atenção e é até ligeiro na passagem pela boca, aqui se busca mais complexidade de aromas, maior persistência. Este pinot noir de fato chama mais atenção e apresenta características mais esperadas da uva, um toque terroso, um floral perceptível e um finalzinho de especiarias. Bem gostoso e honesto – não tenta ser um pinot noir da Borgonha, da Nova Zelândia e nem do Chile. Mas a expressão do que a região de Pinto Bandeira começa a oferecer para esta variedade. E com um bom preço. (O rótulo da imagem é o de 2012)
R$ 38,00*
- Pequenas Partilhas Cabernet Franc 2011
100% cabernet franc
Quem acompanha este blog já topou com alguma indicação deste vinho, talvez o meu preferido da linha da Aurora. Não é engarrafado em todas as safras, apenas naquelas que a uva atinge a maturação e qualidade indicadas. A cabernet franc é uma uva que amadurece mais cedo – o que é uma vantagem numa região, como Bento Gonçalves, de chuvas constantes na época da colheita.Tem uma cor bem intensa, escura. Os seis meses de passagem em barricas de carvalho francês e americano dão fortaleza aos aromas e sabor, onde se destaca uma fruta mais escura, a baunilha e uma consistência macia e agradável. Vai bem com pratos de molho de funghi. (O rótulo da imagem é o de 2009)
R$ 38,00*
- Aurora Millésime Cabernet Sauvignon 2009
100% cabernet sauvignon
Esta é a sexta safra do Millésime, também um extrato só fermentado em anos considerados de excelência. A linha premium da Aurora é, comparada aos vinhos de mais alta gama do mercado nacional, uma boa relação de preço e qualidade. Envelhecido 12 meses em barricas francesas e americanas apresenta aquele pacote todo de aromas e paladar: um chocolate, especiarias e frutas mais escuras. Um caldo mais encorpado e bem estruturado que sugere acompanhar carnes com gordura e queijos duros.
R$ 55,00*
* preços médios sugeridos ao consumidor final pela vinícola
Publicado originalmente em novembro de 2013 (preços de 2013)
Tomos vinhos de várias nacionalidades e muitos da Europa são puro marketing. Concordo com o texto e os vinhos da Aurora são bons e nada devem as muitas marcas badaladas.
Exelentes dicas, poucas pessoas conhecem as opções da Aurora, aqui em BH tenho dificuldades em achar .
Caro sr Carlos Mariani ,o sr encontra os vinhos da Vinicola Aurora nas lojas Super Nosso,Mart Plus,Verdemar,Carrefour,Walmart,extra etc,qualquer dificuldade favor entrar em contato no nosso e-mail,nós somos Representantes da Vinicola Aurora em Minas Gerais,
sem mais agradecemos a atencão.
Sem ser nacionalista, mas nessas faixas de preço dificilmente se acha algo melhor que os vinhos da Aurora. Tem que garimpar (e gastar) muito. Nunca comprei um vinho da Aurora e tive a impressão de ter pago a mais do que ele valia. Em vinhos argentinos e chilenos sob essas faixas de preços esse sentimento é corriqueiro. E até em muitos outros brasileiros.
E o Cabernet Franc deles é realmente um vinho muito bem esmerado.
Gosto muito de alguns vinhos da Vinicola Aurora, os procuro sempre para comprar e quando vou ao Sul costumo comprar umas caixas.
Os vinhos da Aurora são extremamente justos, com um ótimo custo benefício. Os Chardonnay são todos excelentes, desde o da linha varietal até o IG Pinto Bandeira. O merlot reserva também é uma excelente pedida pelo preço. realmente é muito dificil encontrar vinhos de qualquer nacionalidade com esse custo benefício!
Realmente vale o que prometem. Vinhos justos, descomplicados, e fáceis de achar.
Vale a pena experimentar !
Concordo com quase tudo, menos que o vinho nacional não seja caro. Basta checar o preço que a Miolo pratica lá fora e o que pratica aqui. Nos EUA um Lote 43 custa a metade do que aqui. Rodou todo o mecanismo (fretes, lucro do importador, do distribuidor, do lojista)… e ainda custa a metade! Por quanto saiu da vinícula?! A metade da metade?
Há tempos não bebo um Aurora, não posso julgar esses vinhos. Mas não posso deixar de pensar no que bebo no Chile pelo equivalente a R$ 40,00/R$ 50,00. Numa boa promoção, quase dá para pegar um Terrunyo a R$ 50,00. Por R$ 40,00, pega-se Tarapacá Etiquena Negra, Errazuriz Max Reserva, Cousino Macul Finnis Terrae, para ficar nestes. São vinhos mais complexos que a grande maioria dos nacionais – e provavelmente mais do que os tintos comentados aqui. E estou citando apenas o Chile. Se formos para os EUA, e falarmos apenas de vinhos americanos, fica muitíssimo mais complicado. Assim, preciso enfatizar meu ponto: vinho brasileiro é caro, sim.
Carlos A. Mores, oenochato
http://www.oenochato.blogspot.com.br/