Se fosse uma estatística do IBGE o rosé seria classificado como um vinho “nem-nem”: não é nem tinto nem branco. Assim como a população que não trabalha nem estuda também é jovem, alegre e descompromissado. Vinho de piscina, vinho de praia, vinho de verão (apesar de ser lançado na primavera). O rosé é um vinho deixa a vida me levar, vida leva eu. Estas definições, meio manjadas e quase impossíveis de evitar, porém carregam preconceito e injustiça com a categoria. O vinho rosé é um curinga na harmonização, uma delícia no aperitivo e apresenta variações de cores e sabores que encantam o paladar de quem busca algo mais num gole de vinho.
Combina com…
Na harmonização é eclético. É sempre recomendado para acompanhar pratos leves, saladas, entradas, embutidos, risotos, massas, cozinha japonesa (pra quem aprecia). Diante de um suculento medalhão de filé mignon grelhado no ponto exato, uma salada e um quiche de queijo num dia de muito calor. Qual vinho pode aportar frescor e ainda acompanhar a comida? Um branco vai ser esmagado pelo grelhado. Um tinto seria muito pesado. Um rosé, nessas horas, pode ter o efeito de uma miragem no deserto. Resolve, pode acreditar
Cinco diferenciais do rosé
- É um vinho para beber jovem, nada de ficar guardando na adega e esperando evolução. O melhor momento é aqui e agora. Quanto antes consumir, melhor;
- Não tem como fugir, é ideal para o verão. É um vinho que deve ser bebido bem fresco, quase gelado, em temperaturas que variam de 7º a 11º. Tira da geladeira abre e toma, sem complicações;
- Não costuma ser caro. Claro, há diferenças de preços, dependem da região, produtor etc. Mas no geral são vinhos acessíveis;
- O teor alcoólico é baixo, em torno de 12,5%, o que convida e permite encher mais taças sem culpa;
- E tem a cor, ou melhor as cores, que vão de um rosa pálido, passando por tons de casaca de cebola, salmão até um rosa mais intenso. Me repetindo aqui, o rosé tem a cor do por-do-sol, ou do nascer.
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Como é feito um rosé
A maioria dos vinhos rosés é elaborada com uvas tintas. O que dá cor pantone final de cada vinho rosé é o tempo de permanência que a casca da uva fica em contato com o líquido. Há dois métodos de elaboração:
Maceração
Como é: depois de ser prensada, a uva é mantida em contato com o líquido por um tempo que varia de seis a 24 horas. Depois dessa etapa, chamada de maceração, as demais fases da produção são semelhantes às do vinho branco, fermentado em temperaturas mais baixas
Características: de cores mais claras e sabor suave
Sangria
Como é: depois de espremidas, as uvas são colocadas num tanque para fermentação. Quando o líquido começa a fermentar, transformando o açúcar em álcool, uma parte é retirada para a elaboração do rosé. O restante se torna vinho tinto
Características: de cores e gostos mais fortes
Um rosé da Provence e dois brasileiros
Os termômetros marcam 32 graus e com viés de alta. Você está com os pés na areia, em volta da piscina, à sombra de uma árvore no campo, em um restaurante ao ar livre, no teu apartamento com o ventilador no máximo. Nós e nossas circunstâncias, né não? Abrir um rosé numa hora dessas, na temperatura correta, despejar seu líquido na taça e acompanhar suas paredes suarem tem efeito de propaganda de pasta de dente. Ahhhhh!!!! É refrescante até de olhar. Há vários rótulos de rosés disponíveis nas lojas, sites de e-commerce, supermercados e importadoras nesta época do ano. São produtores de vários países: Brasil, Chile. Argentina, Portugal (quem não se lembra do Mateus Rosé?) Itália e, claro, da França. Provei três rosés neste feriadão, dois brasileiros. Então é deles que vou falar abaixo.
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Voilà, um francês
Voilà Rosé
Região: Provence, França
Produtor:A.O.P. Côtes De Provence
Uvas: grenache (60%), cinsault (30%), carignan (10%)
R$ 90,00
Onde comprar: on line no site Voilà Rosé
Se a escolha é um rosé, a Provence, no sul da França, é a opção mais clássica e acertada. E pega bem, vamos combinar. Produzindo caldos rosados há mais de 2.500 anos, é a única região do mundo onde este tipo de vinho é a esmagadora maioria: 80% da produção é composta de rosés. É um A.O.P (Appellátion d’Origine de Provence) da Côtes de Provence. A vinha – propriedade da mesma família há mais de três séculos -, possui 20 hectares e se encontra na cidade de Correns.
Para saber mais: sobre a Côte de Provence (em inglês)
Este simpático rótulo da raposa de óculos escuros (e fácil de guardar, o pessoal do marketing manda bem), além de bem humorado tem a tipicidade da região e é fácil de beber: uma cor rosa pálido, bem clarinho, aromas gostosos de frutas, e a confirmação do sabor dos aromas na boca e acidez que dá frescura do começo ao fim. Disponível em alguns restaurantes mais descolados de São Paulo, já tem seu público cativo. Recomenda-se beber gelado. Eu tomei com pizza de muçarela feita em casa. Deu match.
A aurora é rosé
Aurora Reserva Rosé 2017
Região: Serra Gaúcha
Produtor: Vinícola Aurora
Uva: merlot
R$ 43,00
Onde comprar: principais supermercados e sites de e-commerce
Sabe aquele jargão do vinho com frutas vermelhas frescas, morango bem evidente? Taí, os jargões existem por que traduzem uma realidade. A cor é mais para casca de cebola. Um rosé que é puro frescor, um toquezinho adocicado e que desce redondo com muito prazer. Leve, despretensioso mas bem elaborado, entrega o que se espera de uma bebida refrescante e de sabor. Esta uma certa característica da linha de vinhos da Aurora que unem qualidade e preço acessível (no mesmo conceito se encontra o sempre agradável Aurora Varietal Pinot Noir, mas isso é outras história.Foi parceiro de uma burrata com presunto de parma e berinjelas grelhadas. Show, o rosé abrindo espaço para mais uma garfada da comida e que fechava o ciclo com nove gole de frescor.
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No meio do Caminho de Pedra, tinha um rosé
Vallontano Tempranillo Rosé 2018
Produtor: Vallontano
Região: Caminhos de Pedra, Vale dos Vinhedos, Brasil
Uva: tempranillo
R$ 57,00
Onde comprar: Mistral importadora
O cuidadoso enólogo Luis Zanini está sempre em busca de um estilo que une identidade e tipicidade: acidez é uma peça-chave dos seus vinhos. Para elaborar o rosé de sua casa selecionou a uva tempranillo, pouco comum em vinhos nacionais, de uma safra considerada de excelência. O mais escuro dos rosés numa escala comparativa de cores, algo como um salmão escuro. Garrafa lindona, que valoriza a cor do caldo. Vinho mais estruturado, mais fechado no início mas com uma acidez vibrante que se traduz num frescor gostoso combinado com as frutas frescas esperadas. Acompanhou um saltimboca a la romana com couve-flor gratinada num dia de calor, vento fresco e janelas abertas para um céu de tom, vamos apelar, meio rosado.
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Um rosé numa ilha deserta?
Sabe aquela velha pergunta: qual vinho você levaria para uma ilha deserta? Normalmente os conhecedores escolhem algum tinto excepcional, de safra antiga, um porto vintage, algo que tenha marcado uma existência, transformado um momento. Na vida real, sob um sol escaldante, aposto que uma garrafa refrescante, saborosa, frutada e leve de um rosé deixaria qualquer um mais feliz na tal ilha imaginária. Ok, ia ser difícil refrescar a garrafa, mas o vinho, na teoria, seria mais apropriado ao local, não é?
Mas se o rosé é tão versátil e bacana, por que ele não é mais cultuado entre os especialistas? Para ser sincero, nunca testemunhei alguém declarar que um rosé foi o vinho de sua vida. Também não diria isso. Naquele almanaque 1001 Vinhos para Beber Antes de Morrer não há um mísero rosé. Ou seja, para os autores tudo bem passar por esta vida sem provar um rosé antes do último suspiro. Não acho não, a vida é feita de camadas e momentos. E há várias oportunidades para um rosado na taça.
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O rosé, acho eu, é isso aí. Provocante, descontraído, nem melhor nem pior que os outros tipos de vinho, apenas cumpre seu papel: de uma bebida que refresca, envolve e alegra o paladar e melhora aqueles instantes que a vida merece ser curtida com leveza.