O que bebem, como vivem, quantos são e quem são os brasileiros que têm por hábito ter a companhia um copo de vinho pelo menos uma vez por semana? Eles existem? Sim. E estão entre nós. Para tentar responder estas questões, uma pesquisa foi realizada com mais de 700 consumidores pela empresa de consultoria inglesa Wine Intelligence.
O resultado desta investigação resultou no estudo Brazil Landscapes Report 2017, lançado esta semana e comercializado pela Winext. A pesquisa, realizada entre outubro de 2014 e de 2016, se restringiu às principais capitais do país: São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília e Salvador. São 70 páginas em inglês com acesso restrito, a não ser que você desembolse 2.500 libras. Salgado, né? Mas alguém tem de pagar a conta. Não existe almoço nem vinho grátis. O estudo é destinado ao mercado, que precisa cada vez mais conhecer o perfil do seu consumidor para fazer o negócio rodar. Mas vamos aqui dar um aperitivo de alguns destaques revelados pelo estudo. Por exemplo, você sabia que:
1. O número de consumidores de vinho cresceu no Brasil, apesar de toda a crise econômica. Comparado com o ano de 2010, 8 milhões de consumidores foram incluídos no mercado. Saltou de 22 milhões para 30 milhões o número de brasileiros que consumem vinho no país tropical (boa notícia, mas pé no chão. O Brasil ainda fica em 113º lugar entre os maiores consumidores do vinho do mundo, segundo dados oficiais);
2. Os espumantes vão muito bem, obrigado, os rótulos das vinícolas Salton e Aurora tiveram excelente performance nos últimos dois anos (e que anos, senhores… Palmas para aqueles produtores que surfaram a crise e se estabeleceram)
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3. A uva tinta preferida dos brasileiros que responderam a pesquisa é a Malbec. A uva símbolo da Argentina parece que caiu no gosto do bebedor de vinho e é seguida pela Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Carmenère, nesta ordem (curioso é que o Chile, com seus cabernets, carmenères e pinots, é quem domina o mercado de importados no Brasil. Veja o ranking abaixo das importações em 2016)
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4. Entre os consumidores habituais de vinho, a cerveja é a segunda bebida alcoólica mais consumida. Pela ordem é esta a lista de preferência dos bons de copo:
1. Vinho Tinto;
2 Cerveja;
3 Vinho Branco;
4 Vodca;
5 Espumante;
6 Porto;
7 Whisky;
8 Vinho Rosé;
9 Vinho de sobremesa. (não me surpreende, não existe um Fla X Flu entre os consumidores de vinho e cerveja, eles apreciam as duas bebidas, cada uma tem sua ocasião, preço e ritual. E os produtores que chegam ao país vão continuar não entendendo por que um país de clima tropical bebe tão pouco vinho branco…)
5. Apenas 25% dos vinhos consumidos no Brasil são importados (aqui entra na conta o vinho não vinífero, de mesa, o vinho de garrafão, que é o grande volume consumido no país)
6. Os brasileiros que compram vinho com frequência continuam adeptos das prateleiras. As lojas especializadas e de conveniência perderam espaço, no entanto. O estudo não conclui, mas análises da Winext indicam que houve uma migração para os supermercados. O aumento da importação direta das grandes redes e o hábito dos brasileiros consumirem o vinho em casa são os responsáveis por esta tendência. Apesar da crescente importância dos meios digitais; de 201 4 para 2016 não houve crescimento do meio online (mas pode crer que a influência dos meios digitais na decisão da escolha do vinho é crescente e determina sim a compra de uma garrafa)
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Mercado dos vinhos importados 2016
Aqui temos uma contradição aparente. Se a Malbec é a uva preferida dos brasileiros entre os tintos, a Argentina não é a líder das importações de vinho no Brasil, tanto em volume como valor. Segundo o ranking elaborado pela International Consulting, de Adão Morellatto, o Chile é responsável por quase metade das garrafas de vinhos importadas no Brasil. Divulgado semestralmente, o ranking de 2016 reflete as variações cambiais malucas do ano passado (algo como 31%) e poucas mudanças em relação a um cenário que consolida os dois países vizinhos como principais fornecedores de vinho importado na mesa dos brasileiros. Somados eles representam mais de 60% das garrafas importadas, o que é visualmente percebido nas prateleiras dos supermercados, lojas especializadas e cartas de vinho dos restaurantes – e provavelmente na sua casa. Abaixo um resumo da sua análise:
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1º CHILE: Em 2016, representou 43,97% em valor e 47,77% em volume, se considerar somente os vinhos finos quase beira os 50% em valor. Seu crescimento foi 14,17% em valor e 17,90% em volume;
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2º ARGENTINA: Já vem em queda de 30% desde 2011, seu melhor ano e em volume retrocedeu aos patamares de 2008. Em 2016 caiu -6,81% em valor e cresceu 11,41% em volume. Contribui com aproximadamente 16% de todo o mercado. Já teve quase 30% do mercado;
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3º PORTUGAL: Seguindo sua trajetória de posicionamento, recuperou a terceira colocação, devido à queda França. Sua performance de 10,45% em valor e de 11,55% em volume, apresenta um crescimento de apenas 2,14% em volume e uma queda -9,37% em valor;
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4º FRANÇA: Tem forte dependência do Champagne na sua pauta e com a queda vertiginosa deste item no ano passado mostrou uma queda de – 32,17% em valor (quase 10.000 milhões de USD) e um leve crescimento de 1,37% em volume…e uma baixa de -27,53% no custo médio……recuou aos números de 2008.
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5º ITÁLIA: O pior desempenho entre os grandes players. Desde 2011 já vem mostrando queda. Em valor enviou valores idênticos ao de 2007 e em volume ao ano de 2006. Posicionou-se com 9,11% em valor e 9,86% em volume. Seu produto mais representativo é o Espumante tipo Prosecco com 33,52% de share.
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6º ESPANHA: Único europeu a apresentar crescimento nas duas categorias: 0,75% de valor e 19,77% em volume. Há 15 anos vem crescendo sistematicamente: 313,04% em volume desde 2006; nem mesmo o Chile conseguiu esta proeza em volume. Sua participação é de 5,56% em valor e de 5,26% em volume.
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DEMAIS PAÍSES: Participam com menos de 5% em Valor e Volume, destaque para o crescimento de 67,46% da Alemanha e 26,54% do Uruguai. Queda de -24,01 dos EUA, -43,73 da África do Sul e -21,88% da Austrália.
Como assim!!
E o Rio Grande do Sul, Porto alegre? Tomam mais vinho que muitas outras cidades pesquisadas… Em Salvador eles tomam vinho?
Uhhh…. pesquisa pra inglês ver, digo inglês ganhar $$.
De verdade você acredita que em Salvador não se bebe vinho? hahahaha santa ignorância.
Você já veio à Salvador, conhece o Brasil para além do estado em que vive?
Se ligue!!!!!!!
Se eu fosse consultado pela pesquisa o Malbec teria mais um ponto!
Regina, perdoe minha conterrânea que perguntou se se bebe vinho em Salvador. Em geral, nós gaúchos somos arrogantes, prepotentes e não enxergamos além das nossas fronteiras, infelizmente. Esse “orgulho” em ser gaúcho, me envergonha às vezes. Bom… Eu também gosto muito do Malbec e também do Tannat, Syrah, Cabernet Sauvignon… Mas não estou entre aqueles que bebem uma taça por semana. Somente no inverno. Sou fã mesmo, de cervejas artesanais. Inclusive produzo em casa.