O que esperar de um vinho do Douro? “Diversidade”, resume o enólogo da Quinta da Pacheca, João Silva e Souza. A região trabalha com uma viticultura de montanha. Produz vinhos completamente diversos. A variação de altitude dos terraços onde são plantados os vinhedos, a exposição ao sol das parreiras, bem como o perfil único das uvas nativas portuguesas, explicam esta variação na região. A fim de mostrar um pouco desta diversidade aos seus clientes a importadora e e-commerce Evino acaba de incluir em seu portfólio de Produtores Renomados novos rótulos do Douro, agora da Quinta da Pacheca.
- Leia também: 14 safras do Periquita e nenhum segredo
São três vinhos que chegam ao Brasil: Raízes, Raízes Reserva e Raízes Branco. Provei os dois tintos, junto ao enólogo João Silva e Souza. Eu aqui em casa. Ele lá na Quinta da Pacheca, acompanhado do sommelier da Evino Vinícius Santiago. E um computador no meio. São estas maravilhas do novo normal digital – aliado a alguma logística de distribuição de garrafas – que permitem um enólogo em Portugal e um palpiteiro em São Paulo compartilhar o mesmo vinho e trocar impressões sobre ele.
Raízes
Os dois tintos são como dois irmãos jovens de idades diferentes. Trazem o mesmo DNA, ou seja, a região e as uvas. A diferença está na personalidade: um tem mais frescor, outro mais maturidade. As principais cepas, aquelas que formam a espinha dorsal do vinho são a touriga franca (“o que de melhor produz o Douro, pois é uma uva que não costuma madurar em demasia”, segundo João Silva e Souza) e a touriga nacional. Ajudam a compor a receita do caldo pitadas de tinta roriz e tinta cão. A diferença está no uso de madeira em um e na vinificação em tanque de inox em outro, o que resulta em concentração de frutas mais ou menos maduras e no frescor em níveis diversos entre os dois rótulos. Bora beber?
Pacheca Raízes Tinto Douro DOC 2020
Uvas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Produtor: Quinta da Pacheca
País: Portugal
Região: Douro
Importador: Evino
R$ 109,00
O Raízes cumpre seu papel de apresentar o Douro ao consumidor com bastante frescor, fruta fresca e florais no nariz (olha a touriga nacional aí dando sua contribuição) na boca se confirmam o frescor da fruta acompanhada de uma boa acidez. A maturação se passa por cubas de aço inox (60%) e madeira usadas (40%). Gastronômico, proporciona “uma experiência compensadora”, nas palavras do João Silva e Souza. Ou seja, “convida para uma outra taça”, complementa com o chavão. Foram produzidas 2.500 garrafas deste rótulo. Um tinto agradável de beber, compartilhar e acompanhar a comida – não encobre o alimento.
Pacheca Raízes Reserva Tinto Douro DOC 2018
Uvas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Produtor: Quinta da Pacheca
País: Portugal
Região: Douro
Importador: Evino
R$ 159,00
As 1300 garrafas elaboradas do Raízes Reserva têm o mesmo perfil sensorial de seu irmão mais novo, mas com um pouco mais de maturidade. Os 12 meses de madeira se fazem presente no nariz em boca, também surgem as especiarias. Se o primeiro poderia ser classificado com uma criança, este pode ser chamado de um adolescente, com mais musculatura, estrutura e com frutas mais maduras. Com comida exige a companhia de pratos mais pesados, assados, pratos com maior peso.
Desde 1738
A Quinta da Pacheca é uma vinícola do Douro com documentos que remetem ao ano de 1738, ou seja, anterior à demarcação da região pelo marquês de Pombal, que teve seu início em 1758. Como já foi escrito aqui em outros posts o Douro é a primeira região demarcada de vinho do mundo. O rótulo exclusivo da Evino destaca o marco pombalino preservado na quinta, datado de 1761.
- Leia também: Bacalhau e vinho: tinto ou branco?
A Pacheca produz 1 milhão e 700 mil garrafas anuais de vinhos que saem dos 75 hectares de vinhedos plantados à margem esquerda do Douro, na freguesia de Cambres. Três quartos das garrafas são de vinhos tintos de mesa e um quarto das uvas vai para os vinhos do Porto. Quem já teve a oportunidade de visitar o Douro sabe que além de beber história a oportunidade de provar um vinho entre seus terraços, com vista para o rio, ou mesmo cercado de barricas, transforma a prova numa experiência de beber mais que um vinho, mas um lugar. Se a combinação de pessoas, lugar e história melhoram qualquer bebida, imagine então um vinho do Douro.
- Leia também:Conheça os vários tipos de vinhos do Porto
Produtores renomados e conhecimento dos clientes
Esta linha mais exclusiva da Evino chamada de Produtores Renomados mira um consumidor que passou de nível no game dos vinhos. Funciona assim: pega-se um produtor já reconhecido no mercado e criam-se rótulos exclusivos para Evino. Pode ser o italiano Marchesi Antinori, o francês M Chapoutier, o chileno Casas del Bosque, os portugueses Antonio Maçanita e Quinta do Vallado. Atualmente são trinta e cinco vinícolas que fazem parte do portfólio Produtores Renomados. Enfim, aproveitando um sobrenome com tradição no mercado, a importadora define com o produtor o perfil do vinho que pretende oferecer aos seus potenciais consumidores. Todos ficam felizes: produtor (que amplia sua visibilidade no mercado brasileiro); importador (que aumenta seu portfólio em cima de marcas que já foram trabalhadas no país e têm algum reconhecimento) e consumidor (que pode provar vinhos com uma garantia de procedência e enriquecer sua biblioteca sensorial e gustativa sem negativar a conta bancária).
A lógica é esperta, como aliás toda estratégia da empresa que com a aquisição da Grand Cru criou um grupo que atende pelo nome de Víssimo. A Víssimo, por meio da Evino e da Grand Cru, procura atender os diversos públicos que atua usando conhecimento e análise de dados de seus consumidores em todas as plataformas possíveis: digitais ou físicas. Alguns vinhos são comercializados no online de ambas operações, outros exclusivos da Evino ou da Grand Cru. O resultado é uma operação que busca ser mais assertiva no gosto do seu cliente, respeitando a particularidade de cada nicho. Os vinhos dos Produtores Renomados, me parecem, são uma espécie de verbo de ligação entre o cliente iniciante da Evino, conquistado pela facilidade e recomendações do e-commerce, e o consumidor mais exigente das lojas e clubes de assinantes de vinho da Grand Cru. O negócio do vinho, enfim, vai se adaptando à era digital, mas sem perder a ternura das lojas físicas.