Foi como uma espécie de revival do concurso Top 10 da ExpoVinis, extinta feira internacional de vinhos de São Paulo. A 10 Star Wines (vamos ignorar a infeliz escolha dos nomes destes concursos de vinho no Brasil, ok?) elegeu os melhores vinhos da segundo edição da Wine South America. A Wine South America é um evento focado no mercado profissional de vinho que reuniu 6.600 pessoas entre os dias 25 e 27 de setembro com 300 marcas expositoras de 13 países (180 brasileiras) em Bento Gonçalves. Este palpiteiro teve a honra de participar de várias edições do Top Ten (veja links ao longo do texto) e o privilégio de ser convidado para fazer parte do time de craques deste concurso. Foi uma maratona de 90 rótulos em oito categorias de vinhos que foram girados, observados, cheirados e provados numa tarde de sexta-feira numa casa de carnes de São Paulo.
O profissionalismo e a lisura da prova seguiram as normas e padrões deste tipo de evento. Pra começar, a prova era às cegas, isto é, sem revelar o nome dos rótulos, produtor ou região. Nem mesmo após o voto dos avaliadores – só fiquei sabendo o nome dos finalistas depois de divulgado o resultado na feira. Escrevo estas mal traçadas sem saber ainda se as minhas escolhas estão entres os rótulos premiados. Assim é que funciona. Uma prova de vinhos às cegas é sempre didática. O escritor modernista Oswald de Andrade dizia que a “felicidade é a prova dos noves”; parodiando acho que a “degustação às cegas é a prova dos noves”, pois ela desafia a capacidade de avaliar um vinho usando apenas seu paladar, conhecimento e “litragem”. E muitas vezes surpreende o próprio avaliador depois de revelados os rótulos.
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Uma prova de vinhos destas, na realidade, não é um espetáculo muito bonito de se acompanhar. Trata-se talvez do maior desperdício de tintos, brancos e espumantes da face da terra. As taças são numeradas, servidas na sequência e os homens (e mulheres) que cospem vinho vão avaliando as características da bebida, colocam um tanto do líquido na boca e geralmente despejam o conteúdo num estratégico baldo colocado ao lado. É paradoxal, mas para avaliar 90 vinhos (e não cair estatelado no chão) é imperioso não tomar o vinho. E boa parte que sobra na taça escoa pelo ralo em seguida. Mesmo assim, é possível sim avaliar, pontuar ou descrever um vinho; afinal não é na garganta que a gente sente o sabor de uma bebida e sim no olfato, na boca e na língua. Se bem que tenho de confessar que aquele caldos que mais me impressionam eu bebo um tiquinho numa segunda rodada para confirmar minha impressão inicial.
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A definição dos 10 Star Wines foi estabelecida seguindo um coeficiente que definiu o número de premiados baseado claro no número de inscritos. O jornalista e editor da revista Prazeres da Mesa, Marcel Miwa, coordenou a prova que escolheu os 10 vinhos que dão nome ao prêmio, além de dois outros segmentos: menção honrosa – prêmio destaque e o rótulo com maior média geral com que também recebeu o dispensável nome de Best in Show.
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Para mim, o mais gratificante nesta maratona de Baco foi provar uma grande quantidade de vinhos brasileiros (o título do post mente só um pouquinho, pois queria destacar os vinhos nacionais), e apenas uma bateria de tinto importado. Minha percepção foi a de um ponto de equilíbrio nos tintos nacionais, com algumas exceções para cima e para baixo, uma expectativa maior que a entrega na média dos espumantes Brut, mas com boas amostras de rosés e uma ótima surpresa com os espumantes doces, do tipo moscatel. Dos vinhos premiados, alguns são meus conhecidos, outros uma novidade para mim. Juntam-se vinícolas de grande porte e alguma tradição (Salton, Valduga, Pizzato, Miolo, Garibaldi), com outras menos reconhecidas nacionalmente (Campestre, Família Lemos de Almeida, Don Afonso, Don Bonifácio). E aí está a beleza do mundo do vinho e da escolha às cegas. Pode até não ser justo, mas é genuíno.
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Os 12 vinhos do 10 Star Wines (11 nacionais)
ESPUMANTE BRUT
- Salton Gerações Azir Antonio Salton Nature (Vinícola Salton)\
Site www.salton.com.br - Ponto Nero Cult Brut Rosé (Famigila Valduga / Ponto Nero)
Site da empresa: https://loja.famigliavalduga.com.br/nero-m15/
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ESPUMANTE DOCE
- Cooperativa Garibaldi Espumante Moscatel (Cooperativa Garibaldi)
Site: https://www.vinicolagaribaldi.com.br/inicio
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VINHO BRANCO
- Zanotto Sauvignon Blanc 2019 (Vinícola Campestre)
Site: https://www.pergola.com.br - Pizzato Legno Chardonnay 2018 (Vinícola Pizzato)
Site: http://pizzato.net/
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VINHO ROSÉ
- Miolo Seleção Rosé Cabernet Sauvignon / Tempranillo 2019 (Vinícola Miolo)
Site: https://www.miolo.com.br/
VINHO TINTO BRASILEIRO
- Santa Rita Pinot Noir 2017 (Vinícola Família Lemos de Almeida)
Site: http://www.familialemosdealmeida.com.br/ - Miolo Single Vineyard Touriga Nacional 2018 (Vinícola Miolo)
Site: https://www.miolo.com.br/ - Casa Valduga Cabernet Sauvignon Villa Lobos 2012 (Famiglia Valduga / Casa Valduga)
Site: https://loja.famigliavalduga.com.br/
VINHO TINTO IMPORTADO
- Bodega Mendoza Vineyards 1907 Malbec 2018 (Bodega Mendoza Vineyards)
Site: http://mendozavineyards.com/ Leia também: Tendências do vinho argentino: brancos diferentes e vários tons de malbec de qualidade
VINHO DE SOBREMESA PRÊMIO DESTAQUE
- Don Affonso Mistela Distinto (Vinícola Don Affonso)
Site: https://www.donaffonso.com.br/
BEST IN SHOW (rótulo com maior nota média geral)
- Quinta Don Bonifácio Espumante Moscatel (Quinta Don Bonifácio)
Site: https://www.quintadonbonifacio.com.br/
Quem foram os avaliadores do 10 Star Wines: Prazeres da Mesa: Ricardo Castilho, Marcel Miwa, Alexandre Rodrigues e Alexandre Bronzatto. Blog do Vinho: Beto Gerosa. Vida Gourmet: André Prado. Sommeliers: Manoel Beato (Grupo Fasano), Juliana Carani (Ristorantino), Daniela Bravin (Sede261), Gabriel Reale (Fleming’s). Enóloga: Paula Guerra Schenato.
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