Você curte um “concentrado proteico-gorduroso, resultante da coagulação do leite?” Lendo assim parece pouco atraente, né? Mas trata-se apenas da definição do queijo. A descrição consta do início de um livro essencial para o amantes e simpatizantes do “caseus” (queijo em latim), lançado recentemente: “Queijos do Brasil e do Mundo – Para Iniciantes e Apreciadores”, de José Osvaldo Albano do Amarante, ou simplesmente Amarante, como chamam os amigos de taça e de garfo. Para Amarante, comida e bebida são, claro, fonte de muito prazer, mas também assunto sério, muito sério. Em especial o vinho e o queijo, onde dedicação, estudo e organização harmonizam com serviço e muita informação de qualidade. Além deste manual do queijo, Amarante, que entre tantas qualidades mantém uma das mais longevas confrarias de vinho do Brasil, também é autor de outra obra de referência que frequenta minha biblioteca há anos: “Os Segredos do Vinho”. (Vale um disclaimer aqui: eu participo desta – onde sou aprendiz – e de outra confraria com o Amarante, leia aqui)
O livro, fruto das experiências e da vivência do autor no mundo dos queijos que começa na década de 1970, é uma obra de referência que pode ser lida em ordem cronológica. Mas passados os capítulos iniciais, mais enciclopédicos, talvez o leitor seja atraído para aqueles de maior interesse particular, como por exemplo, os dos queijos brasileiros. Além de dados estatísticos – você sabia que em 2013 foram produzidas 1.075 toneladas de queijo no Brasil (os fiscalizados) e que a muçarela é a campeã com 26,7% do total seguida do requeijão culinário 19,5%? –, o livro é recheado de informações curiosas, didáticas e até legais (de leis mesmo). Todo queijo nacional – de leite, cabra, ovelha e búfala – tem sua descrição quanto a características, processo, conservação e consumo.
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Prato ou Fynbo?
O queijo prato, por exemplo, aquele que vai muito bem no misto quente, surgiu em 1920 e foi desenvolvido por imigrantes dinamarqueses e é baseado no queijo Fynbo (dinamarquês) que por sua vez é espelhado no Gouda holandês e tinha o formato cilíndrico. Seu nome de guerra foi atribuído por um fiscal do Ministério da Agricultura que o descreveu como um queijo em formato de “prato” para contornar a dificuldade do nome original dinamarquês. Sua versão mais consumida, o Prato Langhe, surgiu nos anos 1960, e é fabricado em formato de pão de forma (não por acaso), mas o nome “prato” ficou. O queijo prato é classificado como um queijo semiduro de massa prensada semicozida, casca natural e maturado.
O atual momento do queijo tupiniquim, com uma grande variedade de queijos de alta qualidade, foi um dos motivos que levaram Amarante a concluir e publicar seu livro iniciado em 2007. Não é à toa que das 330 páginas do livro 100 são dedicadas aos queijos nacionais. Há muitas histórias e informações dos queijos de todas as regiões do Brasil. Amarante dá seu toque pessoal sempre listando os seus favoritos.
16 países, o mundo dos queijos
Outra forma deliciosa e didática de percorrer o livro é procurar entre os 16 países listados, os queijos mais representativos e importantes. Além dos óbvios França, Itália e Portugal, há curiosidades como Bélgica, Grécia e Noruega. Este blogueiro, que tem um conhecimento bastante raso de queijos, mas nem por isso deixa de apreciar os bons e raros, correu para a página 200 onde é descrito o queijo do Azeitão, uma maravilha de leite de ovelha que tive o prazer de experimentar em recente viagem a Portugal. O bicho, um DOP (Denominação de Origem Protegida, tem disso também nos queijos), chega à mesa envolto em papel vegetal, apresenta “uma massa semimole, amanteigada, untuosa e tem sabor muito delicado”, segundo palavras do Amarante, que assino embaixo. Se o queijo do Azeitão lembrou um Serra Estrela, acertou. Mas na minha laica opinião é melhor (e mais caro).
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O panorama mundial mostra que há queijo em todo o mundo. Os Estados Unidos, sempre eles, são o maior produtor do planeta com quase 5 mil toneladas por ano, seguido de Alemanha e França. No consumo per capita, no entanto, quem faz a fama deita na cama e a França constava em 2012 como a número 1, com um consumo per capita de 26,2 quilos por habitante, seguida de perto pela improvável Islândia, com 25,2 quilos por habitante. O Brasil do queijo de minas, do queijo prato, do requeijão e da muçarela fica na rabeira com 3,6 quilos por habitante
Queijo & Vinho
E se esta obra sobre queijos invade este espaço dedicado ao vinho é por que a combinação das duas fermentações (da uva e do leite) é clássica e saborosa. Aliás, há um tópico “Harmonização com vinhos” no capítulo de “Serviço e Consumo” para você não errar mais na sinergia do vinho com o queijo. Afinal, atire o primeiro parmesão quem nunca organizou uma reunião de queijo e vinho com os amigos! E provavelmente desarrolhou um tinto bem pesadão – acompanhado de uma tábua de queijos comprada no supermercado ou na padoca mais próxima. Com o livro do Amarante você poderá selecionar com mais propriedade os queijos para sua tábua com as sugestões da página 285 (“Tábua de queijos”). Quanto ao vinho: #FicaaDica! Ao contrário do que se pensa – e se pratica – os vinhos brancos combinam melhor com os queijos do que os tintos, já que “acidez do vinho branco associa-se perfeitamente com a do queijo”.
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A leitura Queijos do Brasil e do Mundo mostra que a pergunta que importa não é “Quem comeu o meu queijo?”, mas “Qual tipo de queijo”. O livro tem aquela pegada que responde todas as suas dúvidas sobre sobre queijos e serve tanto como um manual na hora de decidir uma compra como uma bússola para navegar pelo universo dos queijos de todo o mundo: dá norte e segurança na viagem. Tá na dúvida na escolha do próximo queijo? Seus problemas se acabaram-se!
Ficha:
Queijos do Brasil e do Mundo – Para Iniciantes e Apreciadores
José Osvaldo Albano do Amarante
Mescla Editorial
R$ 115,00
340 páginas
Por que não falaram, dos queijos mais famosos – Cammeber \ Ricota \ Goulda \ etc.
Esperava maiores detalhes. Parece que houve detalhes que não foram citados. Foi estratégia ?
Parece que deixaram de mencionar que a possoa que é dita ” como especialista” aparentemente não é ? Desculpem meus comentários !
Cordialmente
Amaro Jerônimo
Deve ser um bom Livro ; mas com este PRÊÇO , um possível comprador se abastece de Queijos por um bom tempo. Deve ser alguma brincadeira !!