No dia 5 de março de 2008 quarenta degustadores se reuniram na Embaixada Brasileira de Londres para uma prova às cegas de 27 vinhos da uva merlot. Dezessete garrafas eram brasileiras e outras dez representavam outras regiões do mundo. O critério de escolha foi o preço dos exemplares no mercado inglês no período, entre 15 e 45 reais.
O grupo de provadores era da maior competência, quinze deles ostentavam o diploma de Master of Wine – um titulo só concedido após exaustivos e rigorosos testes de conhecimento. Apenas 280 profissionais em todo o mundo têm este privilégio, o paranaense Dirceu Vianna Junior é um eles – e o único brasileiro. O restante do grupo era composto de jornalistas especializados, sommeliers, enólogos e negociantes do mercado inglês de vinho. A prova era parte fundamental da tese de Dirceu Vianna. Seu objetivo era responder à seguinte questão: os vinhos nacionais do Vale dos Vinhedos poderiam competir num ambiente tão disputado como o mercado inglês?
O ranking de Londres
O resultado foi muito favorável ao vinho brasileiro. Os tintos verde-amarelos ficaram à frente de rótulos conhecidos – e de valor similar em Londres – do Chile, da Itália e da França! “Foi uma surpresa”, contou Dirceu Vianna, que reside e trabalha em Londres, ao Blog do Vinho. “O meu objetivo era de que um ou talvez dois vinhos brasileiros se saíssem bem e demonstrassem o potencial da região.” A partir daí o que era para ser um estudo sobre a viabilidade do vinho nacional no mercado britânico tornou-se em peça de propaganda do merlot nacional. A associação que representa o Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul, divulgou os resultados com estardalhaço, com a seguinte pegada: “Ranking dos 10 melhores merlot do mundo tem oito vinhos brasileiros”. Curioso? Eis o ranking:
1º Miolo Merlot Terroir 2005 – Brasil
2º Thelema Merlot 2005 – África do Sul
3º Pizzato Single Vineyard Merlot 2005- Brasil
4º Vallontano Merlot Reserva 2005 – Brasil
5º Concha Y Toro Casillero del Diablo Merlot 2006 – Chile
6º Larentis Reserva Especial Merlot 2004 – Brasil
7º Don Laurindo Merlot Reserva 2005 – Brasil
8º Cavalleri Pecato Merlot Reserva 2005 – Brasil
9º Michelle Carraro Merlot 2005 – Brasil
10º Milantino Merlot Reserva 2004 – Brasil
Completam a lista os seguintes rótulos – alguns bem conhecidos do consumidor nacional
11º Capucho Merlot Ribatejo, Portugal
12º Planeta Merlot 2004, Itália
13º Montana Merlot Reserva 2005, Nova Zelândia
14º Berri States Merlot 2006, Austrália
15º Norton Barrel Select Merlot 2004, Argentina
16º Gallo Merlot 2004, Estados Unidos
17º Reserve Mouton Cadet St Émillion 2005, France
Nota: só entraram na avaliação merlots da regiões delimitada do Vale dos Vinhedos. Rótulos como por exemplo da Vinícola Salton ou da região de Santa Catarina ou de Pernambuco ficaram de fora.
Os melhores merlot do mundo?
Palmas para a evolução do vinho nacional. Mas será que esta degustação pode nos colocar no patamar dos melhores do mundo? Com a palavra Dirceu Vianna, o autor do projeto: “É legal comunicar os aspectos positivos desse estudo, pois a indústria realmente deveria orgulhar-se disso, mas por outro lado a outra metade dos produtores ficaram entre os últimos dez no ranking”. Well, o que é bom a gente mostra, o que não é a gente esconde, não é mesmo? “Comprar um vinho produzido nessa região, para quem não conhece, ainda é arriscado, pois não há consistência de um produtor a outro”, alerta Vianna.
O que o estudo conclui, e isso é muito bom, mas está longe de colocar o merlot nacional no pódio mundial, é que é “os vinhos brasileiros são capazes de competir em termos de qualidade com outros países no mercado britânico”. O estudo relativiza, porém, os resultados: “Levando-se em conta a proporção de vinhos do Brasil e do resto do mundo provados na degustação, os oito melhores colocados representam 47% do total de rótulos nacionais contra 20% de exemplares de outros países”. Vale lembrar ainda que na avaliação geral, nenhum rótulo foi considerado excepcional (outstanding) pelos degustadores. Ou seja, a qualidade geral não era de recordistas mundiais, mas de medalhistas regionais, até pelo corte de preço.
Avaliação detalhada
O fundamentado estudo de Vianna contou ainda com uma avaliação técnica da degustação que revelou tanto as qualidades como as fragilidades do produto nacional. Alguns pontos levantados pelo estudo:
1. Pelo menos quatro vinícolas produzem vinhos de boa qualidade.
2. Os vinhos foram considerados de boa estrutura, altos níveis de acidez e álcool moderado. São fáceis de beber, sem excesso de frutas, e complexidade moderada, mais semelhante a um estilo europeu do que do novo mundo. (Comentário deste Blog: O que demonstra que temos uma identidade, que merece ser respeitada pelos vinicultores…)
3. Altos níveis de acidez foram detectados na maioria dos exemplares. Em alguns casos a acidez foi avaliada como refrescante e balanceada. Na sua maioria, porém, foi considerada excessivamente elevada.
4. Na média foi apontado um mau uso da barrica, com problemas de higiene, qualidade da madeira ou ainda detectado excesso de exposição do vinho aos seus efeitos. O uso da madeira no atual estágio da viniculura nacional foi comparado ao dos vinhos da Rioja (Espanha) e de Chianti (Itália) de vinte anos atrás.
5. o estudo identificou sete pontos principais que merecem a atenção dos produtores do Vale dos Vinhedos: escurecimento precoce do vinho, falta de maturação e pouca concentração de fruta, elevados índices de acidez, problemas de manuseio de sulfito, excesso de extração e mau uso de barricas.
Por que merlot e não espumantes?
Cabe a pergunta, certo? Nossos espumantes afinal não conquistam medalhas para lá e para cá em diversos concursos internacionais? Para Vianna a decisão foi pragmática: “Haviam duas alternativas: fazer algo relacionado aos vinhos espumantes ou vinhos da variedade merlot. Como o consumidor brasileiro parece ter preferência por tintos, e também pelos benefícios à saúde, decidi seguir esse caminho.” Vale acrescentar que a merlot é a uva mais plantada entre as variedades de vitis vinifera do Vale dos Vinhedos (dados da Aprovale, 2008)
Merlot 112,5 ha
Cabernet Sauvignon 106, 3 ha
Cabernet Franc 42,2 ha
Chardonnay 31,4 ha
Riesling Itálico 26 ha
Tannat 24 ha
A escolha da merlot significa que esta é a uva com maior potencial no Brasil?
Muitos enólogos e entendidos apostam na merlot como “a uva” nacional, incluindo o consultor globalizado Michel Rolland. Mais uma vez, Vianna pondera: “Eu acho que essa resposta vai levar décadas para ser respondida com convicção”. E em seguida coloca o dedo na ferida: “Se o produtor tiver força de vontade, determinação e disciplina eu acho que é possível fazer vinhos de boa qualidade, mas eles devem diminuir o rendimento para no máximo 1.5 quilo por planta”. Vianna, no entanto, identificou dificuldades no processo após visitar grande parte dos produtores em três longas viagens ao Vale do Vinhedos. “Não é fácil mudar a mentalidade dos produtores nesse sentido”.
Noves fora?
O estudo de Dirceu Vianna traz uma ótima notícia para o vinho nacional, mas o caminho ainda é longo, exige investimentos e mudança de mentalidade. Mesmo superando rótulos conhecidos do Chile e da Argentina na tabulação final da degustação, Vianna acha difícil, por exemplo, o vinho brasileiro conseguir disputar de igual para igual o mercado internacional – e seu estudo tinha este objetivo, avaliar as possibilidades de nosso produto no mercado inglês, é sempre bom lembrar. “Tanto o Chile quanto a Argentina avançaram a passos largos nas últimas duas décadas. Um dos motivos foi a ajuda de consultores com experiência internacional. As vinícolas brasileiras deveriam seguir o exemplo – a Miolo é uma exceção. Eu não sei se é timidez, arrogância ou o fato de não querer investir, mas de qualquer forma é uma falsa economia”. A avaliação é seguida de uma previsão. Vianna não tem dúvidas: “Eu tenho certeza que o mercado de vinho no Brasil vai crescer muito nos próximos anos.”
Sou fã da Adega Cavalleri. Sei que o trabalho deles tem objetivos de excelência. Certamente trabalham em uma nova mentalidade.
Já está surgindo reconheciemnto nos seus espumantes e tinto merlot, e mesmo com o pouco tempo de empresa já tem rumo defnido.
Ótimas ponderações sobre o trabalho. Muito superior do que tudo o que foi divulgado a respeito por aí.
Dois comentários:
1) A mídia divulgou, de forma acrítica e, por vezes, maliciosa, que esse ranking seria “absoluto”, o que é negado pelo próprio autor. O simples corte de preços já é suficiente para deixar de fora os melhores vinhos da casta.
Achei vergonhosa, por exemplo, a divulgação feita pelo site Vinhos do Brasil, mantido pela Ibravin. Postar informações sem contexto, claramente desvirtuadas, além de ofensivas é um desserviço ao vinho nacional. Exagero? Leiam o blog Enolegal mantido pelo site (http://www.vinhosdobrasil.com.br/blog.php) no qual o autor diz que esse ranking é um “tapa na cara” de quem insiste em preferir o vinho importado”.
Dividir o mercado em facções – nacionalistas e defensores do importado – é um discurso pauérrimo.
2) É absurdo, mas os vinhos nacionais estão mais baratos no exterior do que no Brasil! O limite do teste foi de R$ 45 a garrafa. O Miolo Merlot Terroir custa cerca de R$ 80,00 no mercado nacional.
E agora, o que vão argumentar para justificar os preços?
Esse mesmo “fenômeno” acontece com os valore dos vinhos argentinos e chilenos: apesar do Mercosul e da proximidade, eles custam muito mais aqui do que nos EUA ou na Europa.
Pelo mesmo preço de um bom vinho nacional, compra-se um vinho de melhor qualidade argentino ou chileno.
Consumo os espumantes brasileiros, mas os espumantes argentinos estão melhorando ano a ano e competindo também em preço.
Sem preço x qualidade não teremos um mercado forte nacional, que seria a base para o aprimoramento da produção rumo a abertura de um mercado internacional.
Nós aqui da fronteira do Rio Grande,vamos à Santana do Livramento(Rivera),Quaraí(Artigas-Uruguai) ou Uruguaiana(Paso de Los Libres-Argentina) e compramos bons chilenos, argentinos e uruguaios pelo preço médio de R$ 10,00, R$ 15,00 reis,isto não existe aqui no Brasil, onde um vinho médio custa mais de R$ 20,00, R$ 30,00, o dobro do valor e qualidade equivalente ou inferior.
em relação a diferença de preços a resposta é a diferença das aliquotas tributárias.
no Brasil, vinho é considerado bebida alcoolica, pagando taxas abusivas na comercialização
sem contar todo o custo tributário que incide na cadeia produtiva, além do próprio ‘custo Brasil”.
em países como Argentina, Chile e Uruguai, o vinho é considerado um complemento alimentar, recebendo benefícios fiscais em sua cadeia produtiva.
para completar, o governo atual, tem concedido vantagens abusivas na importação, sob o manto do Mercosul, vantagens que não são conferidas para o produtor nacional quando deseja exportar para Argentina, Chile e Uruguais.
ou seja: o Brasil concede vantagens imorais para importação, mas os beneficiados não concedem as mesmas vantagens, ao contrário criam dificuldades e obstáculos.
além disso, existe muita importação com preço diferenciado, aviltando a produção brasileira, que sofre com a intervenção estatal (União e Estados Federados) que criam as tais — “pautas”,..”substituição tributária” e outros itens, para dificultar a comercialização, aumentando o preço final, em prejuízo a indústria nacional.
Quero parabenisa-lo aos grandes degustadores, deste acontecimento historico, na arte do vinho merlot. ja era tempo de termos nosso cantinho nos grandes acontecimentos sobre vinhos, e como a nossa uva merlot, considerada rainha dos melhores vinhos tinto, ja fabricado, justo ser reconhecido como o melhor merlot do mundo, parabens.
eu que morei em england e sei que ingles nao capiche um cazzo de vinho pra eles vinho bom e chiante , que eles pronunciam kiant , e depois colocarem vinhos de 15 reais ou seja 5 pounds a 45 rs ,15 pounds ja significa que aquele vinho que nao interressa se e bom pk seria vinho pra beber e encher a cara ou de estudantes vinho bom seria 40 a 60 pounds em torno de 150 reais vinhos que se compra em mercados nao em centros de venda de vinhos , que custam muito mais pois la tem vinhos com anos bons como 2003 ou 2005 ou 1999 que tbm e bom foram bons anos pra europa que esses custam muito mais mas e claro falo de vinhos merlot bons ,mas que na verdade merlot e um vinho que e mediocre e pra beber sem se preucupar se e bom ou nao pk e normalmente barato e e bebido por mulheres ou jovens entao na real eu nunca vi merlot brasileiro o unico que vi foi cabernet e por menos de 5 pounds , temos muito a aprender e as taxas na england ou em italia para vinhos e como pra cervejas e como pra bebidas alcoolicas entao se o vinho brasileiro nao vende aqui nao e pk e taxado alto e pk e ruim ,,,,,,,, mediocre e insuficiente pra combater com italianos franceses , austrlianos e sudafricanos ha e espanhois
Não entendi a Colocação do”mestre em vinhos”, o vinho é ruim mesmo, ou ele é”medíocre”, por ser bebido por -mulheres e estudantes???
Oi lú,
Leia esta reportagem sobre vinho nacional.
ESQUEÇA OS ARGENTINOS!!!
Bjao
Julio
Manoel,
O merlot brasileiro não é o melhor do mundo! Você leu o texto?
Adorei as notícias sobre nossos vinhos. Eu, minha filha e minha nora adoramos um bom merlot, embora aprovemos os chilenos também. Passaremos a degustar os listados como melhores do mundo e os divulgaremos para nossos amigos ainda sem preferência nacional.
valeu a informação.
Como brasileiro e apreciador de vinhos, fico muito feliz ao ver que vinhos nacionais fizeram bonito em uma degustação às cegas com vinhos de outros países. Mas como consumidor, os melhores vinhos nacionais ainda estão muito longe de representar uma boa compra, porque custam muito mais caro do que os congêneres de nossos vizinhos argentinos, uruguaios e chilenos. Talvez a tipicidade, incluindo o menor teor alcoólico, seja um diferencial que justifique a compra no futuro.