A economia está capenga, a indecisão do quadro eleitoral puxa os números para baixo e congelam investimentos, a greve dos caminhoneiros deu um susto nas projeções de crescimento. Mas os números do mercado de importação de vinhos surpreende mais uma vez. A taça está mais para meio cheia do que para meio vazia. Se os números já surpreenderam em 2017, com um crescimento de 32% em volume e valor, este primeiro semestre de 2018 fecha com um crescimento de 17,80%!
Os importados, apesar da enorme oferta de rótulos de diferentes regiões e países, é responsável por apenas 22% do consumo de vinho no Brasil. Entraram oficialmente pelos portos em 2018 5.313.495 caixas de doze garrafas, uma média de 28 contêineres por dia. O ranking meio que reproduz a oferta que se vê nas prateleiras de supermercados, catálogos de importadoras e sites de venda em online.
As vendas online são parte desta equação: levantamento realizado pela Consultoria Ideal e publicado em 2017 por este blog apontava um salto de 2,3% de participação das vendas online em 2003 para 13,7% em 2017. Sites de e-commerce de vinho vêm ocupando todas as faixas e estratégias, do vinho genérico do mercado europeu rotulado com nome de regiões conhecidas da França, Espanha e Itália e vendido na bacia das almas aos rótulos de marcas mais reconhecidas ou mesmo do pelotão de elite. Além da variedade de rótulos, usam e abusam das possibilidades do mundo digital inundando os consumidores de ofertas em anúncios, newsletters, SMS e presença forte em redes sociais. O conhecimento do cliente através dos perfil de compra é outra arma que a opção digital permite explorar. A Wine.com, por exemplo, contabiliza 7 mil pedidos diários que somam 11 milhões de garrafas entregues por ano. O faturamento da empresa registrou em 2017 400 milhões de reais. Para 2018, prevê um crescimento entre 550 e 600 milhões.
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Chile perde espaço, mas lidera com folga
Na Olimpíada de Baco o quadro de medalhas fica assim distribuído, sob o critério de importação:
1º lugar – Ouro – Chile
2º lugar – Prata – Portugal
3º lugar – Bronze – Argentina
Apesar de dominar com folga o primeiro lugar há vários anos, o Chile vem perdendo um naco do mercado que já chegou a quase 50% de volume. Hoje bate nos 38,9%. Mesmo assim, é muito provável que o vinho importado que você mais desarrolha em casa e nos restaurantes seja um chileno, e daquele mais barato.
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A dança das cadeiras do ranking
O perfil dos países que subiram ao pódio desde 2014 teve alguma variação importante nos segundos e terceiros lugares. Em 2014, Chile, Argentina e França dominavam o ranking de importações de vinho no Brasil. A partir de 2015, Portugal tomou o lugar dos franceses e o trio Chile, Argentina e Portugal permaneceu nesta ordem até 2016.Fruto de um esforço que envolve muito trabalho de divulgação, feiras e aproximação com o consumidor tupiniquim, os rótulos portugueses tiraram a prata da Argentina em 2017 e se mantém na segunda colocação nesta análise do primeiro semestre de 2018. Mas a briga é boa e segue quase empatada. A França, que já ocupou o terceiro lugar no ranking hoje tenta reaver a quarta posição da Itália.O Chile permanece sempre levando o ouro. Pouco provável que perca esta posição no curto e médio prazo.
O que este ranking nos mostra, do ponto de vista comercial, é que existe espaço para crescimento, alternativas de canais de distribuição (o online se destacando cada vez mais), seleção de rótulos adequados ao bolso do consumidor e uma perspectiva menos sombria diante de um Brasil que empaca na subida e desliza fácil na descida. Nada é fácil, a qualidade precisa ser contextualizada, mas os números estão aí.
Também escancara que o gosto do consumidor, sobretudo da base, se forma pelo preço, pela abrangência de distribuição e pela experimentação. Se Chile e Argentina se beneficiam com taxas mais camaradas em função do Mercosul, e com isso são mais conhecidos pelos consumidores, Portugal, mesmo com preços em euro e taxas de importação maiores, parte para uma estratégia agressiva de marketing e divulgação para conquistar este público.
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O consultor Adão Morellatto é o responsável pela análise, que produz e distribui semestralmente, traçando uma radiografia comparável do desempenho do mercado. A métrica é por volume e valor dos vinhos importados no Brasil. Este Blog vem reproduzindo suas análises há anos, pois são números confiáveis de alguém que entende do riscado.
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Você vai beber um chileno, um português ou um argentino
O relatório e avaliação do primeiro semestre de 2018 de Adão Morellato segue abaixo na íntegra
1º. CHILE: Na última análise concluída em Janeiro de 2017, comentei que havia um evidente sinal de estabilização ou então teria atingido seu ápice, pois em 2017% neste período analítico, tinha uma participação de 44,096% e agora declinou para 38,940%, houve uma queda de 0,53% de volume e cresceu apenas 4,022%, mesmo tendo os vinhos mais econômicos de todo o bloco analisado, com uma média de USD 2,94 por lt.. Segue firme na dianteira com muito vigor sobre os demais exportadores, claro que conquistado e consolidado ao longo dos Seis últimos anos. Porém cabe refletir e aguardar mais uns anos, para verificar esta tendência de queda se repetir mais adiante.
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2º. PORTUGAL: Cá estamos com um forte competidor. Já vem mostrando suas forte e agressivas campanhas desde o ano passado e agora colhe os frutos desta excelente estratégica de aportar e mostrar aos consumidores brasileiros as tão atrativas castas nativas. Seu crescimento em valor atingiu impressionantes 46,793%, pouco acima da Argentina (USD 25.415.058 contra USD 24.653.909), neste semestre têm um posicionamento garantido de 16,097% de valor e 18,973% em volume e uma ótima valoração de 23,40% nos produtos. Ainda é cedo e prematuro prever se manterá esta dinâmica, mas deve se olhar com muita atenção
3º. ARGENTINA: Em sintonia com os números, cresce 16,180% em valor e 7,490% em volume, tendo valorado seus vinhos em quase 8%. Obtém 15,615% de participação em valor, idêntico ao de 2017. Média por lt., de USD 3,52. Ao fim do ano fiscal (Dezembro) veremos com mais ênfase se recupera a Segunda posição, movimento similar ao ano de 2017, ou será ultrapassado pelo Lusitanos, algo que não acontecia desde 2002.
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4º. ITÁLIA: Mantendo sua característica de sempre estar entre os 5 principais exportadores, atua com 10,607%, mas cresce 32,727% em valor e 3,239% em volume com valoração de 28,62%, evidenciado claramente pelas características típicas de suas variedade autóctonas, assim como Portugal tem ganho espaço, mercado e visibilidade neste universo enológico. A gastronomia italiana fortemente enraizada aqui, fortalece este vínculo afetivo.
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5º. FRANÇA: Os LE BLEUS, felizardos pela conquista do Futebol, devem se alegrar pelo alta de 20,779% em valor e uma queda abrupta de 49,588% em volume, claramente responsabilizado pela valoração de 139,33% de seus vinhos neste período. Conquista 7,163% do mercado total aqui. Ao fim do ciclo de 12 meses, ao agregar o Champagne que tem uma boa presença neste segmento, poderemos ter a expectativa de subir mais uns degraus ou brigar com a Itália pela 4a posição no ranking.
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6º. ESPANHA: Também apresenta um próspero 34,600% de valor e de 11,979% em volume sobre 2017, mantém seu posicionamento em 6,234% números estes que tem vem se mantendo firme e boas condições de consolidar-se em detrimento da queda chilena.
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7º. DEMAIS PAÍSES: Contribui com menos de 5,5%, mas deve-se ressaltar a evolução positiva de 27,736% do Uruguai, 49,312% da África do Sul e 132,658% da N. Zelândia e queda de -12,402% dos EUA e -24,481% da Austrália.
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ADAO AUGUSTO A. MORELLATTO
INTERNATIONAL CONSULTING